Morre o ditador peruano Alberto Fujimori, aos 86 anos
Ex-presidente e autor do auto-golpe, Fujimori deixa um legado de autoritarismo e mais de 70 mil mortos e desaparecidos. Peruano implementou reformas neoliberais apoiadas pelo FMI
Publicado 12/09/2024 15:15 | Editado 13/09/2024 11:12
O ex-ditador do Peru Alberto Fujimori morreu nesta quarta (11) aos 86 anos em decorrência de um câncer na língua. A notícia foi divulgada nas redes sociais pela filha, a líder da extrema direita do país, Keiko Fujimori. O ditador deixa um legado marcado pelo autoritarismo e violações aos direitos humanos.
“Depois de uma longa batalha contra o câncer, nosso pai, Alberto Fujimori, acaba de sair ao encontro do Senhor. Pedimos aos que o amaram que nos acompanhem em oração pelo descanso eterno de sua alma. Obrigado por tudo pai!”, anunciou seus filhos Keiko, Hiro, Sachie e Kenji Fujimori.
Segundo a filha, o enterro vai ocorrer no sábado (14), quando o corpo de Alberto Fujimori será levado para o cemitério Campo Fé, em Huachipa, também em Lima.
Fujimori venceu a eleição presidencial de 1990 como um candidato desconhecido sob a bandeira de Cambio 90 (“cambio” significa “mudança”) derrotando o escritor Mario Vargas Llosa em uma surpreendente virada.
Durante seu primeiro mandato, Fujimori promulgou amplas reformas neoliberais, conhecidas como ”Fujishock”. O plano econômico teve amplo apoio do FMI que, satisfeito com as medidas do governo peruano, garantiu financiamento de empréstimos para o Peru.
Em 5 de abril de 1992, Fujimori dissolveu o Congresso, fechou o Poder Judiciário, o Ministério Público, o Tribunal Constitucional e o Conselho da Magistratura, em colaboração com as Forças Armadas.
Ele iniciou uma política de repressão aos guerrilheiros do Sendero Luminoso, que levou à derrota da organização. A repressão conduzida pela ditadura Fujimori chegou a ser bem vista, inicialmente, por alguns peruanos, mas a ação contra os membros das guerrilhas foi acompanhada por numerosas execuções sumárias, esterilizações forçadas e corrupção generalizada.
O conflito interno resultou em quase 70 mil mortos e desaparecidos. Além disso, mais de 270 mil mulheres e 25 mil homens, muitas vezes pobres, analfabetos e oriundos de povos indígenas da Amazônia e dos Andes, foram esterilizados à força entre 1996 e 2000.
Alberto Fujimori seria posteriormente considerado culpado de ter ordenado o assassinato de 25 pessoas durante massacres realizados no início da década de 1990 pelo grupo Colina, um esquadrão da morte do Exército peruano.
Trazendo o retrospecto político do ditador, que chegou a ser eleito de forma legítima em 1990, o jornal peruano La Republica destaca que Fujimori “morreu sem reconhecer seus crimes”.
O periódico refere-se às diversas violações aos direitos humanos cometidas durante o seu governo (1990-2000), como os massacres de Barrio Alto (1991) e La Cantuta (1992), pelos quais ele foi condenado pela Justiça em 2009.
Não foram as violações dos direitos humanos que acabou por provocar a queda de Alberto Fujimori, mas uma condenação por suborno. Ele fugiu para o Japão em 2000 e foi preso cinco anos depois no Chile, de onde esperava tentar retornar à política. Extraditado para o Peru, foi condenado em 2009 a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade e corrupção.
No final de 2017, o presidente Pedro Pablo Kuczynski, atolado no escândalo de corrupção da Odebrecht, concedeu-lhe o indulto presidencial por motivos “humanitários” e acabou renunciando poucos meses depois, para evitar o impeachment. O indulto concedido a Fujimori foi cancelado pelos tribunais peruanos, apesar dos recursos interpostos por ele e sua família, depois restabelecido em 2023. Esta última reviravolta permitiu ao ex-presidente sair da prisão antes do final da sua pena.
O ex-presidente apelidado de “El Chino” (o chinês), que dividiu profundamente o país, foi diagnosticado em maio com um tumor maligno na língua. Em 2018, Fujimori tornou público o diagnóstico de um tumor pulmonar.