Mercosul e União Europeia avançam em acordo histórico, com resistências

Países como Alemanha, Espanha e Portugal permanecem como aliados do Brasil, apoiando o acordo, que pode ter anúncio nesta semana durante cúpula do Mercosul

Mercado europeu absorve bem produtos agrícolas brasileiros de alta qualidade.

Depois de 25 anos de negociações, o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia parece estar mais próximo do que nunca. Nos últimos dias, reuniões realizadas em Brasília trouxeram avanços significativos, resolvendo questões que estavam pendentes. Agora, a decisão final cabe aos líderes políticos de ambas as regiões, em um momento crucial para o futuro do pacto.

Fontes envolvidas no processo confirmaram ao colunista do UOL Jamil Chade que, apesar de alguns pontos ainda em aberto, os negociadores técnicos consideram o acordo “bem encaminhado”. No entanto, a aprovação definitiva depende de discussões políticas delicadas, especialmente dentro da União Europeia, onde países como França e Polônia expressaram forte oposição.

Avanços e desafios no tabuleiro político europeu

O principal entrave está na resistência francesa, liderada pelo presidente Emmanuel Macron, que enfrenta pressão de agricultores e de setores nacionalistas contrários ao acordo. Recentemente, o Parlamento francês aprovou uma resolução simbólica rejeitando o pacto, o que reflete o descontentamento interno. O governo da Polônia também se posicionou contra a abertura agrícola, unindo-se à França na tentativa de formar um bloco de oposição dentro da UE.

Apesar disso, Bruxelas e Brasília mantêm otimismo. Fontes indicam que a Comissão Europeia, responsável por liderar as negociações, pode avançar mesmo sem a anuência de Paris, desde que obtenha a aprovação do Conselho da Europa e do Parlamento Europeu.

A resistência francesa se intensifica devido à perspectiva de abertura do mercado europeu para 60 mil toneladas anuais de carne do Mercosul, o que gerou protestos de agricultores em várias cidades europeias. Macron teme que essa medida fortaleça a extrema direita nas eleições presidenciais de 2025, aprofundando a insatisfação rural e levando esse segmento a adotar um discurso nacionalista.

Enquanto isso, países como Alemanha, Espanha, Portugal e os escandinavos permanecem como aliados do Brasil, apoiando o acordo. A Itália, por sua vez, hesita entre interesses protecionistas e a necessidade de ampliar suas exportações para a América do Sul.

Concessões e preocupações ambientais

Nos últimos meses, o Brasil conquistou concessões importantes dos europeus, como a exclusão do setor de saúde do compromisso de abertura do Mercosul. Essa decisão protege as compras públicas do Sistema Único de Saúde (SUS) de fornecedores estrangeiros, mantendo o controle nacional sobre licitações de medicamentos e insumos.

No entanto, o Mercosul segue cauteloso em relação às medidas ambientais propostas pela UE, que poderiam punir com tarifas os países que não cumprirem metas de preservação. Há receio de que, após a implementação do acordo, os europeus utilizem essas medidas para justificar barreiras protecionistas adicionais a partir de 2025.

O Brasil exige um mecanismo de regulação que permita retaliar tarifas ambientais com barreiras a produtos europeus, como automóveis e maquinários, caso necessário. Essa demanda reflete a preocupação em manter equilíbrio no comércio entre os blocos.

Próximos passos e expectativas

Um anúncio oficial pode ocorrer na cúpula do Mercosul, marcada para 5 e 6 de dezembro, mas isso dependerá de acertos políticos dentro da Europa. Enquanto os negociadores técnicos acreditam que fizeram sua parte, a decisão está nas mãos dos líderes políticos, que precisarão equilibrar interesses nacionais e regionais para avançar.

O acordo, se confirmado, representará um marco no relacionamento entre os dois blocos, com potencial para impulsionar o comércio bilateral e reforçar a integração global. No entanto, a disputa entre interesses protecionistas e a necessidade de ampliação de mercados ainda mantém o desfecho em aberto.

“É um momento histórico, mas que exige prudência”, alerta uma fonte próxima às negociações em Brasília. Com as decisões políticas pendentes, a diplomacia brasileira aposta na construção de consensos para superar os últimos obstáculos. O futuro do pacto, agora, está por um fio.

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