Lula vai intensificar a presença na campanha de Boulos
Presidente deverá estar em caminhadas e em mais agendas do que o previsto na campanha do deputado para a Prefeitura de São Paulo. Ideia é aumentar a transferência de votos
Publicado 12/09/2024 17:34 | Editado 13/09/2024 13:48
Com o avançar da campanha eleitoral em São Paulo o presidente Lula deve estar cada vez mais presente na campanha do deputado federal Guilherme Boulos (Psol). A avaliação é de que ainda tem muito a ser explorado na figura do presidente para se concretizar a transferência de votos.
Lula esteve em 24 de agosto junto a Boulos nos primeiros comícios de campanha, realizados nos bairros do Campo Limpo e São Miguel Paulista. Na vinda a São Paulo foram gravadas inserções para o horário eleitoral em que o presidente visitou a casa do candidato à prefeitura apoiado pela coligação Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB, PV).
Inicialmente estavam previstos mais dois atos com o presidente na capital, além de novos programas de rádio e TV para o horário eleitoral. Porém já existe a sugestão de que ele estará, no mínimo, mais uma vez além do que já estava programado. A ideia é que sejam realizadas caminhadas pela periferia paulistana com o indicativo de ocorrerem na véspera da eleição, no sábado 5 de outubro, e no final de semana anterior, no último final de semana de setembro.
A ênfase na figura presidencial atende dois motivos. O primeiro é pelo acordo de Lula na escolha de um candidato de fora da Federação de seu partido, ainda que seja da base de apoio federal. O outro é porque ele ainda tem muito a transferir de votos na capital com base no resultado que o consagrou pela terceira vez presidente do Brasil, em 2022.
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De acordo com a última pesquisa Quaest, a aliança de esquerda ainda pode progredir muito uma vez que apenas 43% dos eleitores que votaram em Lula na última eleição indicaram apoio a Boulos.
Portanto, parte da busca por votos pela campanha do deputado deve concentrar em virar votos que foram do presidente em 2022. O instituto mostrou que 44% dos votos que foram de Lula estão com os adversários de Boulos (17% com Ricardo Nunes – MDB; 13% Tabata Amaral – PSB; 8% Datena – PSDB; 6% Marçal – PRTB), sem contar 4% que ainda estão indecisos, 5% que disseram que pretendem votar branco ou nulo e 2% que indicaram ouros candidatos, conforme a pesquisa.
Este fato se confirma com a pesquisa Datafolha dessa quinta-feira (12). O instituto coloca que apenas 48% dos eleitores de Lula votam em Boulos agora.
Por isso, a presença de Lula em São Paulo é crucial para a ida de Boulos ao segundo turno. O bom desempenho do candidato bancado pelo presidente já é uma prévia para as eleições presidenciais em 2026 – o que interessa muito para Lula.
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A capital paulista, tratada como a joia da coroa entre prefeituras, tem uma economia superior a maioria dos estados brasileiros. Em outras épocas chegou a representar a segunda economia nacional caso fosse um estado, perdendo somente para o próprio estado de São Paulo em termos de PIB.
Porém, ao longo dos anos houve maios desconcentração econômica. Segundo o IBGE, o município de São Paulo concentrou 9,2% do PIB do país, em 2021.
Cenário embolado
Diversas pesquisas tem apontado para um cenário embolado, com Boulos, Nunes e Marçal empatados dentro da margem de erro. Na última pesquisa Atlas Intel, o candidato do Psol apareceu na frente.
Já na Quaest Boulos apareceu com 21%, 3% a menos que Ricardo Nunes que constou na dianteira.
A campanha de Boulos tem avaliado, segundo interlocutores, que o cenário em que o deputado se mantém como preferência, ou está em condições de segundo turno, é predominante na maioria das pesquisas. A análise é feita com base em um agregador de pesquisas e controle interno de números pela campanha.
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A prudência tem sido o melhor caminho, considerando que o candidato esteve sempre nas primeiras posições.
Fato comprovado com o último Datafolha em que marca 25% contra 27% de Nunes, com uma margem de erro de 3 pontos percentuais, dessa forma, tecnicamente empatados. Nesta averiguação Marçal se distanciou e ficou com apenas 19%.
O atual crescimento do atual prefeito é atribuído, em partes, ao seu latifúndio de seis minutos na propaganda da TV. A propaganda total para todos os candidatos soma 10 minutos.
Outro fator que pode ter pesado para o crescimento de Nunes e a baixa de Marçal é a rejeição do candidato coach pelos expoentes bolsonaristas que ele tanto tenta capturar.
Conforme o Datafolha, 39% dos eleitores de Jair Bolsonaro apoiam Nunes contra 42% que estão com Marçal. Na pesquisa anterior a diferença pró-coach era 48% contra 31%.
Crescimento nas periferias
Ao mesmo tempo em que pretende ampliar a transferência de votos do presidente Lula, a prioridade da campanha de Guilherme Boulos é crescer junto ao eleitorado mais humilde, jovem e entre as mulheres – segmentos que tradicionalmente a esquerda tem grande apelo.
Na Quaest, Boulos registrou 17% das intenções de voto entre os que ganham até três salários mínimos. Já o atual prefeito tem 25% e Marçal 18%.
Isto prova que há um longo percurso a avançar entre as camadas mais humildes, ainda mais por partidos ligados historicamente às camadas periféricas.
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Também a campanha do deputado visa crescer entre as mulheres, pois entre as duas últimas pesquisas Nunes o ultrapassou e chegou a 25% neste público, enquanto com o público jovem (16 a 34 anos) Boulos registrou menos oito pontos percentuais ao marcar 19%.
A situação na periferia é parcialmente respaldada pelos números do Datafolha. Segundo o instituto, para o eleitorado que ganha até dois salários mínimos, Boulos, Nunes e Marçal ficam com 18% cada e Datena com 15%, ou seja, grande parte da periferia está com candidatos da direita e da extrema direita – um cenário que pode ser revertido.