Cerimônia celebra em agosto a chegada do Manto Tupinambá ao Brasil

A cerimônia terá início no dia 29 de agosto com uma primeira etapa de celebração, onde lideranças espirituais Tupinambá e pajés realizarão atividades de acolhimento, proteção e bênçãos ao manto sagrado.

Peça foi para a Dinamarca há 335 anos, em 1689. Museu Nacional da Dinamarca

O Ministério dos Povos Indígenas realizará entre os dias 29 e 31 de agosto uma cerimônia para celebrar a chegada do manto Tupinambá ao Brasil. O evento, organizado em parceria com o Museu Nacional e representantes do povo indígena Tupinambá, será realizado no próprio Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Para o Museu, o retorno do manto faz parte do trabalho de recomposição da coleção etnográfica após o incêndio que atingiu o prédio em 2018.

A chegada do manto Tupinambá ao Brasil e a cerimônia planejada para celebrar este momento simbolizam um importante passo na valorização e preservação do patrimônio cultural indígena. A devolução de artefatos históricos reforça a importância da colaboração internacional e do respeito aos direitos e tradições dos povos indígenas.

A peça, devolvida pela Dinamarca após mais de 300 anos, chegou ao Brasil no dia 11 de julho de 2023. A devolução foi resultado da articulação entre instituições dos dois países, incluindo a Embaixada do Brasil na Dinamarca, o Museu Nacional e lideranças Tupinambá da Serra do Padeiro e de Olivença, na Bahia.

Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, uma visita de representantes da pasta ao território Tupinambá na Serra do Padeiro e em Olivença, entre 1º e 4 de abril de 2023, permitiu escutar as lideranças da comunidade sobre a importância do manto, que é considerado um ancestral e possui grande valor religioso. As lideranças foram consultadas sobre a relação com o manto e o contato com o artefato foi viabilizado.

Para o dia 5 de agosto, está previsto um novo diálogo articulado pela Secretaria de Articulação e Promoção de Direitos Indígenas, com a presença do diretor do Museu Nacional, Alexandre Kellner, para preparar os detalhes da cerimônia.

Programação da cerimônia

A cerimônia terá início no dia 29 de agosto com uma primeira etapa de celebração, onde lideranças espirituais Tupinambá e pajés realizarão atividades de acolhimento, proteção e bênçãos ao manto sagrado. Esta “reza ao manto” será fechada e ocorrerá na Biblioteca Central, no Horto Botânico. No dia 31 de agosto, a apresentação do manto ao público será realizada às 10h, no mesmo local, com a presença da ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, representantes do povo Tupinambá, dos governos do Brasil e da Dinamarca, e do Museu Nacional. Durante os três dias, os povos indígenas estarão em vigília nos jardins da Quinta da Boa Vista.

Glicéria Tupinambá em encontro com o manto de seus ancestrais no Museu Nacional da Dinamarca, em Copenhague, em 2022. — Foto: Renata Cursio Valente/Setor de Etnografia e Etnologia do Departamento de Antropologia do Museu Nacional (URFJ)

Importância do manto tupinambá

O manto Tupinambá, que possui 1,80m de altura e é feito com milhares de penas vermelhas de pássaros guará tecidas sob uma técnica praticamente extinta, estava no Museu Nacional da Dinamarca desde 1689. Ele foi provavelmente produzido quase um século antes. Para os Tupinambá, que foram um dos primeiros povos indígenas a ter contato com europeus, o manto representa um ancestral sagrado e tem importância maior que outros artefatos históricos. A devolução do manto representa um marco na restituição de patrimônios culturais aos povos indígenas.

Segundo a pesquisadora Amy Buono, há outros dez mantos semelhantes em museus europeus, o que o torna um artefato raríssimo. O Museu Nacional da Dinamarca abriga quatro, além do que foi devolvido ao Brasil. Outros estão no Museu de História Natural da Universidade de Florença, no Museu das Culturas em Basileia, no Museu Real de Arte e História em Bruxelas, no Museu du Quai Branly em Paris e na Biblioteca Ambrosiana de Milão.

Iniciativas de restituição

O Ministério dos Povos Indígenas desenvolve recomendações para que povos indígenas tenham acesso a bens culturais em museus nacionais ou no exterior. O Grupo de Trabalho de Restituição de Artefatos Indígenas, criado em 2023, conduz este processo.

Recentemente, a Alemanha devolveu ao Brasil um fóssil de dinossauro retirado ilegalmente do Ceará, considerado de importância ímpar para a paleontologia brasileira. A Funai também anunciou a devolução de 611 artefatos indígenas que estavam irregularmente no Museu de Lille, na França, e que agora voltarão ao Museu do Índio.

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