Fepal celebra papel da China e reconciliação histórica entre palestinos

Documento da organização latino-americana ressalta o papel moral e ético dos BRICS, em contraponto a países imperialistas que continuam alimentando o genocídio.

14 organizações palestinas estiveram em Pequim para o acordo de unidade política

A Federação Palestina da América Latina (FEPAL) expressou seu apoio ao acordo histórico entre as principais forças políticas palestinas, incluindo Fatah e Hamas, anunciado pela China, destacando o impacto positivo para a resistência e unidade do povo palestino.

Em uma surpreendente virada geopolítica, a China anunciou a reconciliação de 14 organizações de diferentes espectros ideológicos. O evento, que marca a segunda vez neste ano que a reconciliação palestina é discutida em Pequim, culminou na Declaração de Pequim sobre o Fim da Divisão e o Fortalecimento da Unidade Nacional Palestina. Este documento proclama a unidade dentro dos marcos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) e a formação de um governo de unidade nacional.

Em nota pública, a FEPAL fez as seguintes considerações:

Interesses da ocupação sionista: A divisão palestina tem beneficiado a ocupação colonial sionista mais do que as armas ocidentais. A atual fase de genocídio em Gaza resultou na morte de quase 50 mil civis em nove meses, incluindo 20 mil crianças e 12 mil mulheres. A estimativa é que o número total de mortes possa chegar a 200 mil, conforme publicado na revista médica The Lancet.

Papel da China e dos BRICS: O acordo foi mediado pela China, uma potência global que desafia a hegemonia colonial e imperialista ocidental. A China, junto com Brasil, Rússia, Índia e África do Sul, forma os BRICS, que promovem um mundo multilateral onde o Direito Internacional guia as relações internacionais.

Independência das potências ocidentais: Pela primeira vez, a Questão Palestina foi tratada fora das metrópoles coloniais e imperialistas. A China, sem envolvimento histórico na Nakba ou no genocídio palestino, possui a legitimidade moral, ética e política que falta ao ocidente.

Apoio da Rússia e dos BRICS: O acordo também é resultado dos esforços da Rússia, que junto com a China e outros membros dos BRICS, se opõe ao genocídio palestino em Gaza e defende um estado palestino livre e soberano.

Rejeição do Ocidente: Os palestinos voltam-se contra o ocidente, seu algoz histórico, que nunca mediou uma solução honesta para a Palestina. Em vez disso, buscam apoio nos BRICS, que não fornecem armas para o extermínio do povo palestino.

Contexto internacional favorável: A reconciliação ocorre em um momento de reação global contra o genocídio palestino. Desde manifestações de milhões nas ruas até decisões do Conselho de Segurança da ONU, que ordenou um cessar-fogo contra a vontade dos EUA, e investigações da Corte Internacional de Justiça e do Tribunal Penal Internacional sobre crimes cometidos por Israel.

O acordo de reconciliação e a formação de um governo de unidade são vistos como passos cruciais para o estabelecimento de um estado palestino soberano, laico, democrático e próspero, regido pelo império da lei e pela supremacia dos direitos humanos.

A FEPAL acredita que a unidade nacional encerrará a ocupação, permitirá o retorno dos refugiados, acabará com o apartheid sionista e a limpeza étnica, e promoverá a reconstrução de Gaza e de toda a Palestina.

Leia a íntegra da nota:

Unidade palestina em tempos de genocídio e BRICS

23/07/2024

O mundo foi novamente surpreendido pelo papel geopolítico da China, que ontem anunciou a reconciliação entre as forças políticas palestinas, desde as predominantes Fatah, a maior na OLP (Organização para a Libertação da Palestina), e Hamas, somadas a mais outras 12 denominações de diferentes espectros ideológicos, quase todas do quadro histórico da OLP. É a segunda vez, neste ano, que a reconciliação palestina é debatida em Pequim, agora com o anúncio, na cerimônia que hoje encerrou as negociações, da Declaração de Pequim sobre o Fim da Divisão e o Fortalecimento da Unidade Nacional Palestina, que proclama a unidade nos marcos da OLP e a construção de governo de unidade nacional.

Saudamos, a partir desta diáspora brasileiro-palestina, o encerramento irracional da divisão política e geográfica da resistência e do povo palestino e a restauração da unidade nacional, anseio de todos os palestinos, com as seguintes considerações:

1. A divisão palestina só interessa à ocupação colonial sionista, que dela se beneficia mais do que das armas ocidentais, responsáveis pela atual fase do genocídio palestino em Gaza, com quase 50 mil civis assassinados em 9 meses, 2,23% da demografia do enclave, dos quais 20 mil são crianças e 12 mil mulheres, podendo chegar a 200 mil o total deste extermínio, conforme recentemente publicado em The Lancet.

2. Este acordo é construído, mediado e selado na China, a nova potência global que desafia a hegemonia colonial, imperialista e genocidária ocidental, e país que constrói, com Brasil, Rússia, Índia e África do Sul, os BRICS e um novo mundo, em que o multilateralismo e o Direito Internacional regem as relações entre os países e povos.

3. Assim, é a primeira vez que a Questão Palestina é tratada fora das metrópoles coloniais e imperialistas, bem como fora de alguns países árabes, que nunca tiveram poder e soberania suficientes para afirmarem-se como garantidores de acordos.

4. Mais que isso, a China não está implicada na Nakba, nem patrocina o genocídio palestino desde 1947, ou seja, é país sem as mãos manchadas do sangue palestino e árabe, o que lhe dá a legitimidade moral, ética e política que falta ao “ocidente”, inventor e avalista de “israel” e de seu Apartheid.

5. O acordo alcançado em Pequim é também resultado dos esforços da Rússia, na qual as forças palestinas estiveram em diversas ocasiões e que, ao lado da China e demais BRICS, se opõe ao genocídio palestino em Gaza, pede cessar-fogo desde 8 de outubro e defende um estado palestino livre e soberano.

6. Os palestinos, de outro lado, dão as costas ao “ocidente”, seu algoz, que nunca mediou honestamente uma solução para a Palestina, apenas interferiu para beneficiar “israel”, e voltam ao seu leito histórico, antes representado pelo Movimento dos Países Não Alinhados, no qual a OLP era grande protagonista, agora sob a liderança dos BRICS, países dos quais não saem as armas e munições que exterminam o povo palestino.

7. A reconciliação em Pequim se dá quando em Washington se encontram os genocidas Biden e Netanyahu, em pleno processo eleitoral no qual os EUA escolhem para genocida de plantão entre os sionistas Donald Trump e Kamala Harris, que buscam manter a era dos genocídios, enquanto a Palestina ditará, com seus aliados, o sepultamento dos genocídios e de suas metrópoles.

8. Por fim, o contexto da reconciliação e unidade palestina selada em Pequim é o da reação massiva do mundo contra o genocídio palestino, desde as ruas com milhões ao Conselho de Segurança da ONU, que determinou um cessar-fogo contra a vontade dos EUA e quase admitiu a Palestina como membro pleno – o veto dos EUA impediu, passando pela Corte Internacional de Justiça, que investiga “israel” por genocídio, e pelo Tribunal Penal Internacional, que desde 2021 investiga Netanyahu e outros israelenses por crimes de lesa-humanidade e que agora analisa suas prisões, levando ao banco dos réus tanto o regime israelense quanto o ocidente, algo antes impensável.

É neste grande contexto histórico que, cremos, acontecerão a reconciliação e o governo de unidade, com todos dentro da OLP, a grande casa palestina, e haverá um estado palestino soberano, laico, democrático, próspero, seguro, regido pelo império da lei e pela supremacia dos direitos humanos. A unidade encerrará a ocupação, retornará os refugiados, acabará com o apartheid sionista e sua limpeza étnica, reconstruirá Gaza e toda a Palestina e levará à condenação dos responsáveis pelos crimes de lesa-humanidade, incluída a reparação por toda destruição sofrida pelo povo palestino nestes 77 anos de genocídio.

Palestina Livre a partir do Brasil, 23 de julho de 2024, 77º ano da Nakba.

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