Lula defende compromisso sobre protecionismo agrícola
É preciso criar um "triângulo de compromisso" entre a União Européia, o G-20 (grupo de 20 países em desenvolvimento) e os Estados Unidos para resolver as questões relacionadas a produtos agrícolas na Organizaç&a
Publicado 29/05/2006 15:30
Fara Monteiro: Olá, você em todo o Brasil. Eu sou Luiz Fara Monteiro, e começa o Café com o Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. Tudo bem, presidente?
Presidente Lula: Tudo bem, Luiz.
Luiz Fara Monteiro: Presidente, desde que o senhor assumiu o mandato, o senhor tem se preocupado muito com o comércio internacional. Semana passada, o senhor recebeu aqui em Brasília o presidente Jacques Chirac, da França. Vocês conversaram sobre a OMC, Organização Mundial do Comércio, que é o órgão que regula o comércio internacional. A questão mais polêmica envolve a comercialização de produtos agrícolas, presidente. Tem como sair um acordo nessa área?
Lula: Luiz, primeiro eu quero cumprimentar os nossos ouvintes e dizer ao povo brasileiro, que está nos ouvindo, que nós estamos trabalhando para tentar convencer a União Européia de que, se cada grupo assumir um pouco de responsabilidade, nós poderemos fazer um acordo até o mês de julho. A coisa está mal parada. Se não houver um acordo, eu acho que haverá um retrocesso muito grande. Os países pobres continuarão ficando mais pobres. E o que nós queremos? O que nós queremos é fazer um acordo em que cada um faça uma pequena concessão. Por exemplo, a União Européia tem que flexibilizar no acesso ao mercado agrícola para os países em desenvolvimento e para os países mais pobres. Os Estados Unidos têm que cumprir a sua parte, reduzindo a quantidade de subsídios, que é muito forte na agricultura americana. E o que eles querem do G 20 [grupo de 20 países em desenvolvimento], do Brasil, do México e da Índia? Que a gente também faça uma flexibilização nos bens industriais. Ora, então é um triângulo de compromisso, ou seja, a Europa tem que abrir acesso ao mercado agrícola, os Estados Unidos têm que diminuir os subsídios e nós temos que permitir acesso a bens industriais e serviços. E nós temos dito – não só ao presidente Chirac, mas eu disse ao Tony Blair, disse à primeira-ministra Angela Merkel, da Alemanha – que o Brasil está disposto a fazer a sua [parte], está disposto a conversar com o G 20 para fazer a sua parte; a Europa tem que fazer a sua parte e os Estados Unidos têm que fazer a sua parte.
Luiz Fara Monteiro: Você está acompanhado o Café com o Presidente, hoje falando sobre o comércio mundial. A gente percebe que o senhor acredita que a época dos discursos já passaram, agora é época de agir efetivamente, é isso?
Lula: A fase das negociações técnicas em que os nossos ministros da Relações Exteriores negociaram, em que os nossos especialistas negociaram, está chegando ao fim sem acordo. Então agora é a hora da decisão política. E a decisão política toma quem tem mandato para tomar, que somos nós, os presidentes da República dos países, os primeiros-ministros. Eu acho que nós temos que trazer para o fórum político e tomar uma decisão: se queremos ou não queremos dar uma certa guinada no mundo para melhorar a posição dos países pobres, para diminuir a violência, para diminuir a pobreza, para diminuir o terrorismo e para aumentar a riqueza desses países. Então, o que eu tenho dito, nós vamos ter uma reunião em julho, em São Petersburgo, do G 8 [grupo que reúne os sete países mais ricos do mundo e a Rússia] com alguns convidados. O Brasil está convidado. Em algum momento, embora o presidente Putin, da Rússia, não seja da OMC, em algum momento eu disse para eles: olha, eu estou disposto a parar em Paris, eu estou disposto a ir a Berlim, eu estou disposto a ir a qualquer lugar para ver se nós apresentamos ao mundo um alento. Para ver se nós apresentamos ao mundo uma esperança. Agora, está na hora da decisão política. Nós temos que decidir, Luiz, que planeta Terra nós queremos daqui a 20 ou 30 anos. Se não fizermos um acordo vai significar um retrocesso muito grande. E, quando eu falo isso, eu não estou reivindicando só ganhos para o Brasil, porque o Brasil já tem uma agricultura competitiva. Nós estudamos, temos tecnologia, temos capacidade produtiva, temos terra, temos sol, ou seja, nós temos uma situação muito importante de disputa na agricultura. Eu falo muito mais pelos países mais pobres. Por exemplo, tem países da África que só têm o algodão para exportar. Se os Estados Unidos ficam dando subsídio para o algodão, essa pessoa não vai conseguir exportar o seu algodão. Então, é olhando para o mais pobre que nós temos que fazer negócio. Sabe, nós não queremos prejudicar ninguém. Nós apenas queremos dar uma nova cara para a geografia comercial do mundo. É por isso que o Brasil briga, e essa foi uma conversa intensa que eu tive com o presidente Chirac. E ponderei a ele, sabe, que fizesse um esforço para que nós pudéssemos acertar até o mês de julho. Vamos ver. Como eu sou muito otimista, eu acredito que seja possível fazer um acordo.
Luiz Fara Monteiro: Presidente, a gente está gravando aqui, domingo de manhã, e o senhor está vestido com a camisa da seleção brasileira. O senhor conversou com o Jacques Chirac sobre a possibilidade de Brasil e França irem para a final da Copa. O senhor acredita mesmo que vai dar Brasil e França na final?
Lula: Não. Veja, todo presidente que eu encontro quer que o time dele jogue a final com o Brasil. Todo mundo já dá de barato que o Brasil vai para a final. Eu acho que o Brasil tem todas as condições de ir para a final, mas é preciso muita humildade, muita vontade porque Copa do Mundo é Copa do Mundo. Ninguém ganha Copa do Mundo antes. É preciso muita garra. Nós temos os melhores jogadores. O Parreira conseguiu escolher aquilo que a gente tem de melhor. Não há nenhuma restrição aos nomes que ele convocou, e agora precisa jogar. Eu acredito que o Brasil vá para a final. Eu disse ao Jacques Chirac que é importante que o Brasil vá para final com a França e que o Brasil dê o troco do que aconteceu conosco em 98. De qualquer forma, o Brasil pode ir para a final. O Brasil está bem, tem os melhores jogadores. Muitos deles jogarão a última copa, portanto, eles sabem o que significa para a vida deles. Nós temos que fazer o que nós sabemos fazer: jogar futebol. Dar um show, e aí a gente pode voltar com a taça.
Luiz Fara Monteiro: Está certo, presidente. Obrigado e até segunda-feira que vem.
Lula: Até segunda-feira, Luiz.
Luiz Fara Monteiro: A gente volta semana que vem. Um abraço para você e até lá.
Com Rádio Nacional