Atos lembram 20 anos do assassinato de Padre Josimo
O assassinato do padre Josimo Morais Tavares completa 20 anos nesta quarta-feira (10/05). O crime ocorreu em Imperatriz, Maranhão. Na época, Josimo atuava como coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na região do Bico d
Publicado 10/05/2006 17:11
A encenação no Colégio Santa Cruz foi a última de Josimos das terras, das águas, de lá. Depois de dois anos realizando apresentações em diversas cidades do país, o espetáculo chegou ao fim com duas apresentações. A peça foi idealizada e promovida pelo Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos (CDVDH) de Açailândia (MA), em conjunto com Lilia Dinis e Wellington do Nascimento, do Núcleo Otelo de Pesquisa e Produção Teatral. Tem como tema a luta e as conquistas do povo.
“O espetáculo traz o sangue e o fogo, a terra e a água, a indignação e a rebeldia, mostrando a resistência de quem não quer calar e jamais para de lutar”, diz Xavier Plassat, da CPT em Araguaina (TO). A idéia de que a peça tivesse este direcionamento veio da experiência de luta da ONG e da autora, que identificou um personagem com participação intensa na luta. Segundo a autora, a região do Bico do Pagagaio retrata o sofrimento de todo o povo brasileiro.
O elenco da peça é formado por jovens artista que passaram por uma seleção realizada pelo CDVDH em Açailândia. Para preparar os personagens, todo o elenco participou de uma semana de pesquisa de campo na região do Bico do Papagaio. Lá eles conviveram com pessoas que lutaram pela terra junto com Josimo.
O espetáculo foi apresentado em Belém (PA), São Paulo (SP), São Luis (MA) e em várias cidades do interior dos estados de Goiás, Maranhão, Pará e Tocantins.
O caso – Em 25 de abril, quase 20 anos após o assassinato do padre Josimo, o Juiz Costa Junior, da 1ª Vara Criminal de Imperatriz (MA), recebeu denúncia oferecida pelo o promotor Arnoldo Jorge de Castro Ferreira contra o juiz aposentado João Batista de Castro Neto e os fazendeiros José Elvécio Vilarino e Pedro Vilarino Ferreira. Eles são apontados como mandantes do crime.
De acordo com a denúncia, João Batista de Castro Neto, José Elvécio Vilarino e Pedro Vilarino Ferreira, junto com Osmar Teodoro da Silva e Geraldo Paulo Vieira, se reuniram várias vezes para planejar a morte do padre. Eles teriam decidido qual arma usar e quem contratar para a empreitada, além da forma de pagamento.
Padre Josimo nasceu em Marabá (PA) em 1953. Foi ordenado padre em 1979 em Xambioá (TO) e assumiu a Pastoral da Juventude em Wanderlândia (TO). Coordenou também a Pastoral Geral da Diocese na região do Bico do Papagaio.
Conhecido por sua defesa intransigente aos trabalhadores rurais oprimidos, Josimo Tavares causou medo e ódio aos fazendeiros da região, que também demonstraram seu preconceito diante de um padre negro. Os fatos estão relatados na biografia “Todos Sabiam”, da escritora inglesa Binka Le Breton.
Em abril de 1986, o padre Josimo sofreu um atentado. No dia 10 de maio, um mês depois, foi morto com dois tiros pelas costas, enquanto subia a escadaria do prédio onde funcionava o escritório da CPT.
Sabendo do risco que corria, Josimo deixou um testamento na Assembléia Diocesana em Tocantinopólis (TO) duas semanas antes de sua morte, onde dizia “nem o medo me detém… morro por uma causa justa”. No texto, ele dizia que lutava em defesa do trabalhador e em prol do evangelho.
Poucos anos depois, as investigações policiais identificaram o pistoleiro Geraldo Paulo Viera como o assassino. Ele foi condenado a 18 anos e 6 meses de prisão. Fugiu três vezes da cadeia e foi morto em um assalto a banco.
Outros responsáveis pelo crime também foram condenados: Adailson Vieira teve pena de 18 anos, Osmar Teodoro da Silva, na época presidente da Câmara de Vereadores de Augustinópolis (TO) foi condenado a 19 anos e Guiomar Teodoro da Silva e Vilson Nunes Cardoso, a 14 anos. Um outro acusado, João Teodoro da Silva faleceu antes de ser julgado.
Outros dois acusados, Nazaré Teodoro da Silva e Osvaldino Teodoro da Silva, foram absolvidos pelo Tribunal do Júri. A sentença foi anulada pelo Tribunal de Justiça do Maranhão, mas os réus recorreram para o Supremo Tribunal Federal.
O processo vem sendo acompanhado pela assessoria jurídica do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos de Açailândia (MA), da CPT/TO e da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado do Tocantins.