Rússia avança na Ucrânia enquanto tensão nuclear e incertezas políticas aumentam

Nas últimas semanas, as forças russas registraram a maior expansão semanal de 2024, com 18% de controle sobre território ucraniano e 52% da população querendo o fim do conflito, mesmo com essas perdas

Veículo blindado Tigr-M seguido por lançadores de mísseis balísticos intercontinentais Yars enquanto veículos das tropas de foguetes estratégicos entram na Praça Vermelha. Foto: Eugeny Odinocov

O conflito na Ucrânia atinge um dos momentos mais críticos desde sua eclosão em 2022. Nas últimas semanas, as forças russas registraram avanços territoriais significativos, alcançando a maior expansão semanal de 2024, com a captura de cerca de 235 km², de acordo com o grupo de notícias independente Agentstvo. Esses avanços ocorrem em um contexto de crescente militarização, tensões nucleares e mudanças no apoio internacional, colocando em xeque as perspectivas de resolução do conflito.

Após dois anos de relativa estagnação, com a linha de frente mantendo-se estática ao longo de 1.000 quilômetros, os últimos avanços da Rússia, iniciados em julho, marcaram uma mudança na dinâmica do conflito. A região de Donetsk continua sendo o principal foco de atividade, com as forças russas avançando em direção às cidades estratégicas de Pokrovsk e Kurakhove. Com uma estratégia baseada em cerco e ataques de artilharia pesada, a Rússia consolidou sua posição em localidades estratégicas, enquanto expande sua presença em regiões ao norte, como Kharkiv.

Atualmente, a Rússia controla cerca de 18% do território ucraniano, incluindo toda a Crimeia, a maior parte de Donetsk e Luhansk, e porções significativas das regiões de Zaporizhzhia e Kherson. O presidente Vladimir Putin, que substituiu o ministro da Defesa em maio, afirma que os objetivos russos incluem o controle total do Donbass e a expulsão de tropas ucranianas de áreas estratégicas como a região de Kursk.

Dentro da Ucrânia, o desgaste causado pela guerra é evidente. Uma pesquisa recente revelou que a população está dividida, com 52% favoráveis a um fim rápido do conflito, mesmo com perdas territoriais, enquanto 38% defendem a continuidade da luta.

Avanços no campo de batalha

Segundo dados do DeepState, em novembro as tropas russas capturaram 600 km² de território, o equivalente à metade da área de Londres, o maior avanço mensal desde os primeiros dias da invasão. Especialistas acreditam que o novo comandante militar russo, nomeado por Vladimir Putin em maio, é um dos responsáveis pela aceleração no ritmo das operações.

Blogueiros militares russos destacam que a estratégia de cerco e bombardeio intensivo tem permitido consolidar ganhos territoriais, enquanto tropas ucranianas enfrentam dificuldades para conter o avanço. O Ministério da Defesa da Rússia anunciou na terça-feira a captura da vila de Kopanky, na região de Kharkiv, um dos focos de atividade militar ao norte de Donetsk.

Gastos militares e corrida armamentista

O Parlamento russo aprovou um orçamento militar recorde para 2025, equivalente a US$ 125 bilhões, o maior desde a era soviética. Por outro lado, a Ucrânia também aumentou significativamente seus investimentos em defesa, alocando 26% de seu PIB para gastos militares, um montante que supera US$ 53 bilhões.

A guerra entra em uma fase crítica, com a Rússia utilizando mísseis hipersônicos de alcance intermediário na Ucrânia e relatos não confirmados de tropas norte-coreanas lutando ao lado das forças russas. Moscou e Pyongyang não confirmaram oficialmente a presença desses contingentes, mas a possível aliança adiciona um elemento preocupante ao conflito.

No entanto, a Ucrânia enfrenta desafios logísticos e políticos para manter sua resistência. Atrasos no envio de armamentos ocidentais e uma possível redução do apoio dos EUA após a eleição de Donald Trump, que promete rever a ajuda militar a Kiev, aumentam a pressão sobre o governo de Volodymyr Zelenskyy.

Autoridades ucranianas reconhecem que a situação no leste é a mais crítica do ano, com combates intensos e atrasos na chegada de assistência militar ocidental. O presidente Volodymyr Zelensky culpou os longos prazos de entrega de equipamentos, agravados por questões políticas nos Estados Unidos, como um dos fatores que dificultam a defesa do país.

Tensão nuclear

O presidente russo, Vladimir Putin, revisou recentemente a doutrina nuclear de Moscou, permitindo o uso de armas nucleares em caso de ataques por estados não nucleares apoiados por potências nucleares. Essa mudança eleva os riscos de uma escalada global, especialmente após os recentes ataques da Ucrânia em território russo com mísseis fornecidos pelo Ocidente, como os ATACMS dos EUA e Storm Shadow do Reino Unido.

Em resposta, a Rússia utilizou seu míssil hipersônico “Oreshnik” contra a cidade ucraniana de Dnipro, em um movimento que especialistas interpretaram como um recado direto aos aliados ocidentais de Kiev.

Impactos internacionais

Com a eleição de Donald Trump nos EUA, a estratégia ocidental pode sofrer mudanças drásticas. Trump já indicou que pressionará por negociações de paz, possivelmente envolvendo concessões territoriais à Rússia. Essa abordagem divide analistas e preocupa aliados da Ucrânia, que temem uma fragmentação do apoio internacional.

A guerra na Ucrânia não apenas remodela o equilíbrio de poder na Europa Oriental, mas também aumenta as tensões globais, à medida que novos atores e armamentos entram no conflito.

A combinação de avanços russos, tensões nucleares e incertezas políticas aponta para um cenário de guerra prolongada. As próximas semanas, marcadas pela transição de liderança nos EUA e pelo fortalecimento militar russo, serão decisivas para o futuro da Ucrânia e para a estabilidade global. Enquanto isso, milhões de civis continuam sofrendo os impactos devastadores de um conflito que parece estar longe de uma resolução.

Com informações das agências internacionais

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