Paim destaca que luta entre escravocratas e abolicionistas persiste
"A batalha entre os que defendem os princípios abolicionistas e os escravocratas ainda continua, apesar da escravidão já ter sido oficialmente abolida há 118 anos". A declaração é do senador Paulo Paim (PT-RS), e
Publicado 12/05/2006 14:54
O senador encerrou o discurso, emocionado, dizendo que "aos escravocratas de ontem, que são os conservadores de hoje, deixo o silêncio da vida e o anonimato que a própria História reservou para eles".
Para o senador petista, os que se posicionam contra o Estatuto da Igualdade Racial e as políticas de inclusão, como as cotas em universidades são os escravocratas. "Os conservadores dizem que as ações compensatórias são um erro e nós discordamos. O que alimenta o conflito entre os seres humanos é manter o status quo,que só dá ao negro o direito de ficar quietinho nas favelas", afirmou.
Paim destacou que sua bandeira – a da inclusão por meio de leis que beneficiem as minorias – recebe expressivo apoio das pessoas que enviam correspondências ao seu gabinete. Segundo ele, de cada 100 correspondências, 95 são a favor da luta contra os preconceitos e do Estatuto da Discriminação Racial, aprovado no Senado no ano passado e aguardando aprovação da Câmara dos Deputados.
O parlamentar ressaltou que existe discriminação racial no Brasil, e que os negros brasileiros estão pelo menos um século atrasados em relação aos norte-americanos em qualidade de vida.
"Que rufem os tambores para os que lutaram por essa causa e os que dedicaram a vida a ela", falou, citando nomes representativos na luta contra a discriminação, como os de Joaquim Nabuco, Castro Alves, Rui Barbosa, José do Patrocínio, José Mauro Rebouças e Antônio Bento, no passado; e os de Abdias do Nascimento e Frei Davi, na atualidade. Também homenageou a ex-senadora Benedita da Silva, "doméstica, favelada, negra, mulher, vereadora, deputada, senadora e governadora do Rio de Janeiro".
Abolição incompleta
Autor do requerimento para a realização da sessão especial, o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), primeiro orador da cerimônia, disse que pediu a sessão especial para que houvesse um momento de reflexão sobre a situação dos negros no Brasil. Para ele, a abolição estará incompleta até que haja investimento maciço e prioritário em educação e infra-estrutura.
Ele analisa que a emancipação da população negra brasileira não ocorrerá por meio da política econômica. Segundo ele, o crescimento econômico leva a aumento de renda, mas não há distribuição adequada das riquezas.
"Foi um passo não obrigar as pessoas a trabalharem, nem permitir que fossem vendidas, mas foi insuficiente porque elas foram jogadas no desemprego. Foi um passo desacorrentar os escravos das senzalas, mas elas foram jogadas para dormir nas calçadas", acrescentando que a aboliçãop da escravatura "foi um passo pequeno".
O senador disse ainda que o Senado teve papel importante na aprovação da Lei Áurea, mas para ele, a lei que libertou os escravos brasileiros deveria também incluir a obrigatoriedade do Estado reservar um pedaço de terra para que eles pudessem trabalhar.
Cristovam também lembrou que, na aprovação da Lei Áurea, o povo jogou flores nos senadores. Ele disse que os parlamentares atualmente não dão motivos para que a população jogue flores neles e, confessou, sente falta de recebê-las.
Com Agência Senado