Prefeitura de SP paga sobrepreço em alimentos doados à população de rua

Empresa vende água 4 vezes mais cara e sopa de R$ 11,92 para a Prefeitura, revela o UOL. O bufê ‘Prime’ venceu licitação contra quatro concorrentes com preços menores

Foto: Leon Rodrigues/SECOM

Os alimentos distribuídos para a população de rua pela Prefeitura de São Paulo estão com os preços inflados, de acordo com denúncia feita em reportagem do Uol. A água, a sopa, o achocolatado e o chá que são ofertados pela Operação Baixas Temperaturas tem indícios de favorecimento ao fornecedor que é ligado a um vereador da base do prefeito Ricardo Nunes (MDB), conforme a apuração.

A denúncia mostra que a municipalidade paga R$ 4,11 por garrafa de água de meio litro que pode ser encontrada pela mesma marca, facilmente, por R$ 0,77. A sopa pequena sai a R$ 11,92 com a ponderação que uma marmita grande pelo programa Cozinha Cidadã é R$ 10. O achocolatado sai por R$ 4,32 e o chá a 3,91. Não precisa ir todo dia ao mercado para saber que esses valores excedem, e muito, o valor de produtos similares em qualquer lugar.

Estes preços absurdos pagos ao bufê Prime Alimentação e Eventos já somam R$ 20 milhões desde maio de 2023.

Existe na denúncia o indicativo de que uma das empresas derrotadas na licitação ofereceu R$ 0,47 na garrafa de água, R$ 3,27 na sopa, R$ 1,76 no achocolatado e R$ 0,98 no chá, para efeito de comparação.

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Além do indício de supervalorização de alimentos básicos em favor do bufê Prime – que deveriam ser ainda mais baratos do que os encontrados no mercado pela compra em grande quantidade -, a reportagem indica que a licitação foi vencida pela empresa contra quatro concorrentes que tinham preços mais baixos.

A empresa é dos irmãos Fabiano Ribeiro da Silva e Giuliano Ribeiro da Silva, pertencentes a uma família de apoiadores do vereador Rodrigo Goulart (PSD), que em janeiro assinou um pedido de abertura de uma CPI contra ONGs que prestam assistência a moradores de rua. Sabidamente a proposta visava intimidar o padre Julio Lancellotti que distribui comida gratuita e de qualidade. Mesmo quando muito vereadores tiraram apoio a proposta, Goulart manteve.

Sobre o caso, ele afirma ao UOL que não tem sentido ligar o apoio à CPI ao caso, pois “não sabia que a Prime havia sido contratada”, ainda que mantenha uma relação de amizade com a família.

Concorrência?

Uma das concorrentes no leilão indica benefícios a Prime Alimentação e Eventos e imposição de dificuldades pela pregoeira para dificultar a participação dos demais.

Foram solicitadas disposições das empresas que não estavam no edital, como a exigência de sede em São Paulo e prazo para iniciar os trabalhos – este último nem mesmo foi cumprido pela vencedora. O preço da Prime foi 340% maior do que o mais barato disposto no leilão, o que fere o princípio da economicidade.

Para completar, os preços foram reajustados no ano passado com a renovação do contrato.

Outro descaso com o dinheiro público é que no mesmo contrato a Prefeitura fez compras para a Operação Altas Temperaturas, o que turbinou os repasses.

Por dia de operação a Prefeitura paga R$ 143 mil ao bufê Prime, sendo que a estimativa de gasto com a logística chega a 3% desse valor.

*Informações UOL. Edição Vermelho, Murilo da Silva.

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