Marcha em SP pede mais cotas para estudantes negros
O aumento do número de vagas reservadas à população afrodescendente em escolas públicas de ensino superior será uma das principais bandeiras da 10ª Marcha Noturna pela Igualdade Racial, nesta sexta-feira (12/05), na capital
Publicado 12/05/2006 19:47
O advogado observou que o próprio trajeto foi escolhido com base na tese de mestrado do Padre José Enes de Jesus, presidente do instituto. Nesse trabalho, o padre levantou, por exemplo, a informação de que era na Igreja da Boa Morte que os escravos considerados rebeldes recebiam as últimas bênçãos antes de serem executados na forca.
Em outro ponto, na Praça João Mendes, fica a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, construída em 1727, local que servia de encontro para os movimentos abolicionistas comandados por José do Patrocínio, Luiz Gama e Antonio Bento, entre outros.
Para Sinvaldo, o fim do regime escravocrata foi um acontecimento importante, mas "o fato de não ter sido acompanhado de outras medidas que garantissem direitos para o exercício pleno da liberdade é até hoje motivo de luta ". Ele rebateu críticas feitas aos movimentos que defendem causas dos afro-descendentes, dizendo que "o objetivo dessas articulações não é fomentar ainda mais a discriminação racial, mas sim assegurar o acesso de todos os cidadãos aos direitos comuns, ao ingresso nas universidades e ao mercado de trabalho, entre outros direitos sociais".
Segundo o advogado, em São Paulo o sistema de cotas foi implantado apenas na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e o grande anseio é estender a reserva de vagas também às universidades estaduais, como já ocorre nos estados da Bahia, Brasília e Rio de Janeiro. "Nesses estados, onde já existem as cotas, foi comprovado que os alunos beneficiados tem tido um aproveitamento que chega a superar os dos demais alunos".
Sinvaldo disse que "existe ainda no país um racismo velado" contra os afro-descendentes. Ele ressaltou que, por terem dificuldade de entrar nas escolas públicas, que são as mais valorizadas pelas grandes empresas na hora de selecionar seus profissionais, os afro-descendentes acabam também sofrendo com a sua exclusão de cargos mais remunerados no mercado de trabalho.
Ele informou que no Departamento Jurídico do Instituto tramitam cerca de 100 processos de discriminação racial. Em um deles, já houve ganho de causa em primeira instância na Justiça. O caso é de uma mulher agredida por funcionários de uma grande rede de supermercados. "A cliente foi acusada injustamente de furtar um objeto e, ao se dizer inocente, ouviu de dois funcionários que era suspeita por ser uma negra".
"Tivemos um caso em que, ao se deparar com o patrão [réu no processo], a funcionária entrou em choro compulsivo e foi necessária até a suspensão da audiência". Sinvaldo explicou que se tratava um ato em que a funcionária havia sido humilhada pelo superior, que tinha o hábito de subestimar a capacidade dos subalternos. "É comum recebermos queixas de atos discriminatórios em que as vítimas acabam tendo seqüelas, e por isso temos também um serviço de atendimento psicológico", afirmou.