Colômbia: presidente é reeleito e esquerda tem resultado histórico
A prevista reeleição do presidente Álvaro Uribe e a inesperada votação história da esquerda foram o destaque dessa eleição geral realizada domingo na Colômbia, em um ambiente de normalidade e com um elevado
Publicado 29/05/2006 10:57
Apurados mais de 99% dos votos, Uribe obteve mais de 62% dos votos, o que equivale a pouco mais de 7,36 milhões, a maior quantidade conseguida por um presidente no país.
Mais de 2,6 milhões de colombianos (cerca de 22%) apoiaram o PDA, fato que rompe definitivamente com a tradicional rivalidade política colombiana entre liberais e conservadores.
Até o século passado a Colômbia foi governada de maneira alternada entre liberais e conservadores. Uribe iniciou o fim dessa bipolaridade em 2002, o que pesou na eleição de ontem. Estes partidos ficaram bastante isolados: os liberais ocuparam o terceiro lugar, com cerca de 12%; e os conservadores decidiram apoiar a reeleição de Uribe, que hoje é visto como mais próximo deles do que do liberalismo que abandonou há cinco anos.
“Segurança Democrática”
Durante o discurso de vitória e diante de centenas de militantes, Uribe ratificou que seu programa continuará se baseando na Segurança Democrática (guerra total contra todo tipo de oposição). O presidente aproveitou para ratificar o cumprimento de seus compromissos de campanha, como a criação de um Banco de Oportunidades para os colombianos com menos recursos. Também prometeu duplicar a cobertura de saúde para as camadas mais pobres, gerar também uma cobertura total para a educação básica, e subir para um milhão e meio o número de famílias atingidas, plano que incentiva que as mães enviem seus filhos às escolas.
Ao contrário do que se esperava, o presidente não mencionou a sua proposta de campanha para convocar as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) para uma negociação da paz. Mas Uribe garantiu que se o grupo insurgente o rechaçar, endurecerá sua ação militar contra a organização. Precisamente, a Segurança Democrática se traduz na guerra contra as Farc, que há quatro anos Uribe iniciou dizendo que derrotaria em 18 meses, o que obviamente ainda não aconteceu.
É neste ponto que está radicada sua aliança com o governo dos Estados Unidos de George W. Bush, que investe bilhões de dólares por ano – através do Plano Colômbia – com a justificativa de combater o terrorismo e o narcotráfico. Essa tática faz com que o presidente reeleito seja o principal aliado dos EUA na América do Sul, destoando do movimento pela integração dos países.
Uribe também já assinou o famigerado tratado de livre comércio (TLC), o que gerou a instabilidade das negociações na Comunidade Andina de Nações (CAN) – formada por Venezuela, Bolívia, Colômbia, Peru e Equador. O presidente venezuelano Hugo Chávez decidiu pela sua retirada do grupo enquanto Evo Morales, presidente boliviano, insiste na reconstrução e na mudança da linha política então comum aos países, a partir da anulação dos acordos colombiano e peruano com os EUA.
Por isso, Uribe aproveitou o momento para adiantar que irá procurar estreitar as relações e os acordos comerciais, em especial com as nações latino-americanas. Segundo ele, a Colômbia tem claro que esse é o caminho que deve ser seguido. “Ao consolidar o tratado de livre comércio (TLC) com os EUA, também queremos avançar para que o tratado que assinamos, e que associado à Comunidade Andina (CAN) e ao Mercosul, uma a mais dos povos andinos com todos os povos sul-americanos”, disse falaciosamente.
Repercussão
Depois da vitória histórica, Gaviria também discursou e destacou a massiva votação obtida pela esquerda colombiana. Para ele, há espaço para uma vitória nas eleições gerais de 2010. O candidato apoiado pelo Partido Comunista Colombiano assegurou que não se sente derrotado e pediu que a frente consolide a vitória alcançada nas urnas.
Já Serpa fustigou duramente Uribe ao reafirmar que seu governo foi um grande fracasso no cumprimento dos programas sociais com o povo colombiano. “Não posso deixar de dizer ao presidente vitorioso, parafraseando a famosa sentença de Miguel de Unamuno quando as forças falangistas tomaram a histórica Universidade de Salamanca: venceu, mas não convenceu”, provocou.
Da Redação
Mônica Simioni
Com agências.