“Dia Sem Imigrantes” enche as ruas em 60 cidades dos EUA

Centenas de milhares de imigrantes, sobretudo latino-americanos, participaram hoje de um dia de greve, vigília e protestos em mais de 60 cidades dos Estados Unidos. O “Dia Sem Imigrantes” exigiu a moratória integral da migração e

Nos últimos dias, Arnold Schwarzenegger, governador da Califórnia (o Estado onde é maior a concentração de latinos) e o próprio Bush desaconselharam expressamente o “Dia Sem Imigrantes”. Em vão. O protesto teve uma notável adesão, fazendo lembrar as jornadas do movimento negro pelos direitos civis, na década de 1960.

O maior 1º de Maio em 120 anos

Assalariados não foram trabalhar, comerciantes fecharam as lojas, estudantes não foram à escola. As formas de luta incluiram a recusa a fazer compras, passeatas e vigílias. A bandeira americana, tantas vezes queimada em outros protestos, neste foi empunhada como estandarte de luta, aos gritos de “Nós somos americanos!”.

Os EUA tiveram assim o maior 1º de Maio da sua história: maior que o Protesto de Haymarket, em Chicago – onde, há 120 anos, teve início à tradição do Dia Mundial de Solidariedade dos Trabalhadores.

As manifestações mais concorridas foram as de Los Angeles e Chicago. Na grande metrópole californiana, falou-se em meio milhão de manifestantes. Em Chicago, a passeata reuniu 300 mil. Também ocorreram protestos com grande adesão em Denver, Huston, São Francisco, Nova York e Washigton.

Em algumas cidades dos Estados de Nova Jersey, Rhode Island, Oregon e Pensilvania, os manifestantes foram de casa em casa para conseguir mais adesões. Algumas grandes empresas que empregam massivamente imigrantes – como a Tyson Foods, Perdue Farms e Gallo Wines – resolveram que era melhor fechar suas portas e dar folga aos seus empregados. Muitas lojas da rede McDonalds tiveram dificuldade para abrir. A construção civil sentiu fortemente o protesto. Na Flórida, metade dos assalariados agrícolas não foi trabalhar, conforme a Florida Fruit and Vegetable Association.

Por que “Um Dia Sem Imigrantes”

Dentro da melhor tradição internacionalista, o protesto transbordou pela fronteira, para várias localidades do norte do México. Nos discursos dos atos de 1º de Maio, no México, América Central e no mundo inteiro, as demonstrações de solidariedade ao “Dia Sem Imigrantes” deram a tônica.

A jornada dá prosseguimento às  manifestações dos últimos dois meses. Enquanto isso o Congresso debate o projeto da lei de imigração, agora com mais nervosismo.
O nome da jornada de luta – “A Day Without Immigrants”  (“Um Dia Sem Imigrantes”) – visou chamar atenção para o papel dos sem-papéis na vida dos Estados Unidos. A tese é que, longe de serem uma carga, eles formam a espinha dorsal de vários setores da economia e da sociedade. Em muitos Estados, eles são a maioria entre os caminhoneiros, motoristas de táxi, domésticos ou garçons, além de categorias inteiras do operariado fabril.

“O povo está cansado de esperar”

”Ficamos encorajados ao vermos que o povo está aderindo a esta greve nacional. Temos informações preliminares de que alguns setores, que dependem da mão-de-obra (imigrante) estão vazios. Vemos a possibilidade real de que grandes centros sejam completamente paralisados, ou seriamente afetados”, comentou na Califórnia Juan José Gutiérrez, dirigente do movimento Latino USA.

Gutiérrez refutou as críticas de que a paralisação foi prematura ou contraproducente, prejudicando os imigrantes que pretende ajudar. Para ele, “o povo está cansado de esperar uma resposta do Congresso e decidiu ser o protagonista de sua história”. O movimento teve apoio de numerosas organizações sociais, religiosas e empresariais. Não foi unânime: algumas das entidades que ajudaram a convocar a grande marcha do último dia 10 desta vez se ausentaram. Isto porém destacou mais ainda a amplitude da adesão.
 
Jessica Álvarez, da Coalizão Nacional pela Imigração, da área de Washington, destacou que todas as entidades participantes têm um mesmo objetivo. “Estamos lutando pela mesma causa: exigir um tratamento digno e uma reforma migratória integral. Nas pequenas e grandes empresas, nos escritórios e nas escolas, esperamos que a ausência dos imigrantes seja sentida”, comentou ela.

Os manifestantes denunciam o projeto de lei do republicano James Sensenbrene, que foi aprovado pela Câmara dos Representantes em dezembro passado, com apoio da Casa Branca. Um dos pontos mais criticados do projeto é que ele autoriza a construção de um muro duplo em trechos da fronteira com o México. A linha de fronteira, com  3.115 quilômetros de extensão, já é parcialmente murada, porém a lei deseja endurecer o controle da divisa. Outro artigo muito repudiado é o que considera como delinquentes aos imigrantes sem documentos. O projeto tramita agora no Senado. Os senadores, sob pressão do movimento, estudam medidas atenuantes, como a criação de um programa para trabalhadores temporários e uma via de legalização dos sem-papéis.  

Com agências internacionais