Rússia responde à Ucrânia e dispara míssil de capacidade nuclear
Ação mostra que Moscou não se intimida com recentes manobras dos EUA e que está disposta a esticar a corda, caso o Ocidente prossiga com a guerra de procuração
Publicado 21/11/2024 11:26 | Editado 23/11/2024 08:49
A guerra da Ucrânia ultrapassou nesta terça (19) a marca 2 mil dias atingindo o momento de maior tensão entre a Rússia e os países do Ocidente. Nesta quinta (21) os russos bombardearam a cidade ucraniana de Dnipro utilizando pela primeira vez no conflito um míssil intercontinental com capacidade nuclear.
O ataque é uma forte reação e demonstração de força contra a guerra de procuração perpetrada pelo Ocidente, que na semana passada autorizou Kiev a utilizar mísseis de longo alcance fabricados nesses países contra solo russo.
Segundo os ucranianos, o míssil intercontinental foi lançado da região de Astrakhan, no sul da Rússia, em ataque a Dnipro, no centro-leste da Ucrânia, na manhã desta quinta. As duas cidades são separadas por mil quilômetros.
O ataque teve como alvo empresas e infraestrutura crítica na cidade, segundo a Força Aérea ucraniana. O governador regional, Serhiy Lysak, afirmou que os mísseis russo danificaram uma instalação industrial e provocaram incêndios em Dnipro. Duas pessoas ficaram feridas.
O míssil balístico intercontinental é lançado a partir da terra e pode ser equipado com ogivas nucleares e, como o próprio nome indica, é projetado para viajar longas distâncias. Uma fonte da Força Aérea ucraniana afirmou à agência de notícias AFP que o míssil lançado pela Rússia não transportava uma ogiva nuclear.
Segundo a enciclopédia Britannica, apenas os Estados Unidos, Rússia e China possuem esse tipo de mísseis.
A ação representa uma sinalização de que a Rússia não vai se intimidar com as mais recentes manobras dos Estados Unidos e seus aliados e que está disposta a esticar a corda, caso o Ocidente prossiga avançando no xadrez da geopolítica.
Nesta terça (19), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, alterou a doutrina militar do país no em reação ao ataque ucraniano em que a Ucrânia atingiu, pela primeira vez, o território russo com mísseis de longo alcance produzidos pelos Estados Unidos.
Em resumo, a medida flexibiliza o uso de armas nucleares para defesa do próprio território. O documento ratifica a doutrina nuclear revisada – intitulada “Fundamentos da Política Estatal sobre Dissuasão Nuclear” – e atualiza as diretrizes do país contra ameaças de ataques nucleares ou convencionais.
Segundo o decreto, um de seus principais objetivos é “dissuadir um potencial adversário de agredir a Rússia e seus aliados”, de modo que esse país atacante “entenda a inevitabilidade da retaliação em caso de agressão contra a Rússia”.
Em declaração à imprensa, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que a “Federação Russa reserva o direito de usar armas nucleares em caso de agressão utilizando armas convencionais contra a Rússia e/ou a República de Belarus”.
A mudança na doutrina militar é uma reação à autorização que o presidente cessante dos Estados Unidos, Joe Biden, deu para a Ucrânia atingir alvos dentro do território russo com mísseis de longa distância, conhecidos como ATACMS, produzidos por empresas norte-americanas.
Valendo-se da permissão, os ucranianos lançaram pela primeira vez na madrugada de segunda (18) para terça um ataque aéreo utilizando seis desses mísseis, dos quais cinco foram abatidos pelo sistemas antiaéreos da Rússia, enquanto o sexto foi danificado.
Segundo o Ministério da Defesa russo, os fragmentos do míssil danificado “caíram no território técnico de uma instalação militar na província de Bryansk, causando um incêndio que foi rapidamente extinto”. A pasta informou ainda que não houve vítimas nem danos materiais.
Os mísseis balísticos são conhecidos como Sistema de Mísseis Táticos do Exército, ou ATACMS.
Os ATACMS, fabricados pela americana Lockheed Martin, são mísseis balísticos de curto alcance (existem artefatos que atingem mais de 12 mil quilômetros) que, dependendo do modelo, podem atingir alvos a 300 quilômetros de distância com uma ogiva contendo cerca de 170 quilogramas de explosivos.
Mísseis balísticos voam muito mais alto na atmosfera do que foguetes de artilharia e muitas vezes mais longe, retornando ao solo em velocidades incrivelmente altas devido à gravidade.
Os ATACMS podem ser disparados dos lançadores móveis HIMARS que os Estados Unidos forneceram à Ucrânia, assim como de lançadores mais antigos M270 enviados pela Grã-Bretanha e Alemanha.
Moscou emitiu comunicado considerando o uso desses mísseis como uma ingerência direta dos EUA na guerra e prometeu “uma nova fase do conflito”.
No dia seguinte, nesta quarta (20), as forças armadas ucranianas lançaram mais um ataque, desta vez uma série de mísseis Storm Shadow, produzidos pelo Reino Unido, contra a cidade de Mariano, perto da fronteira com o Cazaquistão.
Até aqui, a permissão concedida pelo Reino Unido aos ucranianos autorizava o uso do Storm Shadow pelas forças de Kiev apenas em território ucraniano. Depois que Washington autorizou ataques com armamentos norte-americanos contra alvos na Rússia, no entanto, Londres prosseguiu com o mesmo movimento.