Lideranças pedem paz em ato contra a violência em São Paulo

PCdoB, PT, PSB e diversas entidades populares promoveram, na noite desta quinta–feira (25/05), o Ato em Defesa da Segurança da População e dos Trabalhadores. O evento foi realizado no auditório Franco Montoro, da Assemblé

Entre os participantes, estavam os deputados Jamil Murad e Nivaldo Santana, do PCdoB de São Paulo, Ítalo Cardoso, Adriano Diogo e José Zico Prado, do PT, além dos presidentes da CUT-SP, Edílson de Paula, e do Sintratel, Marcos Emílio, que fez a mediação do debate.

Os organizadores propuseram a realização de um documento e de manifestações de rua no próximo dia 28, domingo, com a participação de diversos setores da sociedade.

Nivaldo Santana abriu a discussão dizendo que é preciso avançar na elaboração de políticas públicas que possibilitem a inclusão social, geração de emprego, com distribuição de renda e resgatem a dignidade das pessoas. Para ele, é preciso unificar as polícias civil e militar e investigar a ação dos policiais nas periferias, identificando se houve excessos e morte de inocentes.

Essa opinião foi compartilhada pelo deputado petista Ítalo Cardoso, que acusou o governo tucano de permitir que o crime organizado fincasse raízes do Estado — e a polícia de ter agido de forma indiscriminada em suas ações que culminaram na morte de dezenas de pessoas, inclusive de inocentes.

A violência é fruto do descaso dos últimos governos, especialmente do PSDB, que apostaram no estado mínimo e sem capacidade de intervenção. Os tucanos ainda discriminaram os movimentos sociais e suas reivindicações. Essa foi a opinião do deputado estadual José Zico Prado, do PT-SP, e de Veruska Carvalho, representante da Facesp. Ela denunciou a falência de sistemas como a Febem e o sistema carcerário do Estado e cobrou mais investimentos em moradia e educação. “Temos responsabilidades no período eleitoral que se aproxima”, disse.

Já o presidente da CUT-SP, Edílson de Paula, diz que há dois projetos para São Paulo e que cabe à população decidir. Júlia Roland, presidente do Comitê Municipal do PCdoB da capital,  acredita na construção de um pensamento avançado como forma de combater conflitos sociais, e  resgatar a dignidade da população. “A violência só prospera num ambiente de desigualdades sociais”.

Por Patrícia Nascimento,
de São Paulo

Confira a nota pública das entidades que foi lida durante o ato.

O povo de São Paulo vivenciou recentemente, num misto de medo e revolta, a onda de violência que paralisou nosso estado. Em praticamente três dias ocorreram mais de 300 ataques, 174 mortes e 82 rebeliões em penitenciárias e cadeias de todo o estado.

A crise trouxe à tona a força e a violência com que o crime organizado afronta a sociedade e o Estado de Direito. Revelou que, nos últimos anos, ao contrário do que diziam as autoridades paulistas, a maior facção criminosa do estado cresceu, organizou-se e ampliou sua ação dentro e fora do sistema prisional.

De outro lado, evidenciou-se o fracasso da política de segurança pública implementada em São Paulo pelo ex-governador Geraldo Alckmin. Não esteve à altura de reprimir a facção criminosa e impedi-la de continuar no comando de ações dentro e fora dos presídios, não conseguiu evitar que os próprios policiais fossem vítimas de ataques covardes. No desfecho da crise, as informações apontaram para a existência de um acordo com os líderes do movimento para o fim dos ataques e rebeliões. Logo em seguida, as notícias de que dezenas de vítimas podem ter sido assassinadas em ações policiais ou de grupos de extermínio, sem que tivessem ligação com o crime organizado.

Embora a onda de violência tenha alcançado todos os paulistas, foram os trabalhadores e os moradores das áreas mais pobres e periféricas, jovens e negros os mais atingidos. Na capital, com a retirada dos ônibus de circulação pelas empresas, milhões de pessoas tiveram dificuldades de retornar às suas casas. Nos confrontos entre a polícia e os criminosos, no caso dos ônibus incendiados, é na periferia que se instala o clima de terror e perseguição.

Diante deste quadro, as entidades que se reuniram neste ato conclamam:

1- Pela completa reformulação da política de Segurança Pública estadual, com progressiva unificação das Polícias e do serviços de inteligência, valorização profissional dos policiais, investimentos nas áreas técnicas e de inteligência e articulação entre as forças de segurança nacionais;

2 – Por imediata divulgação da lista de nomes das pessoas mortas e todos os documentos e informações que esclareçam as circunstâncias em que ocorreram; apuração e punição de todos os envolvidos em ações onde se constate abuso de autoridade ou ação de grupos de extermínio;

3 –  Por mais investimentos nas ações sociais e políticas públicas voltadas para a educação, moradia, geração de empregos, cultura e esporte para a juventude, bem como medidas que visem a diminuição da enorme desigualdade  que impera no nosso país, segregando socialmente a população;

4 – Pelo esforço conjunto de toda a sociedade, envolvendo os poderes executivo, legislativo e judiciário, em todos os níveis, para que promovam de forma rápida o enfrentamento de todas as questões relacionadas com o tema da Segurança Pública com o sentido de garantir a soberania popular e o Estado de Direito.

Por fim, manifestamos nossa total solidariedade às famílias das vítimas dos ataques criminosos, somando-nos a todos aqueles que lutam a favor de uma sociedade de paz,  justiça social e solidariedade.

São Paulo, 25 de maio de 2006