Mino Carta: Todos contra a reeleição de Lula
Até o orelhudo Daniel Dantas vira mártir e CartaCapital vilã no afã de atingir o presidente.
Publicado 14/05/2006 18:34
Cada país tem os varões de Plutarco que merece. Por exemplo, o senador Arthur Virgílio, líder tucano. Ou Antonio Carlos Magalhães, outro senador. E imperador da Bahia. Ou, quem sabe, Octavio da Motta Veiga, ex-presidente da Petrobras, da CVM e do Conselho de Administração da Brasil Telecom. Sua mais recente façanha, a invasão sorrateira, na madrugada de 26 de julho de 2005, do sistema de computadores desta última empresa com o propósito de anular a assembléia de acionistas que afastaria o seu patrão, Daniel Dantas.
Mereceu, por isso, a punição da própria CVM, que o suspendeu por um ano de qualquer atividade do sistema financeiro. Medida clemente. Atos de grande destemor não são premiados como deveriam. Em compensação o dono do Opportunity ganhou a honra das manchetes ao acusar o PT de tê-lo submetido a uma tentativa de chantagem, no valor de "dezenas de milhões".
Tal é a sua defesa, na ação que corre em Nova York, sob o martelo do juiz Lewis Kaplan. O qual, há poucos dias, disse nunca ter visto alguém "tão dissimulado". Kaplan já ameaçou prender o banqueiro diversas vezes, enquanto por aqui o orelhudo concorre ao galardão de mártir do ano e consegue o adiamento de seu depoimento sobre o Caso Kroll.
A mídia que o credencia apressa-se a esquecer as mil mazelas praticadas pela família (ou seria famiglia?) Dantas, com o recheio de mentiras, documentos forjados, grampos e espionagens variadas conduzidas com os preciosos préstimos da Kroll, coisa de Primeiro Mundo. Sem contar o envolvimento no Valerioduto. Etc. etc. Mas esqueçamos tudo, em nome da cruzada anti-Lula e anti-PT.
A mídia compacta-se no esforço de solapar a candidatura à reeleição do presidente metalúrgico e até Dantas serve ao propósito. As acusações do banqueiro contra o PT são, porém, de digestão laboriosa para quem mantém freqüentação razoável com a verdade factual.
Desde o começo do governo Lula, reuniões houve no Planalto entre o presidente e seus colaboradores mais próximos, no sentido de investigar a fundo as manobras de Dantas e sustar de vez suas atividades suspeitas. Nada ocorreu, no entanto, talvez, porque um ou outro dos colaboradores fizesse corpo mole, a cogitar de proveitos futuros.
Peculiar a tese da chantagem petista partida do ex-chefe da Casa Civil José Dirceu: CartaCapital sabe que o próprio tentou mais de uma vez exercer pressões junto à Justiça e à Polícia Federal em favor do banqueiro, atolado em investigações e processos no Brasil e fora dele.
Estaria na hora de optar pela ética, e pelo senso comum, e pela consciência do papel do jornalismo honesto, e para tanto não é preciso apoiar Lula e seu governo, como, aliás, não faz CartaCapital , a discordar de inúmeras das suas ações, em primeiro lugar em matéria de política econômica. E a condenar o PT, por ter-se portado no poder como todos os demais.
Até CartaCapital serve, porém, ao plano, acusada amiúde de sobreviver graças à publicidade governista. Há quem diga que 70% dos anúncios publicados pela revista têm origem estatal. Inverdades clamorosas, assacadas nesta infeliz sociedade de democratas ancorados ao pensamento único. Quem discorda em nome do respeito à verdade factual e do exercício do espírito crítico, paga caro. Na hora da cruzada não se admitem defecções.
Eis aqui os números exatos (http://www.cartacapital.com.br/tabelas/semana393.jpg), e incontestáveis, relativos às fontes da publicidade veiculada em CartaCapital . As calúnias, em meio à nossa Idade Média, têm o poder de nos envaidecer. Mesmo porque provam que a gente incomoda os democratas de fancaria.
Reproduzido da CartaCapital