Voz das favelas do Brasil chega ao G20 com pautas cruciais
Documento traz recomendações políticas para combater a desigualdade e garantir inclusão das periferias nas discussões globais; iniciativa é inédita no fórum dos países ricos
Publicado 04/11/2024 18:58
Nesta segunda-feira (4), Dia Nacional da Favela, o fórum social Favela 20 (F20) lançou, no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro, um documento com seis recomendações políticas focadas nas necessidades das favelas. Com o apoio de mais de 300 organizações, o “Comuniquê” aborda temas cruciais como desigualdade, acesso à água e crise climática. O documento será apresentado na cúpula do G20, evento que reúne os 19 países mais ricos do mundo, além da União Europeia e a União Africana, nos próximos dias 18 e 19 de novembro também no Rio.
Com foco nos três eixos principais da presidência brasileira do G20 – combate às desigualdades, sustentabilidade e reforma da governança global – o F20 apresentou recomendações que conectam desafios socioeconômicos e ambientais de forma integrada. Entre as pautas prioritárias, destacam-se:
- Combate à pobreza, fome e desigualdades;
- Promoção da saúde mental e segurança pública;
- Acesso à água potável, saneamento básico e higiene;
- Resiliência frente a desastres naturais;
- Inclusão digital e cultural;
- Finanças sustentáveis.
“O ponto central das seis recomendações que estamos debatendo é que, de fato, aconteça um maior investimento”, explicou Erley Bispo, cofundador do F20. Ele defende a criação de um fundo dedicado a essas comunidades, que facilite o acesso a saneamento, moradia e infraestrutura adequadas. “Só assim conseguiremos garantir os direitos para empreendedores locais, mulheres, jovens e população LGBTQIA+”, afirmou Bispo.
A favela como agente de transformação
O Favela 20, criado pela ONG Voz das Comunidades, atua para levar os desafios das favelas aos líderes mundiais. René Silva, também cofundador do projeto, ressaltou a importância dessa representatividade: “As vozes das realidades periféricas são frequentemente silenciadas. Os nossos desafios e nossas perspectivas são deixados de lado. Estamos aqui para mostrar que as favelas fazem parte da solução e podem contribuir com políticas públicas significativas”, pontuou.
“Nunca nos foi perguntando se no Complexo do Alemão os moradores preferiam acesso a um teleférico que está parado desde 2016, logo após as Olimpíadas, ou se preferiam maior acesso a saneamento básico, água potável e tecnologia”, criticou René Silva, enfatizando a importância da participação ativa das comunidades na definição de suas prioridades.
Gabriela Santos ,cofundadora do Voz das Comunidades e do F20, ressaltou que o projeto participou de conferências internacionais, como a Semana do Clima em Nova York e a Trilha de Finanças do G20. “Participar desses espaços onde a gente não tinha voz foi muito significativo, para mostrar também que o G20 está nos dando oportunidade de voz, neste momento em que conseguimos nos comunicar com outros países sobre o que acontece dentro das favelas”, afirmou Gabriela, destacando a exclusão financeira como um dos maiores desafios enfrentados por essas comunidades.
Financiamento sustentável e a criação de um fundo social
O documento propõe apoio de bancos multilaterais e nacionais de desenvolvimento para financiar projetos de infraestrutura, como saneamento, energia sustentável e conectividade. “Essas instituições, de maneira global, têm potencial de financiar projetos de infraestrutura. Elas podem fornecer os recursos necessários para melhorar as áreas de saneamento, energia sustentável, transportes, conectividade. Em finança sustentável, a economia é a base do nosso documento e da nossa conversa quando falamos sobre todas as recomendações levadas ao G20”, afirmou Gabriela.
O F20 também defende a criação de um fundo de impacto social focado em habitação, educação e empreendedorismo. “Que essa linha siga uma aliança global contra a fome e a pobreza, focando em habitação, educação e empreendedorismo de maneira geral. Esse é um dos pontos, mas tem outros que estão no documento”, explicou Gabriela, destacando a necessidade de alianças internacionais para reduzir desigualdades.
Desafios e metas para o futuro
Ao final, o objetivo do F20 é garantir que as demandas das favelas não apenas sejam ouvidas, mas se tornem prioridade nas políticas globais. “Um dado interessante é que, atualmente, 1 bilhão de pessoas vive em favelas e periferias. Se não tivermos um planejamento adequado, até 2050 serão 3 bilhões. A inclusão das favelas na agenda global é urgente para evitar novas tensões e conflitos sociais”, concluiu Bispo.
Além de aumentar a visibilidade das pautas das favelas, o F20 pretende monitorar a implementação das recomendações na proposta final do G20. “Estamos aproveitando o Dia Nacional da Favela para que autoridades do G20 e brasileiros assinem o compromisso de integrar essas recomendações ao documento final do bloco”, concluiu Erley Bispo.
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com agências