Carrefour boicota carne do Mercosul e ministro rebate “ação orquestrada”

Ministério da Agricultura e Pecuária afirma que a medida reflete um protecionismo disfarçado que prejudica a transparência e a competitividade no comércio internacional

A JBS, grupo brasileiro, é o maior vendedor de carne do mundo.

O CEO do Carrefour na França, Alexandre Bompard, anunciou nesta quarta-feira (20) a suspensão da compra de carne produzida nos países do Mercosul para abastecer a rede de supermercados no território francês. A decisão, formalizada em uma carta ao presidente da FNSEA (Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da França), justifica-se, segundo Bompard, pelo não atendimento de normas e exigências francesas pelos produtos sul-americanos. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) do Brasil reagiu com veemência às declarações, classificando-as como “mentirosas”.

A decisão do Carrefour França foi duramente criticada pelo governo brasileiro. Em nota divulgada nesta quinta-feira (21), o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) afirmou que a medida reflete um protecionismo disfarçado que prejudica a transparência e a competitividade no comércio internacional.

Resposta brasileira: liderança e rigor na produção

O Brasil, maior exportador de carne bovina e de aves do mundo, reafirmou seu compromisso com padrões sanitários rigorosos que garantem a confiança de 160 países, incluindo a própria União Europeia, que há mais de quatro décadas importa e certifica a carne brasileira. Segundo o Mapa, o sistema brasileiro de defesa agropecuária é robusto, atendendo aos critérios mais exigentes globalmente.

“O Brasil mantém uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo e atua com total transparência no setor produtivo”, afirma a nota oficial. O ministério destacou ainda que o país apresentou à UE propostas avançadas para rastreabilidade eletrônica, alinhadas ao Regulamento de Desmatamento da União Europeia (EUDR), demonstrando compromisso com uma produção sustentável e rastreável.

Críticas ao protecionismo francês

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, foi enfático ao criticar o posicionamento do Carrefour, sugerindo que a medida parece ser parte de uma “ação orquestrada” para dificultar o avanço do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia. “É lamentável que interesses protecionistas estejam sendo disfarçados como preocupações técnicas, sem fundamento real”, disse.

Fávaro também alertou para o impacto negativo de práticas como esta no comércio global e na percepção dos consumidores. “O Brasil é reconhecido internacionalmente pela qualidade de seus produtos agropecuários, e não aceitaremos tentativas de manchar essa reputação com argumentos infundados.”

O peso do protecionismo no acordo Mercosul-UE

A decisão do Carrefour ocorre em um momento de tensão nas negociações do acordo Mercosul-União Europeia. Embora países como Alemanha e Espanha sejam favoráveis ao pacto, a oposição francesa é liderada por setores agrícolas que temem a concorrência de produtos sul-americanos mais competitivos.

Ao justificar o boicote, Bompard afirmou que espera inspirar outros varejistas a priorizarem a origem francesa da carne. Para especialistas, a declaração reflete um protecionismo que busca blindar o mercado interno francês de produtos estrangeiros, em detrimento de princípios de livre comércio.

Competitividade brasileira e os desafios globais

A postura do Carrefour também desconsidera o papel do Brasil como protagonista na segurança alimentar global. O país exporta alimentos de alta qualidade para diversas nações, contribuindo para atender à crescente demanda global por proteína animal. Além disso, a agropecuária brasileira é reconhecida por adotar práticas sustentáveis e avançar no combate ao desmatamento ilegal.

A tentativa de justificar o boicote com argumentos sanitários e ambientais sem embasamento técnico não apenas distorce os fatos, mas prejudica as negociações comerciais multilaterais que buscam equilibrar interesses de diferentes regiões.

O papel da transparência no comércio internacional

Ao rechaçar as acusações, o governo brasileiro destacou a importância de critérios técnicos e transparência nas relações comerciais. “O Brasil não aceitará tentativas vãs de desmerecer a reconhecida qualidade e segurança de seus produtos”, reiterou o Mapa.

A disputa reforça a necessidade de fortalecer acordos baseados em regras claras, que beneficiem tanto produtores quanto consumidores, evitando o retrocesso de barreiras protecionistas que comprometem a confiança mútua no comércio global.

A medida do Carrefour, restrita ao mercado francês, é vista como um gesto simbólico, mas contraproducente, que pode impactar negativamente as relações comerciais entre os blocos e manchar a imagem de um dos maiores players do comércio internacional. O Brasil, por sua vez, continua a defender sua liderança no setor agropecuário com transparência e compromisso com a sustentabilidade.

Impactos e reações

A decisão do Carrefour reflete a pressão de agricultores franceses contra o acordo, temendo a entrada de produtos agrícolas mais competitivos do Mercosul. O presidente francês, Emmanuel Macron, reafirmou na terça-feira (19) que protegerá os interesses do setor agrícola da França. “Nenhuma decisão será tomada às custas de nossos agricultores”, declarou após reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o G20, no Rio de Janeiro.

Por outro lado, a União Europeia tem buscado avançar no acordo, com apoio de países como Alemanha e Espanha, interessados em aumentar suas exportações de automóveis e produtos industriais para o Mercosul.

Apesar da resistência, a União Europeia busca formalizar o pacto até o final de 2024, ampliando cotas de entrada para produtos agrícolas do Mercosul, enquanto aumenta suas exportações industriais. Resta saber se medidas como a do Carrefour influenciarão o futuro do tratado.

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