Kamala Harris faz primeiros comícios com vice em estados-pêndulo

Na Filadélfia (Pensilvânia), Kamala e Walz fizeram a primeira aparição pública depois da confirmação das candidaturas. Nesta quarta (7), a dupla discursou em Wisconsin e Michigan

Foto: Reprodução

O Partido Democrata dos Estados Unidos deu início nesta quarta (7) à campanha eleitoral com sua chapa à presidência finalmente definida. A candidata à presidência Kamala Harris e seu vice, Tim Walz, visitaram três estados-pêndulo, decisivos na história da corrida à Casa Branca, e deram contornos de como será a retórica da campanha.

A comitiva passou pela Filadelfia, na Pensilvânia, na terça (6), e deu o pontapé inicial em Eau Claire, em Wisconsin, e Detroit, no Michigan, nesta quarta.

O Comitê Nacional Democrata (DNC) oficializou nesta segunda (5) o nome da atual vice-presidente, depois que Kamala obteve o apoio de 4.567 delegados do partido, 99% do total, em uma votação interna, feita de forma online ao longo de cinco dias.

Nesta terça (6), a atual vice-presidente anunciou seu convite ao governador do Minnesota, Tim Walz. À noite, a dupla democrata fez a primeira aparição pública, em um comício realizado na Pensilvânia.

A Pensilvânia (19 delegados) é um dos estados-pêndulo (swing states, em inglês) do país, com poder de decidir as eleições presidenciais. É também o caso de Wisconsin (10 delegados) e Michigan (15 delegados), vizinhos a Minnesota, onde governa Tim Walz; Arizona (11 delegados), Geórgia (16 delegados) e Nevada (6 delegados).

No comício na Pensilvânia, Kamala aceitou formalmente a nomeação: “Estou diante de vocês hoje para anunciar com orgulho que sou agora, oficialmente, a candidata democrata a presidente dos Estados Unidos”, disse Kamala. “E agora temos trabalho a fazer. Precisamos ir para as eleições gerais e ganhar isso”, complementou.

A candidata apareceu na passarela rumo ao púlpito ao lado de um sorridente e enérgico Tim Walz, diante de 14 mil pessoas no Liacouras Center, na cidade de Filadélfia. A escolha da cidade foi estratégica uma vez que ela possui a maior quantidade de eleitores do estado da Pensilvânia, além de fazer divisa com New Jersey, outro importante estado americano, perto de Nova York.

Antes, o governador da Pensilvânia, Josh Shapiro, que foi preterido por Kamala na escolha para vice, fez abertura do comício e apoiou Walz, dizendo que é “um grande homem e um grande patriota”. Kamala agradeceu a Shapiro e disse que “juntos, com Josh Shapiro, vamos vencer na Pensilvânia”.

Waltz foi o primeiro da chapa a falar no Liacouras Center, disse estar “orgulhoso” em compor a chapa democrata e exaltou Kamala por enfrentar “fraudadores”, desmantelar “gangues internacionais”, e se opor “às grandes empresas”.

O discurso de Walz foi enfático nos ataques a Trump, afirmando que o republicano “não tem ideia do que significa trabalhar pela América” e que defende apenas os seus próprios interesses. “Donald Trump vê o mundo de maneira um pouco diferente de nós. Em primeiro lugar, ele não sabe nada sobre servir as pessoas. Ele não tem tempo para isso porque está muito ocupado servindo a si mesmo”, criticou.

O comportamento de Walz foi elogiado por quadros democratas e as primeiras horas desde a formação da dupla empolgou os apoiadores, que bateram novos recordes de doação financeiras para a campanha.

“Este ingresso é animador”, disse o presidente do partido democrata, Jaime Harrison, sobre a escolha do vice. “Kamala e Walz estão trazendo um nível de energia não apenas para o Partido Democrata, mas acho que para a política americana, que não vemos do outro lado do corredor”, disse se referindo a campanha republicana.

O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama e sua esposa, Michelle, elogiaram a escolha de Kamala.

“Kamala Harris escolheu um parceiro ideal – e deixou claro exatamente o que ela representa. O governador Walz não tem apenas a experiência para ser vice-presidente, ele tem os valores e a integridade que nos deixam orgulhosos”, disse o casal

Walz joga “em casa” durante comício em Wisconsin

Após a passagem pela Pensilvânia, a campanha democrata seguiu para mais outros dois estados pêndulos. Nesta quarta (4), Kamala Harris e Tim Walz cumpriram agenda em Eau Claire, em Wisconsin, e depois aterrisaram em Detroit, em Michigan.

Em Wisconsin, a dupla jogou como mandante, uma vez que o estado é governado pelo democrata Tony Evers. O estado faz fronteira com Minnesota, onde o vice de Kamala é governador.

“Eu vivia em um distrito vermelho [republicano]”, comentou Walz ao estabelecer a diferença entre ele e a ala republicana que tomou o partido desde a chegada de Donald Trump.

“Mas meus vizinhos foram gentis comigo ao ponto de me darem um assento na Câmara dos Deputados por 12 anos. Eu aprendi a me comprometer [com meu eleitorado republicano], sem comprometer meus valores”, disse. “E como governador de Minnesota eu trouxe toda essa experiência”.

Nesse momento, Walz foi interrompido por gritos eufóricos da plateia ao citar o nome do seu estado. “Ok, ok… tem gente de Minnesota na casa aqui hoje?”, brincou, sendo recepcionado por muitos “yeah”.

“Sendo do Meio-Oeste, sei algumas coisas sobre o compromisso com o povo americano”, disse o democrata de Minnesota. “Esta é uma campanha sobre para onde estamos indo e esse é um futuro onde todos são importantes, todos estão incluídos”, disse Walz.

Além de representar uma força regional, do Meio-Oeste, o governador de Minnesota tem grande apelo entre eleitores do meio rural ao representar em seus mandatos como deputado um distrito agrícola, assim como entre os militares, que tiveram seus direitos defendidos por ele.

Waltz tem trânsito em setores entendidos como conservadores, que são essencialmente a base do concorrente, Donald Trump. A expectativa é que a escolha possa ajudar a atrair de volta eleitores trabalhadores que se afastaram dos democratas nas últimas eleições e auxiliaram Trump, em 2016.

Apesar dessas tendências de Walz, ele deve agregar mais junto aos eleitores indecisos do que para ‘roubar’ votos de Trump. O governador tem sólida formação democrata com programas voltados para ampliação do acesso à saúde, para organizações sindicais e ainda emplacou uma lei que garantiu o direito ao aborto no Estado que comanda.

“Conheço tipos como Trump”, diz a antiga procuradora

Logo após seu discurso, Walz deu lugar para a cabeça de chapa, Kamala Harris, ter seu primeiro contato com a população de Wisconsin. Em coro com o público, a atual vice-presidente agradeceu a Joe Biden pela indicação e serviços prestados aos Estados Unidos e afirmou que o país “não vai retroceder”, um mantra da campanha democrata.

Procuradora em São Francisco e na Califórnia, Kamala tem explorado o fato de o ex-presidente Donald Trump ter recorrentes problemas na Justiça americana.

Em Eau Claire, Kamala afirmou que “a Suprema Corte basicamente disse que o ex-presidente seria imune não importa o que ele faça na Casa Branca”. Em julho, a Suprema Corte decidiu que Trump tem direito a uma imunidade presidencial limitada em processos criminais que enfrenta. A decisão foi tomada por 6 votos a favor e 3 contra.

“Pensem no que isso significa. O ex-presidente já declarou abertamente que, se reeleito, se comportaria como um ditador desde o 1º dia”, afirmou. A democrata declarou ainda que “alguém que sugere que deveríamos acabar com a Constituição dos EUA nunca deveria ter a chance de ocupar o cargo de presidente dos Estados Unidos”.

Trump enfrenta várias acusações a nível estadual e federal relacionadas com os seus negócios, o tratamento de documentos confidenciais dos EUA e as suas tentativas de anular os resultados das eleições de 2020.

“Como procurador-geral, responsabilizei os grandes bancos de Wall Street por fraude”, disse Harris. “Donald Trump acaba de ser considerado condenado por fraude. Através desta campanha, terei orgulho de comparar meu histórico com o dele a qualquer momento”, completou.

“Eu conheço o tipo de Donald Trump, na verdade, tenho lidado com homens como ele durante toda minha carreira”, disse ela.

A candidata ainda acalmou os gritos que pediam a prisão do ex-presidente Donald Trump. Um coro gritou “prenda ele, prenda ele, prenda ele”, ao passo que a democrata disse que “os tribunais vão cuidar dessa parte”.

“Bem, espere, sabe de uma coisa? Os tribunais vão cuidar dessa parte. O que vamos fazer é derrotá-lo em novembro”, respondeu ela, provocando uma nova e forte reação do público.

Expansão da classe média e críticas ao playboy Trump

Na segunda parte da agenda democrata, Kamala Harris e Tim Walz desembarcaram em Detroit, no Michigan, outro estado-pêndulo. A cidade é conhecida por conter muitos ex-operários de montadores de veículos que se evadiram para a China, em busca de benefícios fiscais.

Em 2016, o estado deu vitória a Donald Trump depois de 28 anos de domínio democrata. Mas em 2020, por uma pequena margem (50,6% – 47,8%), o estado voltou a ser azul.

No Aeroporto Metropolitano de Detroit, Harris e Walz apresentaram a sua mensagem de proteção da democracia, da classe média e dos direitos reprodutivos no que dizem ter sido o maior comício da campanha.

“Quando eu for presidente, será minha prioridade do primeiro dia lutar para baixar os preços [inflação], enfrentar as grandes corporações que se envolvem em fraudes ilegais de preços, enfrentar os proprietários corporativos que aumentam injustamente os aluguéis das famílias trabalhadoras, enfrentar as grandes empresas farmacêuticas. e limitar o custo dos medicamentos prescritos para todos os americanos”, disse Harris.

“Ao contrário de Donald Trump, sempre colocarei a classe média e as famílias trabalhadoras em primeiro lugar”, disse ela. “Quando a classe média é forte, a América é forte”, completou. “Se for eleito, Donald Trump pretende conceder incentivos fiscais a bilionários e grandes corporações. Ele pretende cortar a Seguridade social e o Medicare, pretende renunciar à nossa luta contra a crise climática e pretende acabar com a Lei de Cuidados Acessíveis”, disse.

Autor