Equador: três lições sobre a Oxy e o TLC
Publicado 25/05/2006 16:09
Primeira lição
O setor empresarial do Equador evidenciou uma natureza distorcida de ser como ator econômico fundamental do desenvolvimento, pois se contrapõe aos interesses de uma empresa estrangeira aos do país; se posicionou do lado obscuro da lei e revelou seu caráter anti-nacional, privilegiando com mesquinhez a possibilidade de fazer negócios particulares ao invés de olhar estrategicamente um Equador decente para todos.
A vergonha do país no contexto internacional é a de constatar como o denominado setor produtivo reage contra o Estado e o governo com tal virulência como força de choque da própria transnacional Oxy e o governo dos EUA, quando todos esperaríamos propostas efetivas e de cooparticipação em operar o que foi deixado pela petrolífera em função das utilidades efetivas para seu país, o Equador.
Os apontamentos a respeito do espanto dos investidores estrangeiros e a conseqüente onda de desemprego pela ausência de investimentos que sem a Oxy e o TLC esperariam o país, são relativos. O Equador está aberto ao capital estrangeiro há décadas e não obstante tem melhorado as taxas de emprego, nem a qualidade de vida, pior a competitividade empresarial.
Se no Equador existisse um setor empresarial efetivo, então não migrariam milhares de pessoas por mês em busca de melhores condições salariais e horizontes de vida, tampouco tivemos índices de pobreza entre 60% e 70% da população, pior ainda o país não ocuparia os postos mais baixos a nível latino-americano em competitividade. E se contássemos com um governo conseqüente, não teríamos perdido dois anos negociando sem fazer nada para preparar o país para entrar no mercado global favoravelmente.
Visto assim, o setor empresarial como ator base do desenvolvimento no Equador é um mito, da mesma forma que o investimento estrangeiro, pois as estatísticas nos dizem que o país se move a base de três setores: o petróleo, as remessas dos refugiados econômicos por exclusão do aparato produtivo nacional e por centenas de milhares de micro e pequenos empresários e produtores, não pelos negócios que fazem as Câmaras de Quito e Guayaquil.
Segunda lição
O melhor aliado do país e seu maior sócio comercial, os EUA, têm uma posição clara, firme, taxante: se os interesses de suas empresas são afetados, em qualquer contexto, condição ou situação, não há sócio, argumento jurídico ou soberania válida. Por isso, aquele pretexto de “sócios estratégicos” fica serve de discurso para a subserviência e esconde a incapacidade local para remontar o subdesenvolvimento crônico com esforço próprio.
Mas para os EUA, como já disse Colin Powell, o objetivo é garantir sem nenhum obstáculo e de ponta a ponta o acesso às empresas norte-americanas de produtos, serviços, tecnologia e capital, e os recursos naturais estratégicos. Por isso o caso Oxy efetivamente para eles está amarrado ao TLC, significa uma pedra no caminho que um Estado põe em sua estratégia de um mundo global desenhado para sua expoliação e usufruto.
Terceira lição
Na atualidade já nada se poderá fazer a partir das elites do poder sem uma aberta e transparente discussão com a sociedade civil. A participação cidadã está já nas veias da população e necessita canais adequados para fluir; todo processo que envolve os destinos do país, agora são tomados por múltiplas instâncias cidadãs e populares que literalmente lhe põem contra a parede a qualquer governante para conseguir coerências em termos de desenvolvimento nacional.
Sem as mobilizações de indígenas e outros setores, seguramente o Equador tivesse classificado diante da Oxy e o TLC como em múltiplas ocasiões ante a chantagem das transnacionais e seu Estado, os EUA.
Tarefas urgentes
Por último, o esquema mais adequado para operar este processo três tarefas urgentes:
1 – Encontrar o esquema mais adequado para operar os poços da Oxy sem as concessões do passado, para isso é indispensável um espírito cidadão que vigie o processo.
2 – Preparar as condições de competitividade do país através de uma Agenda Equador que deve ser construída já, com todos os setores como estratégia de desenvolvimento e para eventuais envolvimentos nos futuros processos de livre comércio já seja com os próprios EUA ou com a Europa, o cone sul ou os países asiáticos.
3 – Implementar uma escola de desenvolvimento empresarial para formar empresários competitivos e com visão do país como única forma de sobrepor o modelo “banana republic” com o que agora opera esse setor.
Fonte: Agência de Imprensa do Equador (Altercom)