Brasil teve mais de 400 casos de violência política neste ano

Conforme levantamento ainda parcial de observatório da Unirio, houve, ao menos 52 assassinatos. Dados consideram candidatos, detentores de cargos no Executivo e parlamentares

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Os casos de violência política no período eleitoral de 2024 cresceram ao longo dos últimos meses e já são recorde em relação ao pleito municipal anterior, de 2020. Somente entre janeiro e o dia 16 de setembro, foram verificados ao menos 455 casos de violência deste tipo em todo o país, dentre os quais estão 52 homicídios de lideranças políticas e 15 de familiares. 

Além disso, foram mais de cem casos de agressões físicas e 230 ameaças. No recorte por sexo, a grande maioria dos casos de violência foram contra homens, 329, e 126 contra mulheres. Na contabilidade geral, são considerados candidatos e pré-candidatos, detentores de mandatos — como prefeitos, vices, vereadores e deputados — e pessoas que fazem parte da administração pública. 

Os dados são parciais e fazem parte de estudo feito pelo Observatório da Violência Política e Eleitoral do do Grupo de Investigação Eleitoral (Giel) da Unirio. O compêndio completo deverá ser divulgado nos próximos dias.

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Considerando apenas o terceiro trimestre ainda não finalizado — de julho a 16 de setembro — foram 232 casos de violência política. Destes, 173 ocorreram contra candidatos. No primeiro trimestre, ao todo houve 68 casos, no segundo, 155 e no terceiro, 232. 

Ainda na análise sobre o atual trimestre, o estado de São Paulo está à frente, concentrando 29 casos de violência política, seguido pelo Rio de Janeiro, 20, e pelo Piauí, com 14. 

Ao Portal Vermelho, Miguel Carnevale, pesquisador do Giel, explicou que os dados vêm demonstrando um aumento da violência com a aproximação das eleições. “Essa tendência já era esperada, com base nas nossas observações dos dois últimos ciclos eleitorais, só que há um adendo a se fazer. Em 2024, a gente atingiu números recordes no terceiro trimestre”, salienta.

Ele diz que mesmo com a base de dados ainda não totalmente consolidada para os meses de julho a setembro, já é possível afirmar que “esse período já é o mais violento, ou pelo menos o que nós fomos capazes de coletar mais casos”. 

Ele pondera que no decorrer das ações do Observatório, os pesquisadores buscaram acompanhar as tendências do campo da violência política, de maneira que atualmente são considerados determinados tipos de ocorrência que não eram levados em conta em 2020.

 “Hoje em dia, tratamos de episódios de violência econômica (roubos, furtos, vandalismo etc.), sexual (assédio, estupro, importunação etc.) e semiótica (silenciamento, desqualificação, objetificação etc.). Há até pouco tempo, coletávamos apenas violência física e um pouco da psicológica, na figura de ameaças”. 

Por isso, diz, “isso pode explicar um pouco o porquê desses números mais elevados. Mas, de qualquer forma, esse último trimestre foi extremamente violento”. 

Dentre os fatores que podem explicar tal cenário, Carnevale cita, primeiramente, a fragilidade institucional, no sentido de não haver prevenção e combate efetivo à violência. “A gente tem visto alguns movimentos, não só de agora, por parte do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), das forças policiais, dos órgãos cabíveis em geral, no sentido de controlar a violência, mas de qualquer forma ainda temos uma estrutura de impunidade em que vale a pena conduzir esses atos violentos”. 

Outro aspecto que o pesquisador destaca é o papel do crime organizado, “que cada vez mais se torna parte das engrenagens e se adequa a atuar dentro do Estado”. 

Além disso, ele enfatiza a divisão política que se acentuou nos últimos anos. “A gente vive numa polarização que tem diminuído a qualidade democrática, tirado o grau de sofisticação do debate público e gerado impactos diretos nas eleições”, conclui.