Bolsonaro joga militares na fogueira e pode incentivar delações no STF
Aliados do ex-presidente afirmam que ele repete com ‘kids pretos’ o mesmo erro que cometeu com Mauro Cid ao se esquivar da responsabilidade pelo plano golpista
Publicado 04/12/2024 12:25 | Editado 04/12/2024 16:39
A estratégia utilizada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro de jogar os militares investigados como principais beneficiários na tentativa de golpe de Estado está ameaçando uma onda de delações premiadas no Supremo Tribunal Federal (STF). Segundo aliados, Bolsonaro repete com ‘kids pretos’ o mesmo erro que cometeu com seu ex-ajudante-de-ordens, Mauro Cid, ao se esquivar da responsabilidade pelo plano golpista e apontar o dedo para os militares do seu entorno.
O sinal vermelho para Bolsonaro veio da defesa do general Mario Fernandes, um dos principais artífices do golpe dentre os 37 indiciados pela Polícia Federal (PF). Marcus Vinicius Figueiredo classificou os últimos movimentos da defesa do ex-presidente como “irresponsável” e a acusou de atuar como “promotor”.
“A colocação dele é irresponsável. Ele é advogado de defesa ou promotor? Está atuando como promotor. Como faz isso? Me causa perplexidade”, disse Figueiredo à coluna de Lauro Jardim, no O Globo.
A fala é reação a declaração do advogado de Bolsonaro, Paulo Cunha Bueno, que afirmou em entrevista à GloboNews, na última sexta (29), que generais como Braga Netto, Augusto Heleno e Mário Fernandes é que se beneficiariam de um golpe de Estado, e não o ex-presidente. Na fala, Cunha Bueno cita o general Fernandes literalmente.
“Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mario Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do ‘Plano Punhal Verde e Amarelo’ e, nessa junta, não estava incluído o presidente Bolsonaro. Não tem o nome dele (Bolsonaro) lá, ele não seria beneficiado disso. Não é uma elucubração da minha parte. Isso está textualizado ali. Quem iria assumir o governo em dando certo esse plano terrível, que nem na Venezuela chegaria a acontecer, não seria o Bolsonaro, seria aquele grupo”, disse.
Essas declarações causaram reações entre os defensores de oficiais alvos da investigação que viram na fala uma forma de Bolsonaro se esquivar da responsabilidade pelo plano golpista, apontando o dedo para os militares do seu entorno.
Embora a defesa de Mario Fernandes tenha negado qualquer intenção de firmar um acordo de delação premiada, a estratégia de Bolsonaro em culpar os militares de seu círculo próximo coloca em risco sua própria posição.
Ao agir com o instinto de sobrevivência que o levou a trair aliados como Mauro Cid, o ex-presidente corre o risco de encorajar os outros 23 militares indiciados pela PF a seguirem o mesmo caminho.
E talvez o maior erro de Bolsonaro seja com os indiciados conhecidos como “Kids Pretos”. Aliados de Bolsonaro afirmam que receberam a informação de que os “kids pretos”, também abandonados pelo ex-presidente, estariam avaliando a possibilidade de um acordo de delação.
Familiares dos militares estariam pressionando por essa colaboração, por sentirem que a defesa de Bolsonaro tenta transferir para eles qualquer tipo de culpa pela elaboração do golpe de Estado.
Bolsonaro e outras 36 pessoas, entre elas 24 integrantes da caserna, foram indiciados pela Polícia Federal pelos crimes de abolição violenta ao Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.