Nunes foge de debate e Boulos diz que São Paulo precisa de um líder
Candidato aproveitou a sabatina para definir responsabilidades sobre o apagão
Publicado 17/10/2024 17:43 | Editado 18/10/2024 19:38
O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, cancelou sua participação no debate UOL/Folha/RedeTV!, que ocorreria nesta quinta-feira (17), às 10h20, contra o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). O evento estava previamente confirmado pelas campanhas de ambos os candidatos, que haviam assinado as regras do encontro. No entanto, Nunes alegou que não poderia comparecer devido a uma reunião extraordinária com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), em razão de alertas da Defesa Civil para fortes chuvas no estado.
A atitude gerou duras críticas de seu principal adversário, Guilherme Boulos (PSOL), assim como de jornalistas e colunistas da imprensa. Durante a entrevista, Boulos apontou a ausência recorrente de Nunes em debates e compromissos com a cidade, afirmando que o atual prefeito “fugiu de suas responsabilidades” em meio à crise gerada pelo apagão que atinge São Paulo desde sexta-feira (11). “É lamentável ver Ricardo Nunes fugir mais uma vez. Durante três anos e meio, ele fugiu das responsabilidades de prefeito e agora foge de um debate com medo de confrontar ideias”, disse Boulos em sua fala inicial.
Boulos aproveitou o espaço para convocar os eleitores a um “debate com o povo”, que será realizado na Praça Ramos, em frente ao Teatro Municipal, nesta sexta-feira (18). “Chega de prefeito nanico, São Paulo precisa de um líder!”, declarou Boulos, destacando que o prefeito apenas começou a agir nos meses próximos à eleição e fugiu da responsabilidade de debater com a população em um momento crítico.
Críticas ao apagão e à gestão de Nunes
Além das ausências nos debates, Boulos criticou Nunes pela má gestão durante o apagão, revelando que cerca de 7.600 pessoas aguardam na fila por podas de árvores, com prazos de espera que ultrapassam um ano. Como solução, o candidato do PSOL propôs o uso de tecnologias avançadas, como monitoramento via satélite e chipagem das árvores, para garantir a eficiência no serviço de poda em São Paulo. Ele também reiterou a proposta de tirar a empresa Enel da gestão de energia na cidade.
Boulos criticou duramente a concessionária de energia Enel, classificando-a como uma “empresa horrorosa” e afirmando que, se eleito, seu governo iria trabalhar para romper o contrato da empresa com a cidade. “A Enel piorou os serviços e tornou a conta de luz mais cara. A responsabilidade pelo apagão é dela, mas também do prefeito, que não fez o básico, como podar árvores e cuidar da zeladoria da cidade.”
Durante a sabatina, o candidato do PSOL apresentou documentos que, segundo ele, provam a responsabilidade direta da prefeitura pela remoção de árvores que caíram sobre a rede elétrica durante os temporais. “Desde junho, a responsabilidade pela retirada das árvores é da prefeitura, por um acordo firmado com a Enel. Ricardo Nunes não fez sua parte e, agora, tenta se esconder por trás de desculpas”, afirmou Boulos, disponibilizando o documento aos jornalistas presentes.
Boulos defendeu a necessidade de uma gestão mais eficiente e transparente, com maior investimento em tecnologias para monitoramento de árvores e melhorias na infraestrutura da cidade, como o enterramento de fios em áreas críticas. “O enterramento total da rede elétrica é caro, mas nós podemos priorizar as áreas mais vulneráveis, onde os apagões são recorrentes”, explicou.
Ao ser questionado sobre a posição do governo federal em relação à Enel, Boulos destacou que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, já havia cobrado providências da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) para avaliar a caducidade do contrato da empresa. “A responsabilidade de fiscalização é da agência estadual Arcesp, cujo presidente foi indicado pelo governador Tarcísio. Então, não adianta o governo estadual tentar se isentar”, apontou Boulos.
O encontro se encerrou com uma promessa do candidato de continuar lutando pela população, mesmo sem estar no cargo. “Já entrei com ações na Justiça para responsabilizar a Enel e a prefeitura pelas perdas que os paulistanos estão sofrendo. Nós vamos continuar defendendo a cidade, com ou sem a caneta na mão”, concluiu Boulos.
Enquanto isso, a ausência de Nunes gerou críticas nas redes sociais e entre o público presente. O próximo debate, marcado para ocorrer no SBT, ainda é aguardado com expectativa, embora Boulos tenha mencionado que Nunes já teria cancelado sua participação novamente.
Colunistas como Leonardo Sakamoto e Josias de Souza, presentes na cobertura do debate, também criticaram a falta de transparência de Nunes. “O crime do Ricardo Nunes foi ter disfarçado mal a sua covardia. O cúmplice é óbvio, é o Tarcísio de Freitas”, afirmou Josias, sugerindo que o apoio de Tarcísio ao prefeito é uma tentativa de protegê-lo das críticas.
Sakamoto acrescentou que a ausência de Nunes não é apenas um desrespeito ao debate, mas também ao povo de São Paulo, que ficou sem respostas sobre o apagão. “Ele se furtou de tratar sobre um apagão com o povo de São Paulo e o Tarcísio deu respaldo a ele”, criticou.
Prioridade a obras de asfalto em vez de melhorias estruturais
Guilherme Boulos criticou a gestão do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) por investir quase R$ 7 bilhões em recapeamento de ruas, enquanto outras melhorias estruturais mais urgentes, como o enterramento da fiação elétrica, foram negligenciadas. O candidato argumentou que o asfalto, além de prejudicar o crescimento das árvores e aumentar o risco de queda durante tempestades, não soluciona problemas de infraestrutura que afetam diretamente a população, como os frequentes apagões.
Boulos afirmou que, com o montante investido em asfalto, seria possível enterrar cerca de 600 quilômetros de fiação, área equivalente à do centro expandido da cidade. Segundo ele, o enterramento da fiação é uma medida fundamental para evitar novos apagões e garantir a segurança energética de São Paulo. “Esses recursos poderiam ser muito melhor utilizados se fossem direcionados para prevenir apagões e melhorar a infraestrutura elétrica da cidade”, destacou.
Críticas à gestão eleitoreira e superfaturamento de obras
Boulos também acusou Nunes de adotar uma postura “eleitoreira”, priorizando obras de grande visibilidade apenas em ano eleitoral e não oferecendo soluções de longo prazo para os problemas estruturais de São Paulo. Ele ressaltou que, em três anos, o atual prefeito não entregou nenhum novo Centro Educacional Unificado (CEU) ou hospital municipal, o que, segundo ele, evidencia o foco apenas em manter a popularidade em véspera de eleição.
O candidato ainda mencionou investigações em curso sobre obras sem licitação, realizadas pela gestão de Nunes. Ele afirmou que o Ministério Público abriu um inquérito para apurar suspeitas de superfaturamento e favorecimento de aliados próximos do prefeito, destacando o valor de R$ 50 milhões destinados a obras de caráter emergencial. “Precisamos de uma gestão que use o dinheiro público com responsabilidade, e não para atender interesses particulares”, frisou Boulos.
Investimento no enterramento de fiação e parceria com o governo federal
Questionado sobre o valor necessário para o enterramento dos fios em São Paulo, Boulos explicou que a prefeitura precisaria realizar estudos técnicos para mapear as regiões mais vulneráveis e definir a extensão exata da rede que precisaria ser enterrada. Ele mencionou que o projeto exigiria uma combinação de recursos da prefeitura, do governo federal e de outras parcerias, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Boulos garantiu que não haveria aumento na conta de luz para os consumidores, criticando a proposta de Ricardo Nunes, que teria sugerido a criação de taxas para financiar a obra. “A população já paga muito caro pela energia elétrica. Temos que buscar alternativas de financiamento, como o apoio do BNDES e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”, afirmou.
Apoio a trabalhadores de aplicativos
O candidato à Prefeitura de São Paulo refletiu sobre os desafios enfrentados em sua campanha e fez autocríticas a respeito da dificuldade de dialogar com setores importantes da sociedade. Em meio a uma campanha acirrada contra o atual prefeito Ricardo Nunes, o candidato abordou a questão da conexão da esquerda com grupos de trabalhadores que, segundo ele, “prosperam do seu jeito”, destacando que o campo progressista tradicionalmente focou em trabalhadores organizados, deixando de lado aqueles que buscam soluções empreendedoras na periferia.
O candidato reconheceu que a extrema-direita ocupou espaços de diálogo que, por falta de atenção, a esquerda acabou não preenchendo. “Eu e minha equipe tivemos a compreensão e a humildade de fazer uma meia-culpa. Não dialogamos com um setor importante dos trabalhadores, que buscou sua prosperidade de uma outra forma por conta própria, como motoristas de aplicativos e pequenos empreendedores”, afirmou ele.
Entre as propostas mencionadas, uma das mais destacadas foi a isenção dos motoristas de aplicativos do rodízio de veículos em São Paulo. Segundo ele, essa medida permitiria a esses trabalhadores utilizar seus carros para gerar renda todos os dias, sem a interrupção imposta pelo rodízio, o que impactaria positivamente suas finanças.
Diálogo com a periferia
O candidato também ressaltou sua vivência pessoal na periferia, mencionando que é o único candidato que reside nessas áreas e que sua trajetória de luta por justiça social e igualdade reflete o compromisso de sua campanha. Ele listou as regiões onde teve expressiva votação no primeiro turno, como Cidade Tiradentes, São Mateus e Capão Redondo, e convocou a população para continuar apoiando sua candidatura. “A periferia de São Paulo sabe o que está sofrendo”, disse, mencionando os altos índices de desigualdade e precariedade nos serviços públicos nessas áreas.
A campanha do candidato também conta com o apoio do presidente Lula, que participará de eventos importantes nos próximos dias. Ele enfatizou que o envolvimento de Lula é crucial para conquistar os eleitores que votaram no ex-presidente nas eleições anteriores, especialmente aqueles que vivem na periferia.
O candidato também mencionou a necessidade de se conectar com os eleitores de Pablo Marçal, cuja votação no primeiro turno foi expressiva. Segundo ele, muitos dos eleitores de Marçal são pessoas que, assim como os trabalhadores de aplicativos, encontraram maneiras de prosperar individualmente. “Estamos dialogando com essas pessoas, e tenho certeza que podemos conquistar muitos desses votos”, comentou.
Ao final da entrevista, Boulos reforçou seu compromisso com a cidade, afirmando que irá “colocar São Paulo no lugar que ela merece” e que, ao contrário de seu adversário, tem propostas claras para resolver os problemas da capital. Ele ressaltou a importância de uma gestão inovadora e responsável, em vez de um prefeito “omisso e sem pulso”. Boulos também voltou a questionar Nunes sobre a abertura de sigilo bancário, um tema que o atual prefeito tem evitado responder.
Fuga pela direita
A equipe de comunicação de Ricardo Nunes informou, durante a madrugada, que o prefeito não compareceria ao debate devido à urgência da reunião com o governador, marcada após o alerta de chuvas que podem alcançar até 200 mm no próximo fim de semana. O estado de São Paulo deve ser atingido por rajadas de vento de até 60 km/h. Desde a tempestade ocorrida na sexta-feira passada, a campanha de Nunes tem cancelado compromissos, priorizando as demandas emergenciais da Prefeitura.
No primeiro debate do segundo turno, realizado pela Band na última segunda-feira (14), Nunes e Boulos trocaram acusações em relação ao apagão que deixou diversos imóveis da cidade sem energia. Ambos criticaram a Enel, responsável pelo fornecimento de energia, e cobraram medidas para restabelecer o serviço.
A Justiça determinou que a Enel restabelecesse o fornecimento de energia para todos os imóveis afetados pelo apagão, sob pena de multa de R$ 100 mil por hora de descumprimento. Até o último boletim da empresa, 74 mil imóveis ainda permaneciam sem energia desde a sexta-feira (11).