Pomar dá exemplo de como imprensa manipula informações sobre a questão boliviana
O secretário de relações internacionais do PT, Valter Pomar, divulgou um texto em que aponta erros em matéria da Folha Online, reproduzida da agência Ansa, para a qual Pomar deu entrevista. Leia o texto do petista:
Publicado 08/05/2006 16:40
Valter Pomar aponta irregularidades em matéria da Folha Online
O secretário de relações internacionais do PT, Valter Pomar, divulgou um texto em que aponta erros em matéria da Folha Online, reproduzida da agência Ansa, para a qual Pomar deu entrevista. Leia o texto do petista:
Sobre matéria publicada na Folha Online
A Folha de S. Paulo divulgou, na sua edição on-line, matéria creditada à agência Ansa, escrita com base em entrevista feita comigo pelo jornalista Pablo Giuliano.
A matéria, no geral correta, contém quatro passagens problemáticas. Uma é divertida e até honrosa, pois sou "acusado" de estar presente na reunião entre Lula, Evo, Kirchner e Chávez.
Outra deve ser erro de tradução: Pomar afirma ainda que o Brasil não pode ser ingênuo. "Deveria atuar como algumas empresas, por exemplo a Repsol YPF –de capital espanhol e argentino, impôs condições para manter as negociações com o governo Morales", diz. O Brasil "deveria atuar como algumas empresas, por exemplo a Repsol YPF –de capital espanhol e argentino, impôs condições para manter as negociações com o governo Morales".
Esta frase, colocada entre aspas, nunca foi dita por mim. O que eu disse (ver abaixo a íntegra da entrevista, que foi concedida por escrito) foi que "não vamos ser ingênuos: algumas empresas, como a Repsol YPF, de capital hispano-argentino, bem que gostariam que a Petrobras tirasse as castanhas do fogo para eles". Ou seja: o oposto do que afirma a matéria publicada pela Folha.
Os outros dois problemas fizeram a matéria ser utilizada, certamente contra a vontade do jornalista que fez a entrevista comigo, como parte da estratégia adotada por setores da grande imprensa, que tenta atribuir ao PT o papel de advogado dos interesses bolivianos. A mesma estratégia que vem sendo utilizada em relação ao governo Lula, particularmente em relação ao companheiro Marco Aurélio Garcia.
Claro que é muito melhor ser acusado de advogado do governo Evo Morales, do que de defensor dos interesses das multinacionais norte-americanas e européias.
Entretanto, eu não disse que "o Brasil deve pagar mais por gás boliviano"; nem disse que o PT é "favorável ao aumento do preço".
O que eu disse é que "a oposição conservadora está na situação do "quanto pior, melhor". Torce para que haja repercussões negativas, para tirar proveito. A curto prazo, não deve acontecer alteração no preço do gás, nem tampouco impacto politicamente relevante sobre a inflação. Claro que no médio prazo algo deve mudar, até porque os preços que pagamos pelo gás boliviano são baixos e devem subir. Mas há fortes interesses mútuos envolvidos. Metade do gás natural consumido no Brasil vem da Bolívia. E 75% do gás boliviano vem para o Brasil, apenas 10% são para consumo doméstico e o restante vai para a Argentina. Portanto, temos interesses mútuos que certamente serão levados em conta na negociação."
Concluir que sou "favorável" ao aumento, porque afirmo que no médio prazo algo deve mudar, até porque os preços que pagamos pelo gás boliviano são baixos e devem subir, é mais ou menos como dizer que sou "favorável" à minha própria morte, porque embora esteja vivo e com saúde, no médio prazo algo deve mudar, até porque os sinais de envelhecimento estão aumentando e devem subir.
Da mesma forma, eu não disse que o governo de Morales agiu corretamente quando expulsou a siderúrgica EBX, propriedade do brasileiro Eike Batista, próximo à fronteira boliviana-brasileira.
O que eu disse é que "esse senhor instalou quatro fornos sem licença ambiental, apoiou movimentos separatistas em Santa Cruz de la Sierra contra Morales e agora quer dar uma de pobre empresário ameaçado pelo governo boliviano".
Que fique claro: se eu achasse conveniente ou tivesse elementos para dizer mais do que isso, diria com o maior prazer. Se não disse, não foi por falta de vontade.
Finalmente, quero destacar algo que disse na entrevista para a Ansa, mas não aparece na matéria da Folha (e que não sei se está na matéria originalmente publicada pela Ansa): Seria importante que nesta negociação fosse construída uma fórmula institucional vantajosa de parte a parte, inclusive no que toca à relação entre as respectivas empresas de petróleo, a boliviana e a Petrobras. A situação me lembra uma blaque, segundo a qual, quando você deve R$ 100 para o banco, o problema é seu; mas quando você deve R$ 1 milhão, o problema é do banco. No caso, o problema é do Brasil e da Bolívia. Ou saímos dessa, ambos; ou os dois enfrentaremos problemas gravíssimos.
Ao contrário do que pensa a imprensa mesmerizada pela lógica neoliberal, a solução está para além dos preços. Desta situação precisamos extrair um desenho institucional novo para as relações energéticas entre Brasil e Bolívia.
Valter Pomar