Netanyahu aposta em vitória de Trump ao sacramentar derrota do cessar-fogo

Intransigência israelense ao insistir em corredor Filadelfia em Gaza é sinal de que extrema direita em Tel Aviv aguarda vitória republicana para obter cheque em branco

Foto: Reprodução/Twitter UNRWA

O governo de extrema direita do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, aposta em uma vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, marcadas para o dia 5 de novembro. É o que indica a derrota dos negociadores que articulavam um necessário acordo de cessar-fogo entre o grupo islâmico Hamas e as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) na Faixa de Gaza, onde o número de mortos palestinos alcançou, em agosto, a terrível marca de 40 mil após dez meses de massacre.

A delegação do Hamas presente no Cairo (Egito) para a segunda rodada de negociações rejeitou a intransigente proposta israelense de controlar o chamado corredor Filadélfia, uma faixa de 100 metros ao longo da fronteira de 14 quilômetros entre Egito e a Faixa de Gaza, e deixou a capital egípcia neste domingo (25). O corredor é a única entrada e saída do enclave para o mundo externo, uma vez que a ocupação israelense controla todas as outras fronteiras.

Ao insistir no controle do corredor Filadélfia, o que resultaria no não avanço do acordo por um cessar-fogo, o governo Netanyahu aposta numa vitória de Donald Trump, “o que lhe garantiria um cheque em branco para continuar e terminar a destruição de Gaza” como escreveu Jamil Chade, em sua coluna para o UOL neste domingo. Sua estratégia, portanto, é a de arrastar as negociações até novembro, na esperança de que, depois, tenha a Casa Branca incondicionalmente ao seu lado.

Trump vem deixando claro suas críticas às propostas de um cessar-fogo apresentadas pela Casa Branca. O republicano é porta-voz da ideia de que a defesa de um cessar-fogo dá ao Hamas tempo para se reagrupar. Lógica refutada, por exemplo, pelos familiares de israelenses sequestrados pelo Hamas em 7 de outubro. Trump criticou aqueles que estão pressionando por um acordo, chamando-os de “bandidos pró-Hamas” e “simpatizantes da jihad”.

A aposta de Netanyahu e seus asseclas tem se refletido no aumento das tensões em diversas regiões do Oriente Médio. Na fronteira norte com o sul do Líbano, centenas de foguetes do Hezbollah e caças israelenses têm disparado agressões. A escalada ocorre semanas após o exército israelense operar um ataque contra o comandante do grupo xiita, Fuad Shukr, morto em julho.

Na Cisjordânia ocupada, os colonos israelenses têm praticado atos terroristas contra palestinos. Em 15 de agosto, por exemplo, quase 100 colonos com facas e armas, segundo testemunhas, atacaram a localidade palestina de Jit. O ministério da Saúde palestino informou que o ataque matou um palestino de 23 anos.

Colonos conhecidos como “jovens do topo da colina” têm conduzido uma campanha de assassinatos, incêndios criminosos e intimidação contra os palestinos da região com o objetivo de expulsá-los da sua terra e promover a anexação completa da Cisjordânia.

Autor