“Escala 6×1 é incompatível com a dignidade”, diz líder comerciário sobre PEC

Márcio Ayer, presidente do Sindicato dos Comerciários do RJ, defende jornada de 4 dias, convoca trabalhadores para atos e destaca benefícios em saúde, produtividade e empregos

Márcio Ayer | Foto: reprodução/Facebook

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que visa acabar com uma escala de trabalho 6×1, implementando uma jornada de quatro dias, ultrapassou o número necessário de assinaturas para começar a tramitar no Congresso Nacional. A iniciativa, proposta da deputada federal Erika Hilton (Psol-SP), com coautoria de Alice Portugal (PCdoB-BA), recebeu apoio expressivo: até a noite desta quarta-feira (13), 216 deputados já haviam assinado texto – número bem acima das 171 assinaturas necessárias.

Hilton frisou que a proposta ultrapassa barreiras ideológicas e vem unindo deputados de diferentes espectros, ressaltando o caráter suprapartidário da proposta. “Essa não é discussão de campo ideológico, mas de país. Tem unido a direta, o centro e a esquerda”, afirmou a parlamentar na Câmara.

A PEC, que propõe reduzir a jornada semanal de 44 para 36 horas, foi inspirada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT) e visa transformar o cenário de desgaste e sobrecarga enfrentado por milhões de trabalhadores brasileiros. Os defensores da proposta argumentam que o modelo atual de seis dias de trabalho e um de descanso é nocivo à saúde física e mental dos trabalhadores.

Márcio Ayer, presidente do Sindicato dos Comerciários RJ

Márcio Ayer, presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio de Janeiro, em entrevista ao Portal Vermelho, falou que uma mudança é urgente para proporcionar um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. “As trabalhadoras e os trabalhadores brasileiros vivem um paradoxo. Enquanto muitos estão desempregados ou frequentando a informalidade, aqueles que têm emprego em geral trabalham longas jornadas”, afirmou Ayer, destacando o impacto prejudicial do atual sistema de escala 6×1. “Não por acaso, ganha força na sociedade a proposta de redução da jornada de trabalho sem redução dos salários”, completou.

Para Ayer, a proposta apresentada por Hilton representa um avanço histórico nas condições de trabalho no Brasil, seguindo uma tendência mundial de adaptação da jornada ao bem-estar dos trabalhadores. “A escala 6×1 é incompatível com a dignidade dos trabalhadores, por não permitir qualquer possibilidade de equilíbrio entre trabalho, vida pessoal, descanso e autocuidado”, afirma ele, defendendo que a PEC é uma resposta às demandas dos trabalhadores por mais qualidade de vida.

 “São propostas que reconhecem a necessidade de adaptação do mercado de trabalho à realidade deste novo momento histórico e que atendem as demandas dos trabalhadores e trabalhadoras por melhor qualidade de vida”, enfatiza.

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O sindicalista ainda citou o exemplo do Reino Unido. “Em 2023, um grupo de empresas testou a jornada de quatro dias por semana. Durante seis meses, as empresas continuaram pagando 100% dos salários para os funcionários trabalharem 80% do tempo, ou seja, um dia a menos por semana. O resultado foi tão bom que 91% das empresas decidiram continuar com o esquema, mesmo após o fim do teste. Houve uma melhoria generalizada na saúde, menos estresse e maior satisfação entre os trabalhadores”, explica Ayer.

A proposta, entretanto, enfrenta resistência de alguns setores que consideram uma medida onerosa para as empresas, especialmente as pequenas e médias. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, sugeriu, na última segunda-feira (11), que o fim da escala 6×1 fosse tratado “convenção e acordos coletivos entre empresas e empregados”. Ayer, contudo, discorda. “O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, erra ao transferir a responsabilidade da luta pelo fim da escala 6×1 aos sindicatos, sugerindo que o “fim da escala 6×1 seja resolvida exclusivamente em acordos e convenções coletivas”. Cabe lembrar que os sindicatos estão enfraquecidos desde a reforma trabalhista de 2017. É chegada a hora do Governo e do Congresso assumirem seus papeis e priorizarem a vida dos trabalhadores”, critica.

“A nós, representantes de sindicatos e movimentos sociais, cabe engrossar as fileiras dessa luta. Temos a tarefa de esclarecer o maior número possível de trabalhadores sobre o assunto, além de criar canais de diálogo com empregadores e autoridades governamentais para que a redução da jornada de trabalho sem redução de salários se torne uma realidade”, conclui o líder comerciário.

A proposta de Erika Hilton se soma à PEC 221/2019, do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), que também visa reduzir a jornada e poderia representar uma mudança significativa no mercado de trabalho brasileiro. “Os ganhos com a redução da jornada de trabalho sem redução de variação refletem-se na economia como um todo: aumento da massa salarial, redução do desemprego e dinamização da economia por meio do aumento do consumo e da arrecadação de tributos”, ressalta Ayer, destacando que o potencial da proposta promove um “ciclo virtuoso” de crescimento econômico e melhoria nas condições de vida.

O sindicalista concluiu convocando os trabalhadores a se unirem em apoio ao PEC. Num ato previsto para o feriado de 15 de novembro, ele pediu mobilização popular em favor da jornada reduzida. “Convidamos todas as companheiras e companheiros a participar dos atos. Juntos, podemos construir um ambiente laboral mais justo, saudável e produtivo”, finaliza.

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