Israel evacua áreas humanitárias enquanto negociações de cessar-fogo prosseguem
Delegações de negaciadores se reúnem pelo segundo dia seguido em Doha, no Catar. Israel segue provocando Oriente Médio enquanto aguarda retaliação iraniana
Publicado 16/08/2024 16:21 | Editado 19/08/2024 16:14
O exército israelense determinou a retirada da população palestina na Faixa de Gaza de áreas consideradas como zona humanitárias e o início de uma operação nos bairros de Khan Younis e Deir al-Balah.
A ordem das Forças de Defesa Israelense (IDF, na sigla em inglês) ocorre em meio ao segundo dia de negociações, em Doha, no Catar, para um cessar-fogo e troca de reféns. Os negociadores procuram chegar a um acordo para evitar a retaliação iraniana.
“Devido a muitos atos de terrorismo, à exploração da zona humanitária para atividades terroristas e ao lançamento de foguetes contra Israel a partir dos bairros no norte de Khan Younis, permanecer nesta área se tornou perigoso”, afirmou a IDF em suas redes sociais.
As áreas em que Israel retirou o rótulo de zonas humanitárias são conhecidas pelo seu máximo nível de adensamento populacional. Bairros como al-Qarara, al-Mawasi, al-Jalaa, Hamad City e al-Nasser, em Khan Younis, e os blocos 89-2356, em Deir al Balah, possuem 1,7 milhões de refugiados internos, de acordo com organizações internacionais humanitárias como a Oxfam.
Na última terça (13), a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio (UNRWA, na sigla em inglês) informou que aproximadamente 84% do território de Gaza está sob ordens de evacuação desde 7 de outubro.
A punição do governo de extrema direita do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ao povo palestino, após os atentados do Hamas no dia 7 de outubro, atingiu a marca de 40 mil mortos da população na Faixa de Gaza.
O jornal Haaretz levantou que o número de palestinos assassinados desde o início da guerra, 2% de toda população do enclave árabe, representa o mais sangrento massacre do século 21.
Panfletos avisam população que ainda na se evacuou
Aviões israelenses lançaram milhares de folhas com avisos para a população dos respectivos bairros que ainda não se deslocaram iniciem a evacuação.
“A todos os moradores e deslocados que ainda estão presentes nos Blocos: 899, 2356, 36, 127, 126 e 25, nos bairros a leste de Deir Al-Balah, Al-Qarara, Al-Mawasi. Al-Jalaa, cidade de Hamad e Al-Nasr: a IDF agirá com força contra organizações terroristas em sua área. Para sua segurança, você deve evacuar imediatamente para a nova zona humanitária”, afirma o aviso, assinado pelas IDF.
Os blocos citados possuem uma área de 12,25km2, extensão aproximada de cidades como Jundiaí (SP), Anápolis (GO) e Petrolina (PE).
Os recorrentes deslocamentos forçados pelo exército israelense em sintonia com o cenário de devastação por toda a faixa dão um tom de distopia para a tragédia vivida pelo povo palestino.
Segundo dia de negociações em Doha para um cessar-fogo
Nesta sexta, o segundo dia de negociações para alcançar um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, uma declaração conjunta de Qatar, Estados Unidos e Egito afirma que os americanos apresentaram uma proposta para Israel e Hamas.
“A proposta trabalha em aspectos sobre os quais houve entendimento na semana passada e preenche as lacunas restantes para permitir uma rápida implementação do acordo”, afirmou a Casa Branca em um comunicado, também assinado pelos mediadores Qatar e Egito.
O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que “estamos mais perto do que nunca” de um cessar-fogo, “mas ainda não chegamos lá”. “Não quero agourar nada… podemos ter alguma coisa”, afirmou a repórteres no Salão Oval da Casa Branca. “Está muito, muito mais perto do que há três dias. Então, cruzem os dedos.”
Dirigentes do Hamas, contudo, declararam à AFP nesta sexta que não aceitarão as “novas condições” de Israel na proposta apresentada durante as conversas em Doha. Tais exigências incluiriam manter tropas israelenses na Faixa de Gaza ao longo da fronteira com o Egito, disse um dos envolvidos, que pediu anonimato.
Um alto comandante do Hamas disse à agência de notícias Reuters que a proposta dos EUA não cumpre pontos combinados no último encontro, em 2 de julho.
Retaliação iraniana
Na última terça, três autoridades iranianas disseram ao jornal israelense Times of Israel que somente um acordo de cessar-fogo impediram o Irã de retaliar diretamente contra Israel pelo assassinato do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerã.
Segundo o jornal israelense, uma das fontes afirmou que o Irã, junto com aliados como o grupo Hezbollah, do Líbano, lançaria um ataque direto se as negociações para um acordo de cessar-fogo e liberação de reféns entre Israel e Hamas falharem ou se perceber que Israel está prolongando as negociações.
As fontes não disseram quanto tempo o Irã permitiria que as negociações avançassem antes de tomar uma ação. Além disso, o país estaria envolvido em intenso diálogo com países ocidentais e os Estados Unidos nos últimos dias sobre maneiras de calibrar a retaliação.