Líder do MST expõe na Áustria ação de Aracruz e Syngenta
A campanha dos movimentos sociais rurais brasileiros para denunciar multinacionais do setor de papel e celulose e de sementes transgênicas chega à Europa. O relato sobre a atuação das empresas Aracruz e Syngenta será apresentado
Publicado 11/05/2006 00:12
A empresa, segundo os textos da mostra, ainda ocupa 11 mil hectares de terras indígenas, de onde cerca de 30 comunidades tupinikin e guarani foram despejadas em 1967, o mesmo ano em que a empresa, conforme dados em seu site na internet, iniciou o plantio de eucaliptos no estado.
A exposição também apresenta aos europeus imagens das condições de trabalho em que os quilombolas de Angelina (ES) trabalham para a Aracruz, por menos de US$ 100 ao mês. A Aracruz, segundo João Pedro Stédile, tem origem em capital europeu e, posteriormente, foi incorporada pelos grupos brasileiros Votorantim e Safra. Hoje, segundo o site da empresa, além de o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ser dono de 12,5% das ações da empresa, ainda há 28% de participação do grupo norueguês Lorentzen, além de associações de grupos americanos.
Em entrevista à Agência Brasil, Stédile disse que a posição dos movimentos não é apenas contrária à cultura de eucalipto, especificamente: "O problema é o modelo: a monocultura, seja ela de eucalipto, cana, soja ou laranja, gera desequilíbrio no meio ambiente, destrói a biodiversidade e concentra as terras."
Para Stédile, o Brasil não precisa produzir "tanta" celulose. A maior parte desse papel seria exportado para os países ricos, de alto padrão de consumo, onde vira papel toalha e embalagens. "Hoje se usa quase meio eucalipto em papel para transportar uma pizza. Isso não é sustentável. A sociedade precisa rediscutir esse consumismo", sugere o líder do MST.
Outro problema emergente em relação ao eucalipto seria o plantio da árvore na Amazônia com o objetivo de produzir carvão para as siderúrgicas. "É uma tríplice agressão. Derrubam a floresta, plantam eucalipto e usam o carvão para produzir aço para exportação."
Em março, ativistas ligados aos movimentos da Via Campesina invadiram uma unidade de pesquisa da Aracruz no interior do Rio Grande do Sul para denunciar a formação do chamado "deserto verde" (monocultura extensiva do eucalipto e outras arvores) no interior do estado. A invasão resultou em destruição de parte do patrimônio da empresa e em um processo judicial.