Moussaoui, prisão perpétua para servir de exemplo
O fundamentalista francês Zacarias Moussaoui terminará os seus dias em uma prisão de alta segurança no Colorado. Seus advogados reivindicam sua transferência para a França. Artigo de Hassane Zerrouky, para o diário franc&e
Publicado 05/05/2006 17:05
“Que Deus salve Ossama Bin Laden. Vocês jamais o pegarão! Estados Unidos, vocês não querem ouvir! Nós vamos retornar!”, exclamou Moussaoui, numa derradeira provocação perante a juiza Leonie Brinkema, antes que esta pronunciasse sua condenação à prisão perpétua, acompanhando a recomendação feita na véspera pelo juri do Tribunal de Alexandria (Virginia), que se recusou a condená-lo à morte como pedia a acusação.
Zacarias Moussaoui terminará os seus dias em uma prisão de alta segurança no Colorado, onde estão encarcerados os 400 criminos mais perigosos dos EUA. Apelidada “Alcatraz das Montanhas Rochosas”, a prisão fica num lugar desolado e abriga vários terroristas, entre eles Richard Reid [o “terrorista do sapato-bomba”].
O francês será encarcerado em uma cela a prova de som, de onde poderá sair por uma hora ao dia. Não terá direito a jornais, nem TV ou rádio. Ficará em um total isolamento.
Pequenas frases assassinas
Durante o ruidoso processo, Zacarias Moussaoui prestou-se a um papel sórdido. Primeiro recusou-se a participar, depois declarou-se não-culpado. Enquanto afirmava ter sido o 22º membro da Al Qaeda, que perpetrou os atentados do 11 de Setembro, realizou uma série de provocações, buscando assumir deliberadamente uma imagem detestável.
Ele chamou um de seus advogados de “judeu sujo”, qualificou a magistrada Leonie Brinkema de “juiza SS”, “juiza da morte” e “idiota”, a rainha Elizabeth de “safadinha de Muckingham”. Fez ironia com a dor das famílias das vítimas do 11 de Setembro que testemunharam no tribunal. Propôs ao procurador que fosse a sua própria testemunha. Pontuou o fim de cada sessão do julgamento com pequenas frases assassinas destinadas a influenciar o juri no sentido de condená-lo à pena de morte. O comportamento e as intenções de Moussaoui eram um prato feito para o procurador e os advogados das partes civis.
É verdade que ele escapou da pena capital. Mas, a julgar pelo dossiê que embasou seu julgamento, tudo leva a crer que o tribunal condenou um suposto terrorista por fato – os atentados do 11 de Setembro – com os quais ele não estava envolvido nem de longe, como conseguiram demonstrar os seus advogados.
Além disso, a Corte Federal recusou o pedido da defesa para que fossem ouvudos como testemunhas o presumido cérebro da operação, Khalid Cheikh Mohammed, e um de seus organizadores, Ramzi Ben al-Shaiba, ambos detidos em Guantânamo. Um fato que privou Moussaoui de um direito.
Khalid Cheikh Mohammed, que julgou Moussaoui pouco confiável, encara-o com suspeita. Na verdade, o francês, detido em 16 de agosto de 2001 por uma violação banal das leis de imigração, não estava ao par dos preparativos do 11 de Setembro.
O juri não cedeu às pressões
A administração Bush procurou fazer do réu o símbolo dos atentados às torres gêmeas e terminou por torná-lo um bode expiatório. Pior: o processo não conduziu a nenhuma informação sobre os planejadores e executores dos ataques contra o World Trade Center.
Na França, a senadora comunista Nicole Borvo e a Liga dos Direitos do Homem se congratularam com os membros do juri por estes não terem cedido ao desejo de vingança e às pressões do governo Bush, que queria fazer de Moussaoui um exemplo. E a mãe do condenado, com seu advogado, Patrick Baoudouin, solicitou que ele seja transferido para cumprir pena na França. O ministro da Justiça francês, Pascal Clément, mencionou a existência de uma “convenção de transferência” entre a França e os EUA, mas sem indicar se Paris iria solicitar o repatriamento do prisioneiro.
Fonte:
http://www.humanite.fr/