Dissanayaka, líder da coalizão de esquerda, vence eleição presidencial no Sri Lanka

Novo presidente substitui 15 anos de governo da mesma família Rajapaksa, que fugiu do país após violentos protestos.

O novo presidente do Sri Lanka, toma posse. Ele diz ter Che Guevara como referência política [Handout / Gabinete do Presidente do Sri Lanka]

Anura Kumara Dissanayaka, de 55 anos, foi declarado vencedor da eleição presidencial do Sri Lanka realizada no sábado (21), com 42,3% dos votos, segundo anunciou a comissão eleitoral neste domingo (22). O líder do Janatha Vimukthi Peramuna (JVP), um partido comunista e marxista-leninista, derrotou o líder da oposição no Parlamento, Sajith Premadasa (32,7%), e o presidente em exercício, Ranil Wickremesinghe (17,2%), que já reconheceu a derrota. Dissanayake conta o revolucionário Che Guevara entre seus heróis.

A vitória de Dissanayaka ocorre em um momento crucial para o país, que enfrenta uma das piores crises econômicas de sua história. Desde 2022, o Sri Lanka tem vivido sob medidas de austeridade impostas como parte de um plano de resgate econômico acordado com o Fundo Monetário Internacional (FMI), após uma série de protestos que levaram à renúncia do ex-presidente Gotabaya Rajapaksa, que fugiu deixando o país sob o comando de Wickremesinghe. A crise provocou inflação desenfreada, falta de combustível, alimentos e medicamentos, além de um colapso do sistema financeiro.

Em seu primeiro discurso após o anúncio dos resultados, Dissanayaka declarou que sua vitória “é a vitória de todos os cingaleses”. Ele prometeu reescrever a história do país e melhorar a qualidade de vida da população, fortemente afetada pela crise e pelas políticas de austeridade. Embora tenha se comprometido a manter o plano de recuperação negociado com o FMI, Dissanayaka afirmou que pretende renegociar alguns pontos para aliviar os impactos sobre o poder de compra dos cidadãos.

Promessa de renovação política

Dissanayaka, que já foi líder estudantil durante as violentas insurreições do JVP nas décadas de 1970 e 1980, tem sido uma figura de destaque na política do Sri Lanka nos últimos anos, apesar do JVP ter historicamente desempenhado um papel periférico com menos de 4% dos votos durante as últimas eleições parlamentares em 2020. Conhecido por sua retórica contra a corrupção, ele prometeu combater o sistema político tradicional, muitas vezes dominado por dinastias familiares, como a dos Rajapaksa.

Desde sua ascensão à popularidade, Dissanayaka é descrito como ex-marxista por suavizar algumas políticas, dizendo acreditar em uma economia aberta e não se opor totalmente à privatização.

A eleição reflete o cansaço da população com a classe política dominante, especialmente com Wickremesinghe, que, embora tenha conseguido estabilizar parcialmente a economia com o apoio do FMI, foi duramente punido nas urnas por implementar medidas que agravaram a pobreza e a desigualdade social.

Desafios do novo presidente

Com mais de 22 milhões de habitantes, o Sri Lanka enfrenta um cenário econômico devastador, no qual mais de um quarto da população vive abaixo da linha da pobreza, de acordo com o Banco Mundial. A promessa de Dissanayaka de renegociar o acordo com o FMI traz esperanças para muitos cingaleses, mas os desafios que o novo presidente enfrentará são imensos. Além da recuperação econômica, ele terá de lidar com a restauração da confiança pública no sistema político e enfrentar a crescente demanda por transparência e justiça social.

A cerimônia de posse de Anura Kumara Dissanayaka ocorreu na manhã desta segunda-feira (23), quando ele assumiu oficialmente a presidência com o desafio de conduzir o Sri Lanka em um caminho de recuperação e estabilidade.

“Farei o meu melhor para restaurar completamente a confiança do povo nos políticos”, disse Dissanayake depois de fazer o juramento. “Eu não sou um mágico”, acrescentou. “Há coisas que eu sei e coisas que não sei, mas vou procurar o melhor conselho e fazer o meu melhor. Para isso, eu preciso do apoio de todos”.

Autor