Copom diminui ritmo e corta Selic em 0,50 ponto percentual

Como já era esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) optou por diminuir o ritmo no corte dos juros. Na reunião desta quarta-feira (31/5), a taxa Selic foi reduzida em 0,5 ponto percentual, e agora está em 1

Em nota, o BC informou que, "dando prosseguimento ao processo de flexibilização da política monetária, iniciado na reunião de setembro de 2005, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 15,25% ao ano, sem viés". Desde janeiro, com o aumento dos intervalos entre as reuniões, o Copom vinha mantendo um corte de 0,75 ponto percentual. Desta vez, porém, a redução de 0,5 ponto era mais provável, em função do aumento da volatilidade no mercado financeiro — que provocou a queda em bolsas de valores no Brasil e no mundo e ainda a desvalorização do real.

 

Antes do anúncio do Copom, foi divulgada a ata da reunião do Fed (Federal Reserve, banco central norte-americano), que no último dia 10 aumentou de 4,75% ao ano para 5% ano a taxa de juros nos Estados Unidos – a 16ª elevação consecutiva. O motivo da espera era saber se esse processo de ajuste terá prosseguimento. De acordo com o documento do Fed, ainda há incerteza sobre a necessidade de um maior aperto monetário. Isso porque os mercados financeiros dos países pobres – chamados de “emergentes” -, como o do Brasil, são afetados quando os juros dos Estados Unidos sobem. Os grandes investidores preferem investir em títulos do tesouro norte-americano – considerados mais seguros.
Apesar do corte menor na reunião de hoje, essa é a menor Selic em mais de cinco anos e também é a menor taxa nesse formato. A taxa de 15,25% foi praticada pela última vez na reunião de fevereiro de 2001. Daqui para frente, o que irá determinar a continuidade desse processo é o comportamento da inflação. E a cotação do dólar tem influência sobre isso, já que os preços dos produtos, principalmente no atacado, são influenciados pela cotação da moeda norte-americana. A meta de inflação oficial é de 4,5% de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – com uma margem de tolerância de dois pontos para cima ou para baixo. 
Segundo cálculos da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), a taxa média das operações de crédito ao consumidor passará de 7,48% ao mês para 7,44% ao mês, ou de 137,65% ao ano para 136,59% ao ano. No entanto, Miguel José Ribeiro de Oliveira, economista da Anefac, acredita em uma queda maior em alguns bancos. Apesar do efeito pequeno para o consumidor, a entidade vê como positiva a rentabilidade dos títulos públicos, já que aumenta a chance dos bancos destinarem parte dos recursos aplicados em títulos para operações de crédito. Com maior volume, há uma pressão para a redução das taxas de juros ao consumidor final.
Indústria
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), mostrou, mais uma vez, seu descontentamento com relação à política monetária. "Reduções homeopáticas dos juros, que continuam os mais altos do mundo, estão minando a saúde e a resistência da economia brasileira", disse o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, em nota oficial. Segundo Skaf, nem mesmo o crescimento do PIB no último trimestre, de 3,4%, é motivo para comemoração. "Ora, de janeiro a março deste ano, o PIB da Índia registrou expansão de 9,3%. Uma das diferenças básicas na forma como as duas nações estão aproveitando a conjuntura mundial positiva é exatamente a taxa de juros, muito menor no país asiático, assim como nos demais emergentes", disse o empresário.
Antônio Correa de Lacerda, diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), a decisão do BC mostrou que "mais uma vez o conservadorismo do Copom predominou". "No cenário interno, os vetores indicam crescimento equilibrado, com redução de vários índices de preços, muitos convergindo ou caminhando abaixo da meta inflacionária. No cenário externo, temos sinais de turbulência, com realocação das carteiras em ativos mais seguros, provocando forte instabilidade no câmbio nas últimas semanas", disse. Para ele, a decisão do Copom foi a menos audaciosa e havia espaço para a redução da Selic em, pelo menos, 0,75%. "Mas o que vimos foi uma atitude de exagerada cautela por parte do Comitê de Política Monetária", afirmou.
Comércio
A Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio) considerou insuficiente a redução. "Para o resultado positivo do PIB no primeiro trimestre se repetir no segundo e configurar uma tendência de crescimento superior aos 2,5% dos últimos anos, teria sido necessário um corte menos tímido", disse o presidente da entidade, Abram Szajman. "O Copom perdeu mais uma oportunidade de contribuir para o crescimento da economia", afirmou. Na avaliação da entidade, esta seria a última chance de um corte mais agressivo na Selic, observadas as condições do cenário internacional, em particular a elevação da taxa de juros norte-americana, que desfavorecem futuras reduções até o fim do ano.
Para o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Guilherme Afif Domingos, a decisão do Copom era esperada e, "apesar de cautelosa, foi correta, levando-se em conta as perturbações do cenário financeiro internacional." Afif disse esperar que o BC continue na trajetória de redução das taxas de juros, "mas que não perca novas oportunidades para cortes mais ousados, como ocorreu no passado, se as condições se apresentarem favoráveis." O presidente da ACSP acredita que o governo poderia ajudar a criar essas condições favoráveis praticando uma política fiscal mais austera. Para a Força Sindical, segundo nota assinada pelo presidente da entidade Paulo Pereira, o Brasil está cansado dessa política de queda de juros a conta-gotas. O país não suporta mais esta letargia”, disse Pereira.
Com agências