Lula defende nova moeda para fortalecer transações entre países do Brics

O presidente participa da reunião de Cúpula do Brics por meio de viodeconferência. Ao ressaltar a nova ordem multipolar, ele defende um sistema financeiro sem a dependência do dólar

(Fotos: Reprodução)

Por meio de videoconferência, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursa nesta quarta-feira (23) na sessão plenária da 16ª reunião de cúpula do Brics. Na defesa de uma ordem multipolar, Lula defende uma moeda em comum para as transações entre os países do bloco.

“Agora é chegada a hora de avançar na criação de meios de pagamento alternativos para transações entre nossos países. Não se trata de substituir nossas moedas. Mas é preciso trabalhar para que a ordem multipolar que almejamos se reflita no sistema financeiro internacional”, propôs, referindo-se à dependência do dólar nas transações mundiais.

Para o brasileiro, essa discussão precisa ser enfrentada com seriedade, cautela e solidez técnica, mas não pode ser mais adiada.

“Muitos insistem em dividir o mundo entre amigos e inimigos. Mas os mais vulneráveis não estão interessados em dicotomias simplistas. Por isso, o lema da presidência brasileira será ‘Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável’”, disse.

Leia mais: Xi defende amizade entre China e Rússia em meio a pressão do Ocidente

O presidente destaca a importância do bloco para a economia mundial. Até o ano passado, o grupo era formado apenas por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A atual reunião conta com a participação dos novos membros: Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos e Etiópia.

Dessa forma, Lula considera o atual sistema injusto do ponto de vista das participações globais.  

“Representamos 36% do PIB global por paridade de poder de compra. Contamos com 72% das terras raras do planeta, 75% do manganês e 50% do grafite. Entretanto, os fluxos financeiros continuam seguindo para nações ricas. É um Plano Marshall às avessas, em que as economias emergentes e em desenvolvimento financiam o mundo desenvolvido”,

Para ele, as iniciativas e instituições do Brics rompem com essa lógica. “A atuação do Conselho Empresarial contribuiu para ampliar o comércio entre nós. As exportações brasileiras para os países do BRICS cresceram doze vezes entre 2003 e 2023. O Brics é hoje a origem de quase um terço das importações do Brasil”, destaca.

O presidente cita exemplo exitosos como a Aliança Empresarial de Mulheres que criou redes para fomentar o empoderamento econômico feminino e combater as desigualdades de gênero que persistem.

“Por meio do Mecanismo de Cooperação Interbancária, nossos bancos nacionais de desenvolvimento vão estabelecer linhas de crédito em moedas locais, que reduzirão os custos de transação de pequenas e médias empresas”, assegura.

Banco do Brics

Com a presença na mesa da ex-presidente Dilma Roussef, atual presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), também conhecido como banco do Brics, Lula destaca os investimentos em infraestrutura para fortalecer as economias dos países membros.

“Sob a liderança da companheira Dilma Rousseff, o NDB conta atualmente com uma carteira de quase 100 projetos e com financiamentos da ordem de 33 bilhões de dólares”, explica.

Lula diz que o banco do Brics foi pensado para ser bem-sucedido num ambiente onde as instituições de Bretton Woods continuam falhando.

“Em vez de oferecer programas que impõem condicionalidades, o NDB financia projetos alinhados a prioridades nacionais. Em vez de aprofundar disparidades, sua governança se assenta na igualdade de voto”, elogia.

Paz

Em meio as guerras no planeta, o presidente diz que as populações querem “comida farta, trabalho digno e escolas e hospitais públicos de acesso universal e de qualidade”. “E um meio ambiente sadio, sem eventos climáticos que ponham em risco sua sobrevivência. E uma vida de paz, sem armas que vitimam inocentes”, defende.

Lula lembra da fala do presidente turco Tayyip Erdogan na Assembleia Geral da ONU, para quem Gaza se tornou “o maior cemitério de crianças e mulheres do mundo”.

“Essa insensatez agora se alastra para a Cisjordânia e para o Líbano. Evitar uma escalada e iniciar negociações de paz também é crucial no conflito entre Ucrânia e Rússia. No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns”, diz.

Presidência do Brics

Lula também destaca que, no próximo ano, o Brasil voltará à presidência do Brics. Nesse sentido, ele reafirma a vocação do bloco na luta por um mundo multipolar e por relações menos assimétricas entre os países.

“Não podemos aceitar a imposição de ‘apartheids’ no acesso a vacinas e medicamentos, como ocorreu na pandemia, nem no desenvolvimento da Inteligência Artificial, que caminha para tornar-se privilégio de poucos. Precisamos fortalecer nossas capacidades tecnológicas e favorecer a adoção de marcos multilaterais não excludentes, em que a voz dos governos prepondere sobre interesses privados”, ressalta.

Mudança climática

O presidente disse ainda que o Brics é ator incontornável no enfrentamento da mudança do clima. Todavia, considera não haver dúvida de que a maior responsabilidade recai sobre os países ricos, cujo histórico de emissões culminou na crise climática.

“É preciso ir além dos 100 bilhões anuais prometidos e não cumpridos, e fortalecer medidas de monitoramento dos compromissos assumidos. Os dados da ciência exprimem um sentido de urgência sem precedentes. O planeta é um só e seu futuro depende da ação coletiva”, diz.

Disse que aos países emergentes farão sua parte para limitar o aumento da temperatura global a um grau e meio.

“Na COP 30, em Belém, vamos juntos mostrar que é possível conciliar maior ambição em nossas Contribuições Nacionalmente Determinadas com o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas”, prevê.

Autor