Ação humana causou 99,9% dos incêndios em SP, diz Defesa Civil
A ministra Marina Silva (Meio Ambiente) acionou a PF que abriu dois inquéritos para investigar os crimes. O governador Tarcísio descartou ação articulada em incêndios
Publicado 27/08/2024 09:44 | Editado 27/08/2024 10:13
A Defesa Civil afirmou nesta segunda (26) que 99,9% dos incêndios registrados no estado de São Paulo nos últimos dias foram causados por ação humana. A informação foi divulgada pelo secretário Nacional da Defesa Civil, Wolnei Wolff, em entrevista coletiva do ministério da Saúde.
“Não houve raio e também não houve acidente de torres de alta tensão que justificasse esse início dos incêndios, 99,9% é atividade humana mesmo. O ser humano por algum objetivo acha que o fogo resolve o problema dele, mas não tem ideia de que pode perder o controle”, afirmou.
A Defesa Civil de São Paulo reportou, na manhã desta segunda, que restam poucos focos de incêndio ainda ativos no estado. Entre os motivos, segundo o secretário, incluem a grande umidade proporcionada pelas chuvas que caíram no domingo (25) e que foram suficientes para apagar a maior parte dos focos.
“Os focos que continuam, muito poucos, estão sendo combatidos no dia de hoje”, completou, ao citar o trabalho de helicópteros, de uma aeronave modelo KC-360, capaz de carregar até 12 mil litros de água por viagem, e de cerca de 500 homens do Exército brasileiro para realizar aceiro na região.
Ao menos duas pessoas morreram ao tentarem apagar um incêndio em uma usina e 66 pessoas ficaram feridas. Os incêndios que tomaram conta do interior São Paulo deixaram um rastro de destruição pela região, neste mês que é o mais incendiário da história do estado.
Rodovias precisaram ser bloqueadas, moradores deixaram suas casas e plantações foram queimadas nos últimos dias.
Nesta segunda, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), negou haver indícios de que a onda de incêndios que atingiu o estado de São Paulo tenha sido causada por uma ação coordenada de criminosos.
Apesar da declaração dele, a Polícia Civil do estado disse que ainda não descartou nenhuma hipótese. O delegado responsável pelo caso disse que um dos principais objetivos da investigação é chegar aos responsáveis pelo fogo e descobrir se eles agiram sozinhos ou a mando de outras pessoas.
“Tivemos casos pontuais em que efetuamos prisões de pessoas que estavam fazendo fogo, em Ribeirão Preto, Batatais e em Guaraci”, disse o governador. “Até aqui não conseguimos constatar nenhum tipo de relação entre essas pessoas, ou envolvimento coordenado”, afirmou.
Diferente do governador, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, comparou ontem os incêndios em São Paulo ao “Dia do Fogo”, de 2019.
“Tem uma situação atípica [nos incêndios em São Paulo]. Você começa a ter em uma semana, praticamente em dois dias, vários municípios queimando ao mesmo tempo. Isso não faz parte da nossa experiência”, disse Marina. “Do mesmo jeito que tivemos o ‘Dia do Fogo’, há uma forte suspeita de que agora esteja acontecendo de novo.”
O chamado “Dia do Fogo” ocorreu em agosto de 2019, quando grileiros e produtores rurais fizeram um movimento coordenado para incendiar áreas da floresta Amazônica.
A pasta acionou a PF para investigar a origem das queimadas que levaram 46 municípios do interior paulista a decretar alerta máximo, fecharam dois aeroportos no Estado e contribuíram para cobrir de fumaça a capital do país. Praticamente todo o estado de São Paulo deverá entrar em estado de emergência para risco de incêndios ao menos até sábado (31).
A PF instaurou neste domingo dois inquéritos policiais para apurar as causas dos incêndios ocorridos no estado.
Saiba mais: Governo Federal aciona a PF para investigar origem criminosa de queimadas em SP
Prisões
Ao menos cinco pessoas já foram presas suspeitas de causarem as queimadas. As detenções aconteceram entre sábado (24) e segunda nas cidades de Ribeirão Preto, Batatais, Guaraci e São José do Rio Preto.
Uma dessas detenções aconteceu nesta segunda em Batatais, a 355 km da capital. O homem de 27 anos foi preso por policiais militares após colocar fogo em um pasto e teria admitido aos policiais que integra a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
Com Alessandro Arantes, foram localizados um isqueiro e um galão de gasolina e em seu celular havia um vídeo com o incêndio. A pastagem incendiada fica anexa a uma área de preservação permanente e as chamas chegaram até uma residência.
As outras prisões aconteceram nas cidades de Guaraci, São José do Rio Preto e também Batatais, todas no interior do estado.
Somente nos últimos dias, as chamas destruíram aproximadamente 60 mil hectares de lavouras, gerando um prejuízo estimado em R$ 350 milhões para os agricultores. Os dados são da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana), que contabilizou 1,8 mil focos de incêndio na sexta-feira e 305 focos de incêndio no sábado. m São Paulo, foram registrados 3.480 pontos no mês, um recorde para o estado desde que os dados começaram a ser medidos, há quase três décadas.