Dissanayaka, líder da coalizão de esquerda, vence eleição presidencial no Sri Lanka
Novo presidente substitui 15 anos de governo da mesma família Rajapaksa, que fugiu do país após violentos protestos.
Publicado 23/09/2024 16:56 | Editado 24/09/2024 16:09
Anura Kumara Dissanayaka, de 55 anos, foi declarado vencedor da eleição presidencial do Sri Lanka realizada no sábado (21), com 42,3% dos votos, segundo anunciou a comissão eleitoral neste domingo (22). O líder do Janatha Vimukthi Peramuna (JVP), um partido comunista e marxista-leninista, derrotou o líder da oposição no Parlamento, Sajith Premadasa (32,7%), e o presidente em exercício, Ranil Wickremesinghe (17,2%), que já reconheceu a derrota. Dissanayake conta o revolucionário Che Guevara entre seus heróis.
A vitória de Dissanayaka ocorre em um momento crucial para o país, que enfrenta uma das piores crises econômicas de sua história. Desde 2022, o Sri Lanka tem vivido sob medidas de austeridade impostas como parte de um plano de resgate econômico acordado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), após uma série de protestos que levaram à renúncia do ex-presidente Gotabaya Rajapaksa, que fugiu deixando o país sob o comando de Wickremesinghe. A crise provocou inflação desenfreada, falta de combustível, alimentos e medicamentos, além de um colapso do sistema financeiro.
Em seu primeiro discurso após o anúncio dos resultados, Dissanayaka declarou que sua vitória “é a vitória de todos os cingaleses”. Ele prometeu reescrever a história do país e melhorar a qualidade de vida da população, fortemente afetada pela crise e pelas políticas de austeridade. Embora tenha se comprometido a manter o plano de recuperação negociado com o FMI, Dissanayaka afirmou que pretende renegociar alguns pontos para aliviar os impactos sobre o poder de compra dos cidadãos.
Promessa de renovação política
Dissanayaka, que já foi líder estudantil durante as violentas insurreições do JVP nas décadas de 1970 e 1980, tem sido uma figura de destaque na política do Sri Lanka nos últimos anos, apesar do JVP ter historicamente desempenhado um papel periférico com menos de 4% dos votos durante as últimas eleições parlamentares em 2020. Conhecido por sua retórica contra a corrupção, ele prometeu combater o sistema político tradicional, muitas vezes dominado por dinastias familiares, como a dos Rajapaksa.
Desde sua ascensão à popularidade, Dissanayaka é descrito como ex-marxista por suavizar algumas políticas, dizendo acreditar em uma economia aberta e não se opor totalmente à privatização.
A eleição reflete o cansaço da população com a classe política dominante, especialmente com Wickremesinghe, que, embora tenha conseguido estabilizar parcialmente a economia com o apoio do FMI, foi duramente punido nas urnas por implementar medidas que agravaram a pobreza e a desigualdade social.
Desafios do novo presidente
Com mais de 22 milhões de habitantes, o Sri Lanka enfrenta um cenário econômico devastador, no qual mais de um quarto da população vive abaixo da linha da pobreza, de acordo com o Banco Mundial. A promessa de Dissanayaka de renegociar o acordo com o FMI traz esperanças para muitos cingaleses, mas os desafios que o novo presidente enfrentará são imensos. Além da recuperação econômica, ele terá de lidar com a restauração da confiança pública no sistema político e enfrentar a crescente demanda por transparência e justiça social.
A cerimônia de posse de Anura Kumara Dissanayaka ocorreu na manhã desta segunda-feira (23), quando ele assumiu oficialmente a presidência com o desafio de conduzir o Sri Lanka em um caminho de recuperação e estabilidade.
“Farei o meu melhor para restaurar completamente a confiança do povo nos políticos”, disse Dissanayake depois de fazer o juramento. “Eu não sou um mágico”, acrescentou. “Há coisas que eu sei e coisas que não sei, mas vou procurar o melhor conselho e fazer o meu melhor. Para isso, eu preciso do apoio de todos”.