Peso da candidatura imposta não deixa Alckmin decolar
Candidato tucano não empolga e empaca na preferência dos eleitores, deixando aliados preocupados com a possibilidade de a eleição ser definida no primeiro turno. Até mesmo tucanos experientes reconhecem erros ao longo do
Publicado 15/05/2006 21:31
por Nelson Breve*
Apelidado de “chuchumbo” por um colunista da imprensa paulista, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin está sentindo o peso das âncoras que acompanham os políticos que conseguem impor candidaturas à revelia do bom senso. Desde que o PSDB anunciou sua escolha como candidato, há cerca de 30 dias, ele vem patinando nas pesquisas, na ampliação de alianças e palanques, nas denúncias contra sua administração e sobre o guarda-roupa de sua mulher, no discurso de campanha e na confiança dos correligionários.
Alckmin impôs sua candidatura ao tucanato ameaçando uma disputa fratricida com o ex-prefeito de São Paulo José Serra, considerado por uma parte do PSDB e dos partidos de oposição um candidato com melhores chances de derrotar o presidente Lula em outubro – pois começaria a campanha no mesmo patamar de preferência popular que o adversário. O ex-governador defendeu a tese de que a eleição só começa depois que “muda o horário da novela”. Ou seja, quando tem início a propaganda eleitoral obrigatória no rádio e na televisão.
Ele acabou balançando convicções ao ponderar que, se Lula estiver bem, ninguém poderá vencê-lo. Portanto seria burrice queimar um candidato como Serra na disputa. Se Lula estiver mal, qualquer um pode vencê-lo. Portanto, sua candidatura teria o melhor resultado na ponderação entre custo e benefício. Os tucanos que não concordam com ele esperam que tenha razão, mas não estão dispostos a sacrificar seus projetos políticos pessoais para ajudá-lo a mostrar que estava certo.
Os defensores da candidatura de Serra avisam que Alckmin não deve esperar grande empenho do ex-prefeito no embate nacional. A estratégia de tentar colar a imagem dos dois nos estados onde o ex-governador é pouco conhecido estaria fora de cogitação. A justificativa é que Serra, apesar de favorito, terá de trabalhar muito para conseguir recuperar o ninho tucano no governo de São Paulo, pois já teve de abrir mão da Prefeitura para atender o apelo do partido, o que envolve um certo risco político. “O que o Serra podia fazer pela candidatura Alckmin, já fez: colocou-se à disposição para disputar o governo de São Paulo”, sustenta um aliado do ex-prefeito.
Um experiente articulador tucano avalia que a direção do partido cometeu muitos erros ao longo da preparação da candidatura, o que pode custar uma derrota já no primeiro turno. Ele reclama que desde a posse da nova Comissão Executiva Nacional, em novembro, nenhuma reunião foi convocada até agora. Isso teria dificultado a construção de um projeto de candidatura, que seria uma espécie de moldura para encaixar o candidato no momento certo. Essa seria a razão para a falta de entrosamento entre as lideranças tucanas. A conseqüência mais evidente seria a ausência de um discurso forte e coerente que explorasse com maior eficácia os erros, contradições, asneiras e fragilidades do governo Lula.
Dificuldade para Alianças
Faltando menos de cinco meses para o pleito, a candidatura Alckmin não conseguiu sequer a consolidação da aliança com o PFL, seu principal parceiro de oposição (leia PFL prefere aguardar definições antes de fechar com PSDB). O candidato tucano teve de engolir a desfeita do prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, que na frente dele disse a uma platéia que o PFL poderia ajudar mais sua candidatura se não fizesse a coligação formal com o PSDB.
Deve ser levado em conta que Maia estaria contrariado com o lançamento da candidatura tucana do deputado Eduardo Paes, secretário-geral do partido, ao governo do Rio, o que fragmentou ainda mais as forças anti-Garotinho no estado. No entanto, a sabedoria política recomenda que não se deve desprezar quem tem perspectiva concreta de chegar ao poder no curto prazo. O fato de Alckmin estar pesado como chumbo provocou no mercado político o fenômeno que os economistas chamam de “inflação de demanda”. A falta de votos do candidato na praça faz subir o preço do apoio político.
Os caciques do PFL começaram a cobrar intervenção da campanha nacional tucana inclusive em estados onde os dirigentes dos dois partidos são inimigos históricos. É como se exigissem de uma fábrica de automóveis que não lance um modelo novo para competir com o carro colocado no mercado pela concorrente. O conflito entre os dois partidos ocorre no Rio, Sergipe e Maranhão. Mas a briga mais barulhenta é a da Bahia, onde Alckmin esteve na semana passada pedindo a benção ao senador Antonio Carlos Magalhães (PFL).
Para receber o candidato tucano, ACM impôs como condição que ele se desvincule da imagem do candidato do PSDB ao Senado, Antonio Imbassahy, e apóie o pefelista Rodolfo Tourinho. Mais do que eleger seu aliado, o cacique baiano atua para evitar que o adversário seja eleito, dividindo sua base. ACM não aceita o fato de Imbassahy ter se aliado aos inimigos depois de governar Salvador. Quer asfixiá-lo politicamente, como já fez com os ex-deputados Prisco Viana e Benito Gama. Ainda que seja para deixar a vaga ao Senado ir para as mãos de outro adversário, como Geddel Vieira Lima (PMDB), que está perto de se aliar ao PT do ex-ministro Jaques Wagner.
“Alckmin e Tasso estão dando ouvidos demais a Antonio Carlos”, adverte um dirigente nacional do PFL. Ele argumenta que o cacique baiano gosta de aparentar uma força que deixou de ter mais para tentar impor seus desejos pessoais. Esse seria mais um dos erros que a campanha tucana estaria cometendo. Valorizar demasiadamente quem tem mais espaço na mídia e esquecer dos que ajudam mais na coesão interna.
É o caso dos dois senadores interessados na candidatura a vice na chapa de Alckmin. O líder da bancada no Senado, José Agripino (RN), e o vice-presidente do partido José Jorge (PE). O primeiro ajudaria mais no embate externo, enquanto o segundo, na costura interna. A escolha entre os dois vinha sendo adiada para evitar mais fissuras na chapa da oposição e na expectativa de que o cenário melhorasse para o candidato tucano. Mas o assédio de Alckmin ao PPS e ao PDT, fez com que o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC) marcasse a consulta para a semana que vem.
Vice progressista
Aconselhado a ampliar sua aliança em direção ao centro do espectro partidário, Alckmin conversou na semana passada com os presidentes do PDT, Carlos Luppi, e do PPS, Roberto Freire. Propôs uma coligação formal no primeiro turno, argumentando que pretendia fazer um governo desenvolvimentista e com uma equipe econômica diferente da que comandou o país no governo FHC. Em vez de economistas ligados à Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) – escola considerada neoliberal que abriga expoentes do governo Fernando Henrique Cardoso como Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda, e Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central, -, seria auxiliado por desenvolvimentistas como Yoshiaki Nakano, Luiz Carlos Mendonça de Barros e Luiz Gonzaga Belluzzo.
Ouviu deles que existe disposição para formar uma frente anti-Lula, mas não seria possível uma coligação formal se o candidato a vice fosse do PFL. Tucanos alinhados mais com a falecida linha social-democrata do partido gostam da idéia de ter um vice mais progressista. Argumentam que o perfil de Alckmin já atrai os votos do eleitorado conservador do PFL e para vencer a eleição seria preciso conquistar o voto do centro. Na impossibilidade de uma coligação nacional com o PMDB, um companheiro de chapa como Freire ou o senador Cristovam Buarque, eleito pelo PT e agora no PDT, poderia ampliar o arco simbólico da candidatura.
Freire desconversa sobre o assédio, sustentando que o PPS terá candidato próprio ou integrará uma aliança com PDT e PV. Um eventual apoio a Alckmin seria manifestado apenas no segundo turno. “Votar em Lula é um desatino”, justifica o presidente do PPS, que está sofrendo muita pressão dos diretórios estaduais para deixar o partido solto na disputa nacional.
Uma candidatura ou coligação com partidos mais progressistas prejudicaria alianças dos governadores Blairo Maggi (MT) e Ivo Cassol (RO), além de atrapalhar os planos de outros candidatos a cargos proporcionais e majoritários em vários estados do país. Na semana que vem, o comando do PPS deverá se reunir para resolver como essas divergências serão encaminhadas. Freire tentará convencer o partido de que, com a desistência do PMDB em disputar a Presidência, passou a existir espaço para o sucesso de uma candidatura alternativa à polarização PT-PSDB.
Empacado nos cerca de 20% de preferência do eleitorado desde que se lançou candidato, Alckmin subiu o tom de críticas ao governo Lula, mas ainda não encontrou o ponto fraco do adversário. Seus aliados não se entendem sobre a condução da campanha e estão dando prioridade aos projetos pessoais e regionais enquanto a novela não muda de horário.
Se estiver certo quanto à inutilidade da pré-campanha, Alckmin verá seu palanque crescer na reta final. Se estiver errado, saberá porque o verbo “cristianizar” tem outro significado além de dar um caráter cristão a alguma coisa – o que, aliás, ele tem feito com a própria campanha. Tal como Cristiano Machado, o candidato do PSD na eleição que reconduziu Getulio Vargas ao poder em 1950, ele será descartado no caminho até pelo próprio partido.
*Fonte: Agência Carta Maior