Após protestos, tropa dos EUA mantém baixo perfil em Cabul
Dois mil soldados do governo afegão patrulhavam as ruas de Cabul na noite desta terça-feira (30), a segunda submetida a um toque de recolher. As tropas estadunidenses de ocupação estão atuando em estreita coordena&
Publicado 30/05/2006 15:30
O major Luke Knittig, porta-voz da Força de Internacional de Assistência de Segurança – composta majoritariamente por estadunidenses – disse hoje: “Estamos patrulhando, mas estamos adotando um baixo perfil, a pedido do governo”.
Explosão de revolta
O toque de recolher foi decretado depois que sete cidadãos foram mortos, na repressão às mais intensas manifestações anti-EUA desde a ocupação do país e a derrubada do governo Talibã, em 2001. Nesta terça-feira, a contagem dos mortos subiu para 11.
Durante o dia, tanques do exército do governo afegão se postaram na via que liga o centro da capital ao lugar onde irromperam as manifestações, nesta segunda-feira, depois que um veículo militar americano envolveu-se em um acidente com mortes.
“Morte à América!”
Os protestos na capital começaram depois que um soldado americano perdeu o controle do caminhão que dirigia, batendo em uma dúzia de veículos e patando pelo menos cinco afegãos. Segundo a explicação oficial, os freios do veículo “aparentemente estavam superaquecidos”.
Moradores de Cabul apedrejaram o comboio que o caminhão integrava, aos gritos de “Morte à América!”. Segundo a fonte militar dos ocupantes, isso obrigou os soldados a dar tiros de advertência. A situação se deteriorou a seguir, quando a polícia afegã também abriu fogo para defender o comboio.
Ocorreram protestos e saques no centro da cidade, carros foram incendiados, janelas quebradas e funcionários de ONGs atacados. A cidade, inchada pela guerra, tem hoje 4 milhões de habitantes. Um funcionário do Ministério da Saúde disse que pelo menos oito pessoas foram mortas durante os conflitos.
Governo acusa “agitadores”
Na manhã de hoje as ruas de Cabul estavam mais desertas do que o normal. As comunidades de refugiados residentes na cidade, muitos deles empregados em ONGs, estavam particularmente cautelosas, já que grande parte da violência voltou-se contra eles.
Os manifestantes de segunda-feira acusavam os EUA, em passeatas improvisadas rumo aos prédios da Assembléia Nacional e da embaixada americana. Hamid Karzai também foi alvo das denúncias.
Em um pronunciamento através da TV, o ptresidente respondeu chamando os manifestantes de “oportunistas e agitadores”. Disse que não se podia deixar que eles destruissem um país que ainda tentava se recuperar dos conflitos que se sucedem desde 1979.
Karzai, “o prefeito de Cabul”
Karzai venceu uma eleição realizada no fim de 2004, com mais de 50% dos votos. No entanto, sua imagem é a de um governante que deve o seu posto ao apoio dos ocupantes.
Somente nas duas últimas semanas, 350 pessoas morreram em choques no sul e no leste do Afeganistão, onde a guerrilha do Talibã ganha força. Os críticos de Karzai chamam o presidente de “prefeito de Cabul”, devido à sua incapacidade para controlar as províncias. Porém os protestos de segunda-feira mostraram que o controle sobre a capital também é frágil.
Com Al Jazira