Eleição 2024 teve abstenção elevada e recorde de prefeitos reeleitos
Com exceção do ano da pandemia, a abstenção em 2024 foi, proporcionalmente, a maior desde 2000
Publicado 08/10/2024 18:00 | Editado 10/10/2024 12:38
A pandemia iniciada em 2020 passou, mas suas sequelas permaneceram. Há quatro anos, a crise de Covid-19 adiou as eleições municipais, provocou uma alta nas taxas de abstenção e favoreceu a reeleição de prefeitos. Para 2024, esperava-se uma retomada de padrões históricos – tanto de comparecimento à urna quanto de mandatários reeleitos.
Mas a primeira eleição nas cidades após a pandemia manteve, inesperadamente, as duas tendências. Tome-se o exemplo de Poços de Caldas, o maior colégio eleitoral do Sul de Minas Gerais. Com a ameaça do novo coronavírus, o índice de eleitores ausentes passou de 22,70% em 2016 para 33,28% em 2020. Agora, em 2024, a taxa foi de 32,67%.
O fenômeno não se restringiu a municípios interioranos ou litorâneos. Nas capitais, a abstenção surpreendeu. Em Porto Alegre, 22,51% dos eleitores deixaram de votar em 2016 – percentual que, sob a pandemia, disparou para 33,08% em 2020. Já nas eleições deste domingo (6), 31,51% se abstiveram.
De acordo com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), o índice geral de abstenção, em todo o País, foi de 21,71% – mais próximo à da taxa de 2020 (23,15%) do que do percentual de 2016 (17,58%). Com exceção do ano da pandemia, a ausência em 2024 foi, proporcionalmente, a maior desde 2000.
Em números absolutos, quase 34 milhões de brasileiros renunciaram ao direito ao voto no primeiro turno. Na visão da presidenta do TSE, ministra Cármen Lúcia, a taxa de abstenção “continua sendo alta” – e é preciso pensar em estímulos para que o eleitor “queira e tenha vontade de votar”.
O desafio não é apenas da Corte. Se a abstenção elevada se consolidar como um novo paradigma, partidos e candidatos terão, cada vez mais, de dedicar parte da campanha a convencerem eleitores a votarem. Em disputas como a de São Paulo, onde os três primeiros colocados na corrida à prefeitura praticamente empataram em percentuais de votos válidos.
A segunda tendência a ser notada é a taxa de sucesso de candidatos a prefeito que buscam a reeleição. Na década passada, com as manifestações dúbias de Junho de 2013 e a criminosa operação Lava Jato, houve uma onda antipolítica – e, notadamente, antiesquerda. O índice de prefeitos reeleitos caiu de 54% em 2012 para 46% em 2016 – o pior percentual na história.
Com a comoção imposta pela pandemia nas eleições 2020, a taxa de reeleição saltou para 63% – o que já era uma cifra acima da média histórica. Em 2024, porém, houve um recorde: de 2.900 prefeitos que tentaram mais um mandato, 2.444 se reelegeram – o equivalente a 83%. O número pode ser ainda maior, já que, em 52 municípios, haverá segundo turno no próximo dia 27.
Levantamento do site Poder360 aponta um fator determinante para essa maré de continuidade: a explosão de emendas parlamentares pagas entre 2021 e 2024. Deputados precisam do apoio de prefeitos para executarem a maioria dessas emendas. Os gestores municipais, em contrapartida, contam com recursos federais para compensar seus orçamentos limitados e deixar um legado de obras e empreendimentos.
De acordo com o levantamento, nos cem municípios com mais emendas, por eleitor, nada menos que 50 dos 51 prefeitos candidatos se reelegeram – uma taxa de 98%. Na outra ponta, mesmo nos municípios com menos emenda por eleitor, 70% dos prefeitos que tentaram mais um mandato venceram o pleito.
Esse conjunto de estatísticas deve ser contraposto ao ranking dos partidos que mais elegeram prefeitos no domingo. O eleitorado brasileiro não necessariamente preferiu mais o Centrão ou a direita – mas, sim, optou pela continuidade. A marca de 2.444 municípios em que houve reeleição representa 44% das cidades brasileiras. Em 2020, foram 40%.