Governo federal diz que Brasil será importante no mercado de TI

O governo federal e a Brasscom, a associação que reúne as empresas brasileiras exportadoras de software, apresentaram a conclusão de um extenso trabalho feito pela consultoria AT Kearney para avaliar as condições do mercado global de serviços de tecnologi

O levantamento compara índices de várias fontes e apresenta propostas para aumentar o poder de atração do país. Batizado de "Desenvolvimento de uma Agenda Estratégica para o Setor de IT Off-Shore Outsourcing", o estudo tem 125 páginas e compara a situação do Brasil com outros nove mercados. A relação inclui países que marcaram a primeira fase da exportação desses serviços, como o Canadá, até concorrentes mais recentes, que estão crescendo rapidamente no rastro da expansão dos contratos internacionais de serviços de TI. O principal oponente é a Índia, que se tornou um vasto celeiro de centros de produção de software sob encomenda nos últimos anos.

A primeira constatação do estudo é a de que a oportunidade está longe de se esgotar. Segundo o relatório, a estimativa é de que, entre 2004 e 2008, os gastos totais com serviços de TI vão subir de US$ 1,081 trilhão para US$ 1,233 trilhão, um crescimento de 3%. É uma evolução discreta, mas o que importa para o Brasil é que os gastos com serviços terceirizados feitos por grandes empresas em países emergentes, cujos custos são menores, vão aumentar 40% no mesmo período, saindo de US$ 18 bilhões para US$ 70 bilhões. É neste mercado que as empresas brasileiras estão de olho.

De acordo com o relatório – que além da Brasscom, envolveu os ministérios da Ciência e Tecnologia e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior -, o Brasil apresenta vantagens competitivas em várias áreas. Em relação à qualidade da infra-estrutura de telefonia, por exemplo, o país apresenta nota 6.3, atrás apenas de Cingapura e do Canadá. A qualidade na competição dos provedores de serviços de internet é a segunda mais alta entre os países pesquisados – 5.6, contra 5.7 do Canadá. O Brasil também apresenta um índice de estabilidade política superior aos demais países emergentes. Nesse quesito, a nota é 8, igual às do Canadá, da Polônia e de Cingapura, e só menor que a da República Tcheca.
Diferença
Outro índice em que o país se saiu bem foi o que de mede o risco de atentados terroristas: o Brasil ficou em um bloco intermediário, ao lado de mercados como Cingapura e Malásia, mas à frente das Filipinas, do México e da Índia. A República Tcheca mostrou-se a menos suscetível. E já que o custo é um dos principais motivos que levam as multinacionais a contratar serviços de software fora de seus países de origem, os salários pagos no Brasil também parecem competitivos, embora não sejam os mais baixos. Um programador brasileiro ganha em média US$ 13,4 mil por ano, bem menos que seu colega canadense (US$ 36, 4 mil) ou de Cingapura (US$ 33,5 mil).
Mas esta é uma faixa intermediária. A diferença em relação a países como Índia, Filipinas e China também é grande, desta vez para mais: os indianos, os profissionais mais baratos, recebem US$ 5,9 mil por ano. A despeito de suas virtudes, porém, o Brasil ainda tem muitos desafios se quiser tornar-se mais atraente que seus principais competidores. A legislação que regula as áreas de TI e comunicações aparece com uma nota 4.0, abaixo da de outros cinco países, como a Malásia (5.0) e a Índia (4.1). A carga tributária pesa no quesito custo. O país apresenta a terceira mais pesada entre os países pesquisados, com média 126.3. Só perde para a República Tcheca e a China. A Índia, o país mais bem classificado no quesito, apresenta média 79.3.

Estratégia

Segundo a AT Kearney, há outras fragilidades, como o número restrito de empresas com certificação internacional em software, parques tecnológicos com recursos limitados e a falta de identidade do país no mercado internacional de serviços de TI. No cômputo geral da consultoria, o Brasil aparece em 10º lugar numa lista de 40 países, o suficiente para garantir presença entre os mercados de alta atratividade, mas atrás de concorrentes como China, Malásia, Tailândia e Chile. O campeão entre os locais mais atrativos é a Índia. Com base no levantamento, a AT Kearney traçou uma agenda de trabalho para estimular a internacionalização da oferta brasileira de serviços de TI.
Dividida em três partes, a estratégia prevê prazos que variam de 18 meses a cinco anos para cada etapa. Para 2006, as recomendações incluem a ampliação do escopo de atuação dos parques tecnológicos e do número de empresas certificadas, além da oferta de linhas de financiamento para preencher lacunas mais críticas na oferta de serviços. A meta do projeto é colocar o Brasil entre os países detentores das cinco mais abrangentes ofertas de serviços terceirizados de TI no mundo. O foco principal é no segmento de serviços financeiros, que responde por cerca de 23% desses investimentos. A idéia é posicionar o Brasil entre os dois principais competidores na área.

As informações são do
jornal Valor Econômico