Nova fábrica da BYD em Camaçari começa a operar em outubro

Galpão que receberá primeira linha de produção é a parte visível do intercâmbio que já ocorre entre engenheiros brasileiros e chineses

Antigo galpão da Ford que está sendo modernizado para a BYD em Camaçari

Alexandre Baldy, vice-presidente da BYD Brasil, anunciou que as adiantadas obras de um galpão de 120 mil metros quadrados, deve receber em outubro, a primeira linha de produção de automóveis elétricos da fabricante chinesa. Este será o ponto de partida da fábrica, em Camaçari (BA), de onde, ainda neste ano, sairão os primeiros veículos montados no Brasil.

Esta construção marca um passo crucial na reindustrialização do país, trazendo empregos, inovação e um impacto significativo para a economia local. Com um investimento de R$ 5,5 bilhões, a BYD, maior montadora de carros elétricos da China, está estabelecendo sua primeira grande operação industrial fora de seu país de origem. Hoje, sete de cada dez veículos 100% elétricos vendidos no país são da BYD.

A vice-presidente mundial da companhia, Stella Li, esteve com o governador Jerônimo Rodrigues (PT) para revelar aumento no valor do investimento em Camaçari, de R$ 3 bilhões para R$ 5,5 bilhões. Antes disso, em janeiro, o grupo anunciou o aumento do número inicial de empregos na Bahia, de 5 mil para 10 mil.

Em Camaçari, trabalham não só operários da construção, mas também técnicos e engenheiros dedicados ao desenvolvimento de produto. Ainda em setembro, 100 brasileiros embarcarão para a China e, no sentido inverso, chineses também têm vindo para o Brasil num intercâmbio de conhecimento. São especialistas, engenheiros e líderes das áreas de qualidade, processos, planejamento, logística e armazenamento.

Transformação e emprego

O projeto, que ocupa as antigas instalações da Ford, fechadas em 2021, já emprega cerca de 1,2 mil pessoas. Com a conclusão das obras, estima-se que até 10 mil vagas de trabalho sejam criadas, entre diretas e indiretas, fortalecendo a economia local e nacional. A saída da Ford teve impacto catastrófico para Camaçari e região.

A BYD está introduzindo um modelo inovador, importando inicialmente kits de peças da China para montagem no Brasil, com a nacionalização dos componentes prevista para 2025. Isso inclui a fabricação de veículos híbridos movidos a etanol, alinhando-se à política de descarbonização do país.

Além da fábrica de veículos elétricos e híbridos, a BYD planeja construir em Camaçari unidades para a produção de chassis de ônibus e caminhões elétricos, e para o processamento de lítio e ferro fosfato, voltado para o mercado externo. A empresa também está investindo em infraestrutura residencial para seus funcionários, em um modelo semelhante ao adotado em sua sede em Shenzhen, China. Os prédios residenciais, onde os funcionários poderão morar ficarão a 3,5 quilômetros da fábrica, com capacidade para 4,2 mil pessoas.

Impacto econômico e estratégico

A chegada da BYD a Camaçari simboliza a retomada da industrialização no Brasil, especialmente significativa após o fechamento da Ford, que deixou milhares de desempregados e gerou uma crise econômica na região. Agora, o retorno de uma grande montadora promete reverter esse cenário, atraindo novos empreendimentos e fortalecendo a cadeia produtiva.

A reindustrialização, impulsionada por investimentos como o da BYD, é fundamental para o crescimento sustentável do Brasil. O governo baiano, por meio de incentivos fiscais, como a isenção de 95% do ICMS até 2032, tem sido um aliado importante nesse processo, criando um ambiente favorável para novos negócios e fortalecendo a economia local.

Apesar dos avanços, a BYD ainda enfrenta resistência no mercado brasileiro, especialmente de montadoras veteranas que pressionam o governo por uma antecipação no aumento do Imposto de Importação para carros elétricos e híbridos. Se o governo cedesse seria uma mudança de regra com o jogo em andamento, na opinião de Baldy.

Até aqui, o governo decidiu pelo aumento gradual do imposto, entre janeiro deste ano e julho de 2026, quando, então, entrará em vigor a alíquota máxima, de 35%, para todos os tipos de carros. A empresa, contudo, segue confiante, destacando a importância de desmistificar informações errôneas sobre veículos elétricos e promovendo seus benefícios ambientais e econômicos. A desinformação devido a falta de concorrência circula envolvendo acusações de incêndio na bateria, falta de peças ou falta de carregadores públicos.

A BYD está no Brasil desde 2013. Construiu em Campinas (SP) uma linha de montagem de ônibus e de módulos fotovoltaicos, instalou em Manaus uma unidade de montagem de baterias de fosfato de ferro-lítio. Além disso, importa caminhões e máquinas, como empilhadeiras, 100% elétricos. A empresa também é responsável pela construção da Linha 17-Ouro, do metrô paulistano.

A instalação da fábrica da BYD em Camaçari é mais do que um marco industrial; é uma demonstração de que o Brasil está voltando ao jogo global, com capacidade para atrair grandes investimentos, gerar emprego e impulsionar a economia em um momento crucial para a reindustrialização do país.

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