Centro-esquerda vence eleições locais na Itália

Do jornal francês Le Monde*
“Era essa a revanche dele?”, ironizou o novo primeiroministro italiano, Romano Ptrodi (centro-esquerda). O seu antecessor, Silvio Berlusconi (direita) terá que esperar pela “revanc

É verdade que Milão permaneceu com a direita, porém depois de um longo suspense. Letizia Moratti (do Força Itália), ex-ministra da educação no governo Berlusconi, tornou-se a primeira mulher a administrar a cidade lombarda, com 51,9% dos votos, contra 47% para Bruno Ferrante, ex-prefeito e seu concorrente de centro-esquerda. Em 2001, o candidato do Força Itália tinha triunfado com 57,5%. E Ferrante obteve o melhor resultado da esquerda na cidade desde 1993.
Em Roma, Turim e Nápoles, os prefeitos de centro-esquerda em fim de mandato  não tiveram nenhuma dificuldade na reeleição, já no primeiro turno.  Walter Detroni (Democradas de Esquerda, DS na sigla em italiano) foi plebiscitado pelos romanos, com 61,5%, contra 36,9%. Seu adversário, Gianni Alemanno (Aliança Nacional), ex-ministro da Agricultura, queixou-se de falta de apoio por parte de Berlusconi. Em Turim, toda a estratégia do chefe da oposição foi questionada pelo ex-ministro centrista Rocco Buttiglione, esmagado pelo prefeito Sergio Chiamparino (66,6% contra 29,4%): “As pessoas não engoliram a dramatização do enfrentamento”, disse Buttiglione.

Nápoles deixa Verlusconi "enojado"

O Cavaleiro (como Berlusconi é conhecido) empenhou-se especialmente em Nápoles, onde esperava uma vitória da direita. A confortável reeleição de Rosa Russo Iervolino (da Margarida, centro-esquerda), por 55,7% contra 39%, soa como um fiasco pessoal. Estou enojado”, confessou ele a seus íntimos, falando não só do resultado mas sobtretudo do comportamento de seus aliados, dos quais exige “um sinal forte” quanto ao referendo sobre a reforma constitucional, dia 25 de junho. Il Giornale, o diário da família Berlusconi, comenta que “o que sai das urnas é uma coalizão por refazer” (referindo-se à frente direitista, Casa das Liberdades).
Silvio Berlusconi tenta impor um clima de campanha eleitoral permanente, para deslegitimar a pequena maioria obtida pela centro-esquerda. Neste clima, a consulta às urnas, menos de dois meses depois das eleições legislativas, não mobilizou o eleitorado: a participação foi de 71,2% para as municipais, 59,6% para as provinciais e 59,2% para o escritínio regional na Sicília. A abstenção prejudicou a direita? Das 23 capitais, a  esquerda ganhou 14, contra quatro para a direita e cinco que vão para o segundo turno. Em 2001, o escore foi de 12 a 11. Nas oito províncias onde houve eleição, a centro-esquerda progrediu para cinco governos, dois deles arrrebatados da direita – Lucques e Reggio-Calábria.

Na Sicília, o poder da Máfia

A Sicília, onde ocorreram eleições regionais, confirmou sua vocação de reduto do centro e da direita. O presidente regional em fim de mandato, Toto Cuffaro, da UDC (herdeiro da Democracia Cristã, que sempre teve na ilha um feudo seu), reelegeu-se com 52,2% dos votos, contra 42,9% para Rita Borsellino, a representante do centro-esquerda, irmã do juiz anti-Máfia Paolo Borsellino, assassinado em julho de 2002.
Nas últimas semanas, o duelo entre eles adquiriu proporções simbólicas. De um lado, o poderoso aliado de Berlusconi, adepto de uma política à moda antiga, feita de clientelismo e de uma rede de relações que lhe valeu um processo por “favores prestados à Máfia”. Do outro, Rita, ex-farmacêutica, tímida, que entrou na política para devolver “ética e dignidade” à Sicília, em completa ruptura com o modelo político-social em vigor.
“Nós progredimos, eles declinam”, analisou Rita Borsellino, diante dos resultados. Seu coordenador de campanha, Alfio Foti, agregou: “O sistema clientelista-mafioso ainda é muito possante, porém um lento e contínuo processo de liberalização já está em marcha”.
Fonte: Le Monde,
edição de 31/5/06;

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