Copom deve manter Selic em 10,50%, mas sinaliza alta futura

Reunião do BC desta quarta-feira (31) discute taxa de juros; mercado prevê estabilidade, mas deterioração econômica pode levar a tom mais duro no comunicado.

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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) inicia nesta terça-feira (30) sua quinta reunião do ano para discutir a taxa básica de juros, a Selic. A expectativa do mercado financeiro é que a taxa seja mantida nos atuais 10,50% ao ano, segundo levantamento da Bloomberg com economistas.

Apesar da manutenção esperada, o Copom deve emitir um comunicado mais rígido sobre a deterioração do cenário econômico, indicando a possibilidade de aumento na Selic em futuras decisões, conforme especialistas.

Na última reunião, em junho, o Copom decidiu interromper o ciclo de cortes da taxa, mesmo sob pressão do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para reduzi-la. Desde o início de seu mandato, em janeiro de 2023, quando a Selic estava em 13,75% ao ano, a taxa foi reduzida até atingir 10,5% ao ano em maio, após seis reduções de 0,5 ponto percentual e uma de 0,25 ponto.

Os fatores que pesam na decisão atual incluem a deterioração das expectativas de inflação, incertezas quanto ao cumprimento do arcabouço fiscal e um câmbio mais desvalorizado. Thaís Zara, economista sênior da LCA Consultores, destaca que “os modelos do Banco Central indicam uma inflação ainda elevada nos próximos dois anos, e isso dificulta a redução da Selic.”

O IPCA-15 de julho registrou desaceleração para 0,30%, acima das expectativas do mercado. O grupo alimentação e bebidas contribuiu para a desaceleração, enquanto transportes tiveram alta significativa. Nos últimos 12 meses, o IPCA-15 acumulou ganho de 4,45%, também acima das expectativas.

A expectativa de inflação para 2023 aumentou de 4% para 4,05%, enquanto a previsão para a Selic permanece em 10,5% para este ano, com reduções previstas para 9,5% em 2025 e 9% em 2026 e 2027. Essa previsão foi registrada no Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (29) pelo Banco Central.

Até o fim do ano, quando termina o mandato de Roberto Campos Neto, o Copom realizará mais três reuniões. Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, avalia que a possibilidade de aumento na Selic é maior do que a de redução devido à turbulência econômica e fiscal.

O Índice de Atividade Econômica do BC (IBC-Br) subiu 0,25% em um mês, o que pode influenciar uma postura mais conservadora do Banco Central, segundo Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências.

As tensões políticas nos EUA e as incertezas sobre a saúde fiscal do Brasil também influenciam o câmbio, mas o cenário doméstico é considerado mais determinante. Zara, da LCA Consultores, ressalta a importância da consolidação fiscal para a estabilização econômica.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou um bloqueio de R$ 11,2 bilhões e contingenciamento de R$ 3,8 bilhões no orçamento como tentativa de cumprir o arcabouço fiscal, mas medidas mais robustas são necessárias, segundo Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim.

Para os especialistas, a comunicação do Banco Central será crucial para coordenar as expectativas do mercado. O comunicado deve indicar um balanço de riscos em deterioração, sinalizando que o Copom pode reagir com um aumento da Selic se a situação econômica piorar.

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com informações de agências

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