Macron contraria eleição e nomeia primeiro-ministro de direita na França
Líder de esquerda, Jean-Luc Mélenchon, disse que eleições foram ‘roubadas’ com nomeação fora da coalizão Nova Frente Popular, vencedora das eleições legislativas de 7 de julho
Publicado 05/09/2024 13:26 | Editado 05/09/2024 17:26
O presidente da França, Emmanuel Macron, contrariou o resultado das eleições legislativas antecipadas e nomeou nesta quinta (5) o ex-ministro das Relações Exteriores Michel Barnier, de direita, como novo primeiro-ministro do país.
A indicação marca o fim de um impasse político que durava desde o segundo turno das eleições legislativas, em 7 de julho. “O presidente da República nomeou Michel Barnier como primeiro-ministro e o encarregou de constituir um governo de união a serviço do país e dos franceses”, diz um comunicado do Palácio do Eliseu.
Em julho, os franceses foram às urnas para isolar a extrema direita, que teve um crescimento eleitoral substantivo. O resultado final da eleição, no entanto, colocou a Nova Frente Popular (NFP) em primeiro lugar com 182 assentos assegurados para a Assembleia Nacional, seguido da coalizão macronista, com 168 cadeiras. O partido fascista Reunião Nacional atingiu 143 vagas.
O líder do partido de esquerda França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon, disse que as eleições foram “roubadas” e manipuladas. “Barnier não vem da Nova Frente Popular, que venceu as eleições, mas de um partido que obteve menos votos. Está em curso uma negação da democracia”, salientou. “É a negação da vontade do povo francês.”
O líder da França Insubmissa (LFI, na sigla em francês) criticou duramente o fato de Barnier ter sido nomeado “com a permissão e talvez a sugestão” da líder da extrema-direita Marine Le Pen, apesar do esforço para conter seu avanço nas últimas eleições.
No final de agosto, Le Pen, que é presidente do Reunião Nacional, foi recebida por Macron no Eliseo para discutir a sucessão para o cargo de primeiro-ministro.
Mélenchon afirmou que sua coalizão não acredita “nem por um momento” que será possível formar uma maioria na Assembleia Nacional com Barnier como porta-estandarte, e convocou uma manifestação para o para o próximo sábado (7).
Com um sistema semipresidencialista, a França compõe o seu Poder Executivo com o presidente, eleito pelo voto popular e democrático, que ocupa a posição de chefe de Estado, e o primeiro-ministro, chefe de Governo, que tem a responsabilidade de formar um governo e um gabinete ministerial para o país.
Barnier, 73 anos, já foi ministro do Meio Ambiente (1993-1995), das Relações Europeias (1995-1997), das Relações Exteriores (2004-2005) e da Agricultura (2007-2009), bem como comissário de Políticas Regionais (1999-2004) e Mercado Interno (2010-2014) da União Europeia. Além disso, liderou a delegação da UE nas negociações do Brexit.
O político será o premiê mais velho da história da Quinta República Francesa, iniciada em 1958, e substituirá o mais jovem, Gabriel Attal, de 35 anos.
O Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen, definiu o novo primeiro-ministro como um “fóssil da vida política”, mas garantiu que não apresentará uma “moção de censura imediata” no Parlamento.