Para Renan Calheiros, PMDB recusará candidatura própria
O presidente do Senado e líder da ala governista do PMDB, Renan Calheiros (AL), deve assumir a Presidência da República na ausência do presidente Lula, que embarcará para Viena na quarta-feira (10), desta vez por um período maior, de cinco dia
Publicado 08/05/2006 20:12
Em conversa com o presidente Lula na semana passada, Renan disse estar certo de que a candidatura própria será recusada pela maioria dos convencionais que, segundo ele, preferem preservar a liberdade de aliança nos Estados. A ala dos independentes do PMDB destaca que, com a regra da verticalização das coligações, partidos adversários na corrida presidencial ficam proibidos de se aliarem na disputa pelos governos estaduais.
O ex-presidente da República e atual presidenciável do PMDB, Itamar Franco (MG), faz críticas ao presidente do Senado. "É incrível que o presidente do Congresso Nacional, que é uma figura ilustre no PMDB, mas não tem história no partido, continue à viva-voz contra a candidatura. Ele devia respeitar. Se ele é contra, que saia então do partido e levante sua voz como quiser", disse Itamar, nesta segunda-feira (8), após almoço no Palácio dos Bandeirantes, com a estranha presença do governador de São Paulo, Claudio Lembo (PFL), e do ex-governador do Estado Orestes Quércia (PMDB), quando foi discutido o cenário eleitoral deste ano.
Itamar não quis falar sobre a possibilidade de composição com outros partidos, como PSDB e PFL, ou mesmo com o PT. "Enquanto não definirmos se terá ou não candidatura, não devemos criar hipóteses", finalizou.
Outro fator
Existe outro fator que determina a recusa dos governistas pelo candidato próprio do PMDB. A atitude do ex-governador Anthony Garotinho que, diante da dificuldade de dar explicações às denúncias de irregularidades envolvendo doações para sua campanha presidencial, apelou para a greve de fome, enfraquecendo a sua pré-candidatura. Até então, Garotinho, que vinha crescendo nas pesquisas eleitorais, era tido como o grande obstáculo à derrubada da candidatura própria.
A pré-candidatura de Itamar Franco é avaliada pela maioria dos peemedebistas como uma manobra do ex-presidente para conquistar mais espaço no PMDB mineiro e garantir sua candidatura ao Senado.
Mas o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), avalia com cautela a situação, sem descartar desde já a candidatura de Itamar. Segundo os correligionários mais próximos, caso ele se mantenha firme em sua pré-candidatura e os diretórios de São Paulo, Minas e Rio Grande do Sul sustentem o apoio à tese da candidatura própria, Temer avalia que haverá uma chance real do PMDB disputar as eleições para presidência da República.
Aliança com o PT
Diante dessa situação, o Palácio do Planalto decidiu concentrar esforços para fechar uma aliança com o PMDB. O esforço envolve a cúpula do PT, que preparou um relatório para o presidente Lula, mostrando que há boas chances de aliança sólida entre PT e PMDB em vários Estados, negociando-se a vaga de senador e de vice-governador.
Quem está comandando as negociações com o PMDB é o ministro de Relações Institucionais, Tarso Genro (PT), que se encontrou com o presidente nacional do PMDB na terça-feira (2) da semana passada, para oferecer a vaga de vice na chapa de Lula.
"Senti muita honestidade nas palavras do Tarso, quando ele ofereceu o vice de Lula ao partido e disse que o presidente queria fazer uma aliança programática e uma coalizão, dividindo o governo e entregando setores da administração federal ao PMDB", relatou Temer a um dirigente peemedebista ao sair da reunião.
Divisão do governo
A proposta de "divisão do governo" agradou até os defensores da candidatura própria do PMDB ao Planalto, como o próprio Temer. As alianças nos estados devem começar por São Paulo, onde o candidato do PT é o senador Aloizio Mercadante. Tarso e o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP) conversaram com o presidente do PMDB paulista, Orestes Quércia, na quinta-feira (4), a quem ofereceram o posto de vice-governador na chapa petista e deixaram em aberto a negociação da vaga ao Senado, onde o favorito é o senador Eduardo Suplicy (PT-SP).
A articulação pelo Brasil afora, que será feita em dupla pelo ministro Tarso e pelo presidente nacional do PT, levará em conta a regra geral de entregar a cabeça de chapa ao partido mais forte na região. O relatório do PT indica que os estados com maior possibilidade de aliança são a Paraíba, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso do Sul e Paraná.
O PT e o Planalto apostam fortemente na aliança com o PMDB diante da possibilidade crescente da disputa presidencial ser encerrada em um só turno. Com o candidato Lula muito forte, especialmente no Norte e Nordeste, aliados do governo dizem que até em Pernambuco, onde o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) tem uma aliança de uma década com o PFL e o PSDB, a parceria com o PT é possível.
Um articulador do governo argumenta que Lula tem mais de 60% da preferência do eleitorado pernambucano e que, mesmo que Jarbas esbraveje contra a aliança, a vinculação de seu PMDB com Lula na disputa pelo Senado só iria ajudá-lo.
Mas a cúpula governista do PMDB não quer falar ainda em alianças. O próprio Renan é um dos líderes peemedebista que insiste na tese de que "as coisas" têm de ser resolvidas por etapas e a próxima etapa é a convenção extraordinária de 13 de maio, que une governistas e independentes empenhados em enterrar de vez a possibilidade do partido lançar um peemedebista na corrida presidencial.
Da redação,
Márcia Xavier, com agências