Relatório indica que exército israelense quer ocupar Gaza por longo prazo

Eleições nos EUA mudam tabuleiro geopolítico no Oriente Médio e príncipe saudita classifica ações militares de Israel em Gaza como genocídio pela primeira vez

Soldados israelenses dirigem veículos enquanto patrulham o portão da fronteira durante a passagem de um comboio de ajuda do Programa Alimentar Mundial (PMA) pela passagem de Erez, Faixa de Gaza, Palestina Foto: Reprodução

A eleição do presidente Donald Trump nos Estados Unidos tem movimentado o tabuleiro geopolítico no conflito no Oriente Médio. O jornal israelense Haaretz publicou nesta quarta (13) que o exército do país está instalando “em velocidade máxima” estruturas militares de longo prazo na Faixa de Gaza, em evidente plano para permanecer no enclave pelo menos até ao final de 2025.

Por outro lado, o prínicipe saudita Mohammed bin Salman classificou como “genocídio” as ações de Israel contra o povo palestino. A afirmação foi feita durante um encontro entre líderes de países muçulmanos e árabes, em Riad, na segunda (11).

É a primeira declaração do príncipe herdeiro e verdadeiro governante da potência do Oriente Médio. A fala é um banho de água fria para as intenções do futuro presidente americano, que procura concretizar uma aliança entre a Arábia Saudita e Israel (um dos motivos do ataque de 7 de outubro, do Hamas).

A declaração saudita ocorre em meio a escalada no conflito na região pela extrema direita israelense, que também tem efetuado consecutivos ataques à Síria e ao Iêmen. Na Palestina e no Líbano o número de mortos ultrapassa os 45 mil.

Buscando escapar dos processos que responde por corrupção na Justiça de Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu aproveita a vitória política de Trump nos EUA para seguir seu plano genocida contra a Faixa de Gaza.

Nesta quarta, o diário israelense Haaretz, com tendências progressistas, publicou um relatório que indica a permanência do exército do país em Gaza até pelo menos 2025. De acordo com o jornal, os militares estão construindo infraestrutura, expandindo estradas e estabelecendo grandes instalações no enclave, em proporções que indicam a intenção de uma ocupação a longo prazo.

“O trabalho está progredindo a todo vapor. O que era uma barreira de terra com os escombros de edifícios destruídos há alguns meses agora é um canteiro de obras muito ativo. Estão sendo construídas largas estradas, antenas de celular estão sendo erguidas, redes de água, esgoto e eletricidade estão sendo instaladas e, é claro, há edifícios, alguns portáteis e outros nem tanto”, relatou o Haaretz.

“O ritmo de desenvolvimento das obras está a pleno vapor, e o objetivo – seja ele discutido abertamente ou não – é claro: construir a infraestrutura para a permanência prolongada das forças militares no campo, pelo menos na primeira fase”, prossegue o jornal.

Segundo o diário israelense, o exército está atuando para controlar ao menos quatro grandes áreas em diferentes partes do enclave palestino. Fontes informaram ao Haaretz que as dimensões não são finais e que o exército “está atualmente trabalhando para ampliá-lo ainda mais.”

Uma dessas áreas é o Eixo de Netzarim, corredor que conecta o leste e o oeste da Faixa de Gaza. Nesse local, após a remoção de construções, foi criada uma ampla faixa sem edificações, transformando o que antes eram bairros em uma zona desértica e militarizada. O objetivo é evitar movimentações militares do Hamas entre o sul e o norte de Gaza. 

O exército israelense também se estabeleceu no Corredor Salah al-Din, próximo à fronteira sul com o Egito, onde uma zona de amortecimento de até três quilômetros de largura foi criada para controlar o movimento de civis e grupos armados.

Outro ponto de ocupação é uma faixa ao longo da fronteira leste entre Gaza e Israel, onde o exército israelense mantém uma zona de segurança com cerca de um quilômetro de profundidade. A intenção dessa área é afastar ameaças, como mísseis antitanque, das comunidades israelenses próximas. 

Em cada um desses pontos, a presença militar israelense é reforçada por estruturas como antenas de comunicação, redes de água, esgoto e eletricidade, bem como edificações temporárias e permanentes, sinalizando uma ocupação planejada para se estender até pelo menos 2025, segundo fontes israelenses.

Declaração de Mohammed bin Salman

Na contramão das ações israelenses no Oriente Médio, a Arábia Saudita, através do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, classificou como “genocídio” as ações de Israel contra o povo palestino.

“O Reino renova sua condenação e rejeição categórica do genocídio cometido por Israel contra o povo palestino irmão”, disse o príncipe.

Mohammed bin Salman pediu à comunidade internacional que impeça Israel de atacar o Irã e que respeite a soberania do país. Os comentários seguem o mesmo tom de afirmações feitas pelo ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita no fim de outubro.

A declaração vinda do príncipe, no entanto, é considerada a primeira esticada de corda dos sauditas na relação com Israel. Em setembro, o príncipe herdeiro disse que o reino não reconheceria Israel a menos que um Estado palestino fosse criado — medida que é descartada pelo primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

A normalização das relações entre os países estava sendo intermediada pelos Estados Unidos e é a joia da coroa do novo presidente eleito dos EUA .

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