Pedido de impeachment de Lula é estratégia eleitoral

O ressurgimento de manifestações favoráveis ao impeachment do presidente Lula deve ser visto mais como uma estratégia eleitoral do que como uma possibilidade concreta, acreditam consultores políticos ouvidos pela Agência Es

No início da noite desta terça-feira (18), quando o PPS divulgou nota pedindo apoio da população para pedido de impeachment do presidente Lula, o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, esteve com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele contou que os dois conversaram sobre a crise política e confirmou a informação de que o Conselho da OAB marcou para 8 de maio uma reunião em que decidirá se entra ou não com pedido de abertura de processo de impeachment do presidente.

"Mas eu disse claramente ao presidente que a OAB não será palanque para partidários do governo ou da oposição", contou. No Senado, Busato disse que a situação exige cautela e um eventual processo de impeachment contra o presidente precisa respeitar três critérios: haver base jurídica, clima político-institucional e mobilização popular favorável ao afastamento.

Para os analistas políticos, um "processo" de impeachment contra o presidente está praticamente descartado. Não há vontade política para isso, o governo ainda tem um certo controle sobre o Congresso, o presidente da Câmara dos Deputados (que recebe os pedidos de impeachment e pode arquivá-los), Aldo Rebelo, é aliado de Lula e não há a menor evidência de apoio popular a um impedimento do presidente da República.

Sem condições

"Dentro da oposição, não há opinião unânime sobre o pedido de impeachment. Há setores que

defendem esse pedido como uma forma de constranger o presidente durante a campanha, uma

vez que a sua figura, aos olhos do eleitorado, ainda está desvinculada do escândalo no PT. Outros setores consideram que esse pode ser um tiro no pé, fortalecendo no governo o discurso da perseguição política ao presidente, fortalecendo-o ainda mais", resume o consultor Ricardo Ribeiro, da MCM Consultores. "O único consenso que se tem é o de que não existem condições para avançar com um processo de impeachment nesse ano", conclui.

"É interessante para a oposição manter esse assunto sempre sendo cogitado, com destaque na imprensa, com alguns políticos escalados indo à tribuna clamar pelo impeachment. Agora, isso tem um limite que precisa ser muito bem dosado, pois a popularidade de Lula continua alta junto ao eleitorado. Pelo menos os partidos que têm alguma chance de brigar nas eleições devem adotar uma postura de cautela, evitando patrocinar diretamente um pedido formal de impeachment do presidente", reforça o analista sênior da Arko Advice, Cristiano Noronha.

Tentativa de "golpe"

A tese do "golpismo", ganharia força nesse contexto, avaliam os consultores, uma vez que nem o relatório final da CPI Mista dos Correios, nem a denúncia da Procuradoria Geral da República ao STF, envolvem, diretamente, a figura do presidente no escândalo político. Mais: reforçaria a aproximação do presidente Lula com as camadas mais pobres da população.
 
Vale lembrar que a tese do golpismo é pregada pelos defensores do governo desde a primeira

manifestação oposicionista, meses atrás, sobre um possível impeachment de Lula. E está mais do que nunca presente nas manchetes dos jornais. "Achamos que o cerco político contra o governo está se esgotando por si mesmo", afirmou hoje, por exemplo, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, ao lembrar que o atual governo fez uma série de medidas que beneficiaram as classes sociais mais baixas.
Uma das dúvidas que fica sobre a possibilidade de um pedido de impeachment é se ele pode, em uma eventual segunda gestão de Lula no governo, derrubar o presidente reeleito e causar alguma confusão logo no início de governo. "É uma possibilidade remota, sim, mas é um fantasma que pode acompanhar Lula numa reeleição", lembra Noronha, da Arko Advice.

Segundo mandato

Mas mesmo a chance do impedimento ocorrer no segundo mandado, não é uma opinião

consensual. "Há uma onda de opiniões se formando sobre a possibilidade de um impeachment em um segundo mandato de Lula. Acredito que essa é uma análise demasiadamente influenciada pelo que está acontecendo agora. Quanto mais distante as acusações ficam, mais elas se transformam em um fato policial, de responsabilidade do MP ou do Judiciário", comenta o ex-ministro Maílson da Nóbrega, sócio da Tendências Consultoria.
"É preciso lembrar que, salvo um cataclisma na economia mundial, Lula seria reeleito com

popularidade alta e a economia em desenvolvimento, o que gera uma atração natural dos partidos políticos, tornando ainda mais improvável um impeachment. A não ser que a continuidade das investigações comprove alguma ligação direta de Lula com os envolvidos nas acusações, essa é uma hipótese remota", conclui.

Com Agência Estado