Brasil reage a uso indevido de dados pelo X de Elon Musk

Após o procedimento aberto contra a Meta, a ANPD fica alerta com abusos do X, que sequer pede autorização aos usuários para usar seus dados

Elon Musks anuncia sua 'GROK AI' baseada nos dados de usuários do X.

Nesta segunda-feira (29), a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) informou que instaurou um procedimento de fiscalização para apurar a conduta da rede social X (anteriormente conhecida como Twitter). A investigação visa esclarecer o uso de dados dos usuários para treinar seu sistema de inteligência artificial generativa, Grok, que pretende competir com o ChatGPT, conforme os planos do proprietário da rede, Elon Musk.

A ação da ANPD ocorre após um episódio similar envolvendo a Meta, que resultou em uma Medida Preventiva emitida em 2 de julho, determinando a suspensão imediata da nova política de privacidade da empresa no Brasil. O sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC), em entrevista ao Portal Vermelho, já havia destacado a importância de limitar essas práticas, elogiando a decisão da Agência por trazer à tona a questão da extração não autorizada de dados para treinamento de modelos de aprendizado de máquina.

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Amadeu alertou sobre os riscos do tratamento e cruzamento de dados sem o conhecimento dos usuários. Utilizando a metáfora da radiação, ele explicou que dados dispersos representam pouco risco, mas, quando concentrados em grande volume, podem ser extremamente perigosos. As grandes empresas de tecnologia acumulam dados massivamente, conferindo-lhes um poder significativo sobre o comportamento dos usuários.

A prática aplicada pelo X foi implementada discretamente, apenas com uma atualização na página de configurações, onde os usuários podem permitir ou não o uso de suas postagens e interações para treinar a IA. Entretanto, a opção vem ativada por padrão.

Precedente Zuckerberg

A Meta, que é proprietária do WhatsApp, Facebook e Instagram, foi impedida pela ANPD de usar dados públicos para treinar sua IA no início de julho, uma medida também adotada pela União Europeia. A empresa, liderada por Mark Zuckerberg, adiou o lançamento de sua IA tanto na Europa quanto no Brasil devido a essas restrições.

Em resposta à medida da ANPD, a Meta expressou decepção, argumentando que “o treinamento de IA não é exclusivo de nossos serviços” e que a abordagem da empresa estava em conformidade com as leis de privacidade e regulamentos brasileiros. Especialistas no cenário de privacidade no Brasil, como Amadeu, discutem que a ANPD deveria adotar uma postura similar em relação a outras grandes empresas de tecnologia, como o Google, que mudou sua política de privacidade no ano passado para práticas semelhantes.

Na sexta-feira (26), a ANPD foi questionada por jornalistas sobre possíveis ações contra o X e como responder às críticas. A autoridade informou nesta segunda-feira (29) que enviou um ofício na própria sexta-feira solicitando esclarecimentos à empresa.

A medida contra a Meta foi tomada após o Instituto de Defesa dos Consumidores (Idec) acionar uma autarquia ligada ao Ministério da Justiça. A ANPD concluiu que não havia base legal para o tratamento de dados pessoais para treinamento de IA, faltou divulgação suficiente sobre a mudança nas regras da Meta, e que os usuários enfrentaram dificuldades para se opor ao uso de seus dados pessoais. Além disso, dados de crianças e adolescentes foram tratados para essa finalidade, em desacordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

Em nota, o Idec expressou indignação com mais uma grande empresa de tecnologia explorando consumidores para fins econômicos. Eles criticaram a prática de pré-seleção da opção de uso de dados para IA, defendendo que o consentimento deveria ser explícito, livre e informado, o que não ocorre no caso concreto.

A falta de transparência no tratamento de dados é um problema global, segundo Amadeu. Ele compara as multas no Brasil, de R$ 50 mil, com as penalidades milionárias na Europa por violações semelhantes, onde a transferência de dados sensíveis para fora das fronteiras é restrita. Para resolver esses problemas, Amadeu sugere a aprovação de uma lei específica de regulação das plataformas que defina claramente quais dados podem ser usados para treinar modelos de IA.

O sociólogo também critica a postura da Meta, e de outras bigtechs, ao afirmar que a suspensão prejudicaria a inovação no Brasil, chamando-a de “falaciosa”. Ele destaca a necessidade de controlar o uso de dados, especialmente os sensíveis e de crianças, e menciona o conceito de “capitalismo de vigilância” de Shoshana Zuboff, alertando sobre os perigos da transformação de cliques e comportamentos dos usuários em dados valiosos para as corporações.

O controle massivo de dados pelas grandes empresas de tecnologia também levanta questões de segurança nacional, segundo Amadeu. Ele alerta que essas empresas têm uma compreensão profunda dos humores e comportamentos da população brasileira, conferindo-lhes um poder de influência potencialmente perigoso. O sociólogo conclui enfatizando a necessidade de controlar os dados pessoais, criticando o argumento das empresas de que a coleta de dados é benéfica para os usuários.

Para impedir a coleta de dados pelo X para IA, os usuários devem acessar sua conta pelo computador, ir até “Configurações”, clicar em “Privacidade e Segurança”, selecionar “Grok” e desabilitar o “Compartilhamento de dados”.

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