Explosões de pagers no Líbano causam mortes e feridos

A operação revela uma sabotagem de longo prazo na importação dos dispositivos para o Hezbollah. A interrupção das comunicações aponta para uma escalada mais ampla de Israel contra o Hezbollah

Ambulâncias são cercadas por pessoas na entrada do Centro Médico da Universidade Americana de Beirute, após a explosão de pagers que feriram quase três mil pessoas

Uma série de explosões simultâneas de pagers usados por membros do Hezbollah atingiu várias áreas no Líbano, resultando em pelo menos nove mortos, incluindo uma criança, e mais de 2.750 feridos. As explosões ocorreram em meio à crescente tensão na região, enquanto o grupo Hezbollah responsabilizou Israel pelo ataque.

O vídeo de uma das explosões, capturado no hospital al-Zahraa em Beirute, mostra equipes de socorristas da Defesa Civil carregando um homem ferido. O incidente destacou a fragilidade da segurança na capital libanesa e em outras áreas onde as explosões ocorreram.

Escala e impacto das explosões

As explosões não se limitaram ao Líbano. Quatorze pessoas também ficaram feridas na Síria, onde o Hezbollah mantém presença ativa. Os dispositivos de comunicação que explodiram foram adquiridos pelo Hezbollah após o líder do grupo proibir o uso de celulares em fevereiro deste ano, citando preocupações com rastreamento pela inteligência israelense.

Especialistas acreditam que as explosões podem ter sido resultado de uma sofisticada operação de sabotagem, possivelmente envolvendo a manipulação dos dispositivos antes de sua importação para o Líbano. “É uma operação de longo prazo, que pode ter envolvido a infiltração na cadeia de suprimentos”, afirmou Hamze Attar, pesquisador de defesa, em entrevista à Aljazira.

Possível infiltração e sabotagem

As explosões também levantaram questões sobre as capacidades tecnológicas envolvidas. Rich Outzen, membro sênior do Atlantic Council, mencionou a possibilidade de que os dispositivos tenham sido comprometidos durante o processo de fabricação ou exportação. “Inserção de malware remotamente ou a colocação de explosivos diretamente são possibilidades reais”, disse ele.

Yehoshua Kalisky, do Institute for National Security Studies de Tel Aviv, sugeriu que as explosões podem ter sido causadas por um pulso eletrônico, que desabilitou os pagers. “Não é uma ação aleatória. Foi deliberada e altamente planejada”, afirmou Kalisky.

Reações e consequências

O Hezbollah e outros aliados na região veem as explosões como uma violação significativa de suas operações. Um funcionário anônimo do Hezbollah afirmou que os pagers eram de uma marca nova, mas que não sabiam há quanto tempo estavam em uso. “O Hezbollah vai precisar reavaliar seus meios de comunicação”, disse Mohamad Elmasry, professor no Instituto de Doha, indicando que o grupo já estava recorrendo a mensageiros para evitar rastreamento.

O incidente ocorre em um momento crítico no Oriente Médio, com combates contínuos entre Israel e grupos aliados do Hezbollah, como o Hamas. Desde outubro, Israel e Hezbollah têm trocado tiros nas fronteiras do Líbano, agravando ainda mais as tensões regionais.

Implicações para o conflito regional

Para especialistas militares, as explosões podem ser o prelúdio de uma operação militar maior contra o Hezbollah. “A interrupção das comunicações pode ser um primeiro passo para uma escalada mais ampla”, disse Samuel Ramani, do Royal United Services Institute. Israel ainda não comentou sobre as explosões, mas fontes no país indicam que altos funcionários estão reunidos para discutir possíveis respostas a ataques de retaliação por parte do Hezbollah.

Enquanto isso, o governo dos Estados Unidos afirmou não ter envolvimento nas explosões. “Estamos acompanhando de perto, mas não tivemos nenhum papel neste incidente”, declarou o porta-voz do Departamento de Estado, Matthew Miller.

Conforme as investigações continuam, o incidente com os pagers do Hezbollah aprofunda a complexidade do conflito no Oriente Médio, com novos desafios para as já tensas relações entre Israel, Hezbollah e seus respectivos aliados.

Com informações da Aljazira

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