Bolsonaro abandona campanha em São Paulo e tenta salvar influência no Rio
Nem Nunes, nem Bolsonaro querem ter suas imagens associadas, em São Paulo. No Rio de Janeiro, reduto do bolsonarismo, o ex-presidente tenta forçar a entrada de Ramagem no segundo turno.
Publicado 02/10/2024 17:20 | Editado 02/10/2024 17:43
O desânimo de Jair Bolsonaro com seus candidatos nas principais capitais do país revela uma fase dúbia para o ex-presidente em sua tentativa de influenciar as eleições municipais de 2024. Mesmo sendo uma figura central na política brasileira, Bolsonaro parece enfrentar dificuldades em solidificar o sucesso de seus aliados em várias cidades, especialmente São Paulo, onde optou por não se envolver diretamente, apesar dos apelos do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Em São Paulo, Bolsonaro se distancia da campanha de Ricardo Nunes (MDB), que também hesitou em buscar o apoio explícito do ex-presidente. Essa relutância mútua parece ter criado um vácuo na relação política, já que Nunes não é visto pelos bolsonaristas como um verdadeiro representante do ex-presidente, e Bolsonaro, por sua vez, não quis se associar completamente a um candidato que não fortalece sua imagem no estado mais populoso do país. Esse afastamento revela o dilema enfrentado por Bolsonaro ao tentar manter relevância política sem associar seu nome a candidaturas que possam prejudicar sua base eleitoral.
Última tentativa no Rio
Já no Rio de Janeiro, reduto eleitoral de Bolsonaro, a situação é diferente. O ex-presidente decidiu concentrar seus esforços ao lado de Alexandre Ramagem (PL), ex-diretor da Agência Nacional de Inteligência (Abin) e candidato à Prefeitura da capital fluminense. Bolsonaro pretende passar os últimos dias de campanha ao lado de Ramagem, uma tentativa clara de impulsionar a candidatura de seu aliado, que enfrenta o atual prefeito Eduardo Paes (PSD), líder nas pesquisas.
A decisão de Bolsonaro de intensificar sua presença no Rio de Janeiro reflete tanto seu apego ao reduto quanto sua tentativa de ressuscitar a campanha de Ramagem, que está atrás nas intenções de voto. As pesquisas indicam que Paes mantém uma liderança confortável, com índices que variam entre 49% e 53% de preferência, enquanto Ramagem aparece com 20% a 32%, dependendo da sondagem. Com a chegada de Bolsonaro, a campanha de Ramagem espera conseguir uma reviravolta suficiente para garantir um segundo turno.
No entanto, o cenário político revela uma realidade mais complexa. O fraco desempenho dos outros candidatos bolsonaristas nas principais capitais do país demonstra que o apoio do ex-presidente, embora ainda significativo, já não é tão decisivo quanto foi no auge de sua popularidade. Bolsonaro vê seus candidatos liderando apenas em oito das 26 capitais, e em cidades como Fortaleza, São Paulo e Rio Branco, as disputas estão acirradas. Em Fortaleza, a batalha acirrada entre o bolsonarista André Fernandes (PL) e o petista Evandro Leitão (PT) é emblemática da polarização política que ainda domina o Brasil.
Enquanto o PT de Lula mantém liderança isolada em três das principais cidades brasileiras, incluindo Juiz de Fora (MG), Contagem (MG) e Camaçari (BA), o PL, partido de Bolsonaro, luta para manter a competitividade em diversas regiões. Em capitais como Recife (PE) e Goiânia (GO), candidatos apoiados por Lula estão na frente, evidenciando o desafio de Bolsonaro em manter sua base unida e competitiva em âmbito nacional.
A frustração de Bolsonaro com a campanha eleitoral reflete uma mudança no cenário político brasileiro, onde a influência pessoal de líderes como ele ou Lula ainda importa, mas não garante automaticamente vitórias eleitorais. As eleições de 2024 são um teste para o bolsonarismo, que, embora ainda relevante, enfrenta uma resistência crescente nas urnas e nas alianças políticas, particularmente nas maiores capitais do país.
Essa aparente falta de entusiasmo e engajamento do ex-presidente em certos redutos políticos pode ser um indicativo de sua tentativa de preservar seu capital político para disputas futuras, evitando associar seu nome a candidaturas que ele julga não terem grandes chances de sucesso. Ao final, Bolsonaro pode estar apostando em um jogo de longo prazo, preparando o terreno para 2026, enquanto tenta salvar o máximo de influência em 2024, especialmente em redutos chave como o Rio de Janeiro.