5ª Conferência de CT&I e o papel do Estado no desenvolvimento científico
A ministra Luciana Santos mencionou os desafios e oportunidades no novo ciclo político, com um projeto nacional com foco em ciência aberta e compartilhamento de patentes
Publicado 01/08/2024 17:59 | Editado 02/08/2024 10:21
A 5ª Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação sublinhou a importância do Estado como facilitador e financiador de iniciativas essenciais ao desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. Investimentos públicos em pesquisa e inovação são cruciais para superar desafios estruturais e promover avanços em áreas como saúde, agricultura e energia. Políticas públicas que incentivam a colaboração entre universidades, centros de pesquisa e a indústria são fundamentais para transformar o conhecimento em inovação prática, enquanto um ambiente regulatório favorável e incentivos são necessários para estimular o setor privado.
A sessão plenária desta última manhã de conferência contou com a presença da ministra de Estado da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos. Entre os palestrantes estavam Alexandre Colares, secretário de governança e gestão estratégica da Advocacia Geral da União (AGU), representando o ministro Jorge Messias, e Cristina Mori, ministra substituta do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos. Contribuindo online, Mariana Mazzucato, professora da University College London e diretora fundadora do Institute for Innovation and Public Purpose, também participou. Entre os debatedores estavam Álvaro Prata, da Embrapii, e Francilene Garcia, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Importância da competência governamental
Fernanda De Negri, diretora de estudos setoriais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), moderou a mesa de debate destacando a complexidade e a importância do papel do Estado no desenvolvimento científico e tecnológico. “O mercado por si só gera e perpetua desigualdades e pode causar impactos ambientais prejudiciais para a sociedade. Além disso, o mercado tende a gerar subinvestimento em pesquisa e desenvolvimento, não promovendo o desenvolvimento econômico necessário”, observou De Negri.
Ela ressaltou que, embora o mercado tenha suas falhas, o governo também não está imune a erros. “Discutir qual é o Estado que queremos e que é necessário para o desenvolvimento tecnológico é de suma importância”, afirmou. De Negri enfatizou a necessidade de competências dentro do governo para definir focos e prioridades, bem como para desenhar e avaliar políticas públicas eficazes.
Desafios contemporâneos e a Nova Indústria Brasil
A ministra Luciana Santos destacou a importância da ciência e tecnologia para o desenvolvimento do Brasil, mencionando os desafios e oportunidades no novo ciclo político sob a liderança do presidente Lula. Santos enfatizou a necessidade de um projeto nacional de desenvolvimento que responda aos desafios contemporâneos, com foco em ciência aberta e compartilhamento de patentes.
Ela também mencionou o papel decisivo da Embrapii e iniciativas como a Nova Indústria Brasil (NIB). “Precisamos de uma agenda arrojada de industrialização baseada em novas bases tecnológicas”, destacou. A ministra abordou a questão do financiamento e a necessidade de marcos legais que suportem a ciência e a inovação, citando os esforços da FINEP e a importância dos parques tecnológicos e do Plano de Apoio ao Desenvolvimento da Indústria de Semicondutores (PADIS).
O papel do Estado e as missões na inovação
Mariana Mazzucato apresentou uma palestra sobre o papel do Estado na inovação e o conceito de missões para o desenvolvimento tecnológico. Ela destacou a importância de uma abordagem coletiva e colaborativa entre o setor público, privado e a sociedade civil para enfrentar os desafios globais. “Precisamos de uma estrutura governamental que apoie efetivamente essas colaborações”, afirmou.
Mazzucato criticou a baixa taxa de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) por parte das empresas no Brasil, propondo uma abordagem de economia política orientada por missões que envolva todos os ministérios.
O papel do Estado no desenvolvimento científico e tecnológico
Alexandre Colares enfatizou a importância da ciência e da tecnologia no desenvolvimento sustentável do Brasil. Ele defendeu um Estado resiliente e empreendedor, que possa responder de forma ágil e eficiente às crises imprevisíveis. Colares mencionou iniciativas históricas e contemporâneas do Estado no desenvolvimento tecnológico e destacou a importância das alianças entre academia e empresas.
Burocracia que inibe o avanço científico e tecnológico
Cristina Mori destacou a necessidade de recuperação, expansão e consolidação do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI), além da importância da reindustrialização e da inovação nas empresas. Ela enfatizou a necessidade de um Estado resiliente e responsivo, capaz de superar a burocracia que inibe o avanço científico e tecnológico.
Mori abordou as transições ecológica e digital, destacando a importância de processos inclusivos que não deixem ninguém para trás. Ela ressaltou o valor dos conhecimentos tradicionais e acadêmicos, defendendo um diálogo entre ciência e saberes comunitários.
Urgências e fragilidades do Brasil
O debate final destacou a necessidade de um Estado atuante e eficiente para abordar questões emergenciais, como desigualdades sociais e saneamento básico. A ministra Luciana Santos enfatizou a importância da reindustrialização e da formalização do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCTI). Representantes dos povos indígenas ressaltaram a importância da inclusão dessas comunidades no desenvolvimento.
A conferência concluiu que a formalização e organização do SNCTI, a reindustrialização, a formação de gestores e a inclusão de todos os segmentos da sociedade são passos essenciais para o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil, promovendo um futuro mais próspero e inclusivo.