Em aceno à classe média, Kamala diz que baixar inflação é prioridade

Democrata muda de posição em temas como combustíveis fósseis e imigração

Foto: Reprodução/ CNN

A democrata Kamala Harris concedeu, nesta quinta (29), a primeira entrevista como candidata à presidência dos Estados Unidos. Ao lado de seu companheiro de chapa, o governador do Minnesota Tim Walz, Harris falou por aproximadamente 27 minutos à CNN em agenda no estado da Geórgia. 

“Eu acho que as pessoas estão prontas para um novo caminho”, comentou a candidata sobre “a esperança e o otimismo” que tomou conta de “todas as gerações americanas” desde o início da reformulada e energizada campanha democrata.

A atual vice-presidente dos EUA defendeu uma virada de página para a política americana, explicou mudanças de posicionamento em relação a extração de combustíveis fósseis e imigração e descreveu o momento em que o atual presidente Joe Biden disse a ela que estava abandonando a corrida para a Casa Branca, nas eleições de 5 de novembro.

O receio dos assessores democratas era qualquer derrapagem importante de Kamala arranhar a campanha considerada impecável até aqui, uma vez que a ex-promotora tem um histórico de enfrentar dificuldades em embates diretos com a imprensa.

Logo na primeira pergunta, Kamala foi questionada sobre o que faria no primeiro dia de governo caso for eleita em novembro. “Em primeiro lugar, uma das minhas maiores prioridades é fazer o que estiver ao nosso alcance para apoiar e fortalecer a classe média”, respondeu dando a tônica do que vem sendo o principal mote de campanha para diferenciar a campanha democrata, voltada para as famílias trabalhadoras da chamada classe média americana, da campanha republicana, centrada na figura do magnata Donald Trump e suas intenções de cortar imposto para os ricos. 

Kamala prometeu implementar o que chamou de economia de oportunidade para “reduzir o custo dos bens do dia a dia”, investindo nas pequenas empresas americanas e nas famílias. 

A vice-presidente mencionou a criação de um crédito tributário de seis mil dólares para famílias com bebês no primeiro ano de vida (“para ajudá-los a comprar uma cadeirinha de carro, para ajudá-los a comprar roupas de bebê, um berço”) e investimento em torno de moradia acessível, “uma grande questão em nosso país”.

Em seguida, a repórter tentou emparedar Kamala mencionando a inflação nos Estados Unidos, que vem corroendo o poder de compra da classe trabalhadora americana. 

“Você está bem ciente de que neste momento muitos americanos estão passando por dificuldades. Há uma crise de acessibilidade. Um dos temas da sua campanha é: “Não vamos voltar”. Mas eu me pergunto o que você diria aos eleitores que querem voltar atrás no que diz respeito à economia, especificamente porque suas compras no mercado eram mais baratas e a habitação era mais acessível quando Donald Trump era presidente?”, perguntou Bash.

“Quando eu e Joe Biden assumimos a Casa Branca nós vimos 10 milhões de pessoas desempregadas, centenas morrendo de Covid e a economia estava quebrada”, respondeu Kamala.

“Em grande parte, tudo isso por causa da má gestão dessa crise por parte de Donald Trump. Quando chegamos, nossa maior prioridade era fazer o que pudéssemos para resgatar a América. E hoje sabemos que temos uma inflação abaixo de 3%. Muitas das nossas políticas levaram os EUA ser o país mais rapidamente se recuperou se comparados a qualquer outta nação rica do mundo”, se defendeu.

Kamala reconheceu, no entanto, que a a alta dos preços é uma realidade e prometeu combatê-la. “Mas você está certa. Os preços, em particular dos produtos alimentares, ainda estão altos. O povo americano sabe disso. Eu sei isso. É por isso que a minha agenda inclui o que precisamos de fazer para reduzir o preço dos produtos alimentares”, rebateu.

Mudanças de posição em relação combustíveis fósseis e imigração

A vice-presidente dos Estados Unidos ofereceu uma explicação mais abrangente nesta sobre o motivo de ter mudado algumas de suas posições sobre exploração de petróleo e imigração. Kamala disse que seus valores não mudaram, mas que seu tempo como vice-presidente forneceu uma nova perspectiva sobre algumas das questões mais urgentes do país.

“Como os eleitores devem olhar para algumas das mudanças que você fez?”, Bash perguntou a Kamala.

“Acho que o aspecto mais importante e significativo da minha perspectiva e decisões políticas é que meus valores não mudaram”, disse a vice-presidente. “Você mencionou o Green New Deal. Sempre acreditei — e trabalhei nisso — que a crise climática é real, que é uma questão urgente à qual devemos aplicar métricas que incluam nos mantermos dentro dos prazos em torno do tempo.”

Em um debate sobre a crise climática em setembro de 2019, Kamala foi questionada se ela se comprometeria a implementar uma proibição federal à exploração de petróleo em seu primeiro dia no cargo.

“Não há dúvida de que sou a favor de proibir o fracking (fraturamento hidráulico) e começar com o que podemos fazer no Dia 1 em torno de terras públicas”, disse Kamala na época.

“Nós definimos metas para os Estados Unidos da América e, por extensão, para o mundo, em torno de quando devemos atender a certos padrões de redução de emissões de gases de efeito estufa, como um exemplo. Esse valor não mudou”, disse a vice-presidente na entrevista desta quinta. “O que vi é que podemos crescer e podemos aumentar uma economia de energia limpa próspera sem proibir o fracking”, acrescentou.

Sobre imigração, Kamala apontou para seu histórico como procuradora-geral da Califórnia, quando processou gangues acusadas de tráfico transfronteiriço, como uma indicação de seus valores sobre o tema.

“Meus valores não mudaram. Então essa é a realidade. E quatro anos como vice-presidente, eu vou te dizer, um dos aspectos, para o seu ponto, é viajar pelo país extensivamente”, ela disse, apontando para suas 17 visitas à Geórgia desde que se tornou vice-presidente.

Ligação de Joe Biden

Descrevendo o domingo de julho quando Biden, após semanas de pressão, anunciou sua decisão de se retirar da corrida, Kamala disse que estava em casa fazendo panquecas e bacon para suas sobrinhas quando o telefone tocou.

“Foi Joe Biden, e ele me contou o que tinha decidido fazer. E eu perguntei a ele: ‘Você tem certeza?’ E ele disse: ‘Sim’”, ela lembrou, acrescentando: “Meu primeiro pensamento não foi sobre mim, para ser honesta com você. Meu primeiro pensamento foi sobre ele.”

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