1º de Maio – A Grande Greve Americana de 2006
No calor das lutas, um conjunto de organizações sindicais hispânicas convoca para o 1º de maio, uma série de manifestações em todos os Estados norte-americanos, que foram batizadas como a Grande Greve American
Publicado 03/05/2006 19:07
A estagnação econômica a que é relegada a grande maioria das nações situadas na periferia capitalista transforma os problemas socias como pobreza e desemprego em fatores que martirizam milhões de pessoas em todo o terceiro mundo. Estes problemas atuam como fatores expulsivos da população destas regiões, que migram para áreas mais dinâmicas economicamente em busca de melhores condições de vida.
No caso dos Estados Unidos, estima-se que sejam mais de 57 milhões de emigrantes, sendo a maior parte deste contingente formada por latinos. Dentre estes, 11 milhões são emigrantes ilegais que atuam como mão-de-obra no mercado interno norte-americano. Estes números são apenas estimativas, não se sabe ao certo o número de emigrantes ilegais que vivem nos Estados Unidos. Devido ao fato de não possuírem nenhum tipo de documentação ou registro, estes são tratados como invisíveis, não podem ser incluídos em nenhuma pesquisa e muito menos ter acesso a direitos como saúde, educação ou trabalhistas.
Em dezembro do ano passado, o governo americano resolveu quebrar o silêncio que cercava a emigração e colocou o assunto em pauta no Congresso. Entretanto, apresentou um projeto de lei que implementava políticas de emigração totalmente anacrônicas e xenofóbicas, que, entre outras coisas, transformam os emigrantes ilegais em criminosos, assim como quem os contrate para qualquer tipo de trabalho.
Além disso, determinou o aumento em mais 1.100 km do muro já existem na fronteira com o México. Em fevereiro, a Casa Branca voltou novamente a debater a reforma migratória. O senado aprovou uma emenda que garantia a regularização de emigrantes em situação de ilegalidade que, entretanto, cumprissem o critério de pagar ao Estado uma multa de US$ 2.000, além de falar inglês fluentemente e conseguir provar que há mais de 6 anos tem trabalhando em território norte- americano.
O tom novamente punitivo com que o Senado americano voltou a tratar a questão da emigração, e sem adotar nenhuma perspectiva de garantia de direitos, fez com que muitos emigrantes que permaneciam em silêncio, devido ao medo da xenofobia, fossem às ruas. Desde março, estão sendo construídas passeatas e manifestações em mais de 136 cidades, reivindicando uma reforma migratória justa e humana que garanta direitos à comunidade estrangeira que vive nos Estados Unidos.
No calor destas lutas, um conjunto de organizações sindicais hispânicas convoca para o 1º de maio, uma série de manifestações em todos os Estados norte-americanos, que foram batizadas como a Grande Greve Americana de 2006.
Apesar das dificuldades de provocar uma reação coletiva e organizada num país com uma esquerda tão destroçada, os resultados foram animadores neste 1º de maio. Segundo a polícia, 400 mil pessoas participaram de uma marcha em Chicago, e meio milhão interditaram o centro de Los Angeles. Na Florida, 8 mil pessoas se reuniram na Igreja Católica do Sagrado Coração, em uma cerimônia em homenagem às mobilizações ocorridas em todo o país.
Em New York e Los Angeles, a grande maioria dos estabelecimento onde os trabalhadores são emigrantes estava fechados. Em algumas cidades, devido ao pouco movimento, os fast-foods do Mac Donald’s abriram por poucas horas ou apenas funcionaram os serviços de drive-thrus. Em New York, trabalhadores protestavam em plena Times Squere.
O 1º de Maio serviu como uma demonstração, para os Estados Unidos, da grande importância que possui os emigrantes para a sustentação da sua economia interna. Não fomos trabalhar, não compramos nada, não fomos à escola, não saímos de casa!
Foi um dia nos Estados Unidos – sem emigrantes! É difícil mensurar ainda os impactos e prejuízos financeiros causados pelo boicote econômico do 1º de Maio. Entretanto, já é notório que estas mobilizações vêm ganhando cada vez mais força e atraindo milhares de trabalhadores e estudantes. A disposição é de não encerrar as manifestações até que a Casa Branca seja capaz de aprovar uma reforma que garanta direitos sociais e reconheça a importância dos emigrantes para a formação da sociedade e cultura norte-americana.
* Diretora de Combate ao Racismo da
UNE (União Nacional dos Estudantes);
fonte: www.pt.org.br